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Moradores de Rondônia desconhecem projetos de
construção das usinas
DA ENVIADA ESPECIAL A PORTO VELHO
Sérgio Santos dos Anjos
tem 22 anos, vista boa, mão
firme para a pescaria, dois irmãos que o ajudam na labuta e
uma grande esperança: a
construção das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, será o marco de uma virada em suas vidas.
"Dizem que a pesca vai acabar. Aí a gente vai ter de procurar pra fora, né?", disse ele à
Folha. "Eu não sou contra a
usina. Ninguém iria gastar
tanto dinheiro pra fazer uma
coisa ruim; eles vão trazer
emprego. Quando acabarem
as obras, a gente se vira."
Luís Vidal Nogueira viveu
mais um pouquinho. Aos 56
anos, seringueiro filho de seringueiro, ele é conhecido na
região da Jaci-Paraná, região
próxima a Porto Velho que será inundada com a construção
das barragens. Faz pouco das
promessas dos empreiteiros.
"Tudo não passa de ilusão. Para nós, daqui, só vai sobrar o
emprego braçal. O de escravo.
Pergunta ao povo de Samuel
se alguém foi indenizado."
A Folha perguntou. Conceição Silvia do Nascimento,
33, unhas vermelhas, vaidade
facilmente percebida pelo
contraste com a camiseta e a
calça jeans puídas. Sua família
morava na região inundada
quando a usina de Samuel tomou o rio Jamari, meados dos
anos 80. "Eles só chegaram e
disseram: vocês têm tantos
dias para sair. Se não sabe assinar, coloca o dedo aí", relatou ela. "Meu pai morreu de
desgosto, igual aos peixes. Tiraram ele da água. Nós nunca
recebemos um tostão: a Eletronorte empurra pro Incra, o Incra diz que é a Eletronorte. Por
isso eu me juntei ao MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens]."
Antes de sair de Jaci-Paraná, a
reportagem encontra o administrador do povoado, umas 1.500
casas, segundo Jurandir Rodrigues Oliveira. "Há menos de dois
anos era a metade. O pessoal está louco com essa história de usina. Está chegando gente de todos os lugares, estão grilando
terreno adoidado aí", disse. O
próprio Oliveira está empolgado. Mas, e se a água subir e inundar a sua casa? Ele continuaria
gostando do projeto? "Aí, não,
né? Aí é diferente."
(JL)
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