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Consumidor já pagou R$ 7 bi pelo apagão
Distribuidoras agora cobram R$ 1 bi de empresas que migraram para o mercado livre de energia, que não impõe sobretarifa
Aneel decide nesta semana se haverá cobrança de consumidoras que se livraram do pagamento ao comprar direto de geradoras
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os consumidores de energia
elétrica pagaram R$ 7 bilhões a
mais nas suas contas de luz, nos
últimos três anos, por conta da
Recomposição Tarifária Extraordinária (RTE). Fruto do
acordo firmado entre geradoras, distribuidoras e o governo
Fernando Henrique Cardoso,
após o apagão, a RTE impôs aos
consumidores, em 2003, um
reajuste extra de tarifas para
cobrir as perdas das empresas
de energia com o racionamento. Agora, eles estão prestes a
levar uma nova tungada.
A Aneel, a agência reguladora
do setor, prepara resolução que
estende a cobrança da RTE a
500 empresas que conseguiram livrar-se dessa sobretarifa
migrando para o mercado livre
de energia, em que ela não incide. A minuta da resolução será
apreciada nesta terça-feira durante reunião da agência.
O mercado livre, onde as geradoras comercializam as "sobras" de energia desde o racionamento, ficou fora da Lei
10.438 de 2002, que criou a
RTE. Na época apenas três empresas consumidoras, entre
elas a Volkswagen, compravam
energia direto das geradoras.
Nos últimos anos centenas
de empresas migraram para esse mercado -em que os preços
obedecem à lei de oferta e demanda e são, hoje, 15% mais
baixos que os do mercado cativo, regulado pelo governo. Essas empresas deixaram de pagar entre R$ 860 milhões e R$ 1
bilhão de RTE, dependendo de
quem faz as contas. Se elas não
pagarem, ameaçam as distribuidoras, a fatura será transferida aos demais consumidores,
que já estão pagando.
Conta extra
Na época em que foi criada a
RTE, foi fixado um aumento
extra de 2,9% para os consumidores residenciais, rurais e iluminação pública e de 7,9% para
os industriais e comerciais.
Desde janeiro de 2003 os primeiros já pagaram R$ 1,9 bilhão
e os segundos, R$ 5,1 bilhões,
segundo dados da Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia).
A Anace afirma que, legalmente, a cobrança não pode ser
estendida a quem compra
energia no mercado livre. "Não
pretendemos defender privilégio do consumidor livre. Achamos que os cativos foram prejudicados e consideramos a cobrança da RTE ilegítima para
ambos", diz Lindolfo Paixão,
presidente do conselho de administração da Anace.
Pelos cálculos da entidade, se
a Aneel estender a RTE ao mercado livre e cobrar os atrasados,
as empresas que migraram terão de pagar R$ 860 milhões.
Paulo Ludmer, diretor executivo da Abrace (Associação
Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia) afirma que a crescente migração das indústrias eletrointensivas para o mercado livre
não é apenas uma tentativa de
evitar a Recomposição Tarifária Extraordinária.
"Sem dúvida, deixar de pagar
7,9% a mais na conta de luz é
um atrativo. Mas o principal
motivo da migração é que o
preço da energia para o consumidor cativo subiu muito", diz.
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