São Paulo, quinta, 4 de junho de 1998

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ÁSIA
Funcionários estariam falsificando índices econômicos do país
China não dispõe de números confiáveis, afirma vice-premiê

MARCIO AITH
de Tóquio

A China reconheceu ontem oficialmente o que todos desconfiavam: os índices econômicos divulgados pelo país contêm mentiras e não são confiáveis.
Numa teleconferência sobre estatísticas, o vice-premiê, Wen Jiabao, disse que funcionários públicos chineses estão falsificando números e impedindo o governo de administrar a economia.
"O problema de falsificação de estatísticas existe nas repartições públicas", disse ele. "Alguns funcionários alteram suas conquistas para exagerá-las, outros praticam truques nos seus relatórios para esconder problemas. Isso vai afetar seriamente a qualidade das decisões macroeconômicas e obstruir o desenvolvimento saudável da economia nacional".
A revelação de Jiabao não é novidade para bancos e investidores internacionais, que nunca fecharam negócios com base nos dados divulgados pelo governo chinês.
A desconfiança do mercado tem duas origens. Existe um empecilho prático de coletar dados confiáveis e novos no país mais populoso do mundo e com dimensões continentais. E -mais importante- alguns números são maquiados pelo próprio governo por razões políticas.
Por razões óbvias, Jiabao não mencionou as razões políticas como causa para a falsificação de dados, mas o simples reconhecimento de que existem dados falseados foi recebido pelo mercado como um sinal de que as pesquisas podem ficar mais sérias de agora em diante.
Pequim aprovou em 1996 uma lei sobre estatísticas, supostamente para "moralizar" a coleta de dados e torná-los mais confiáveis.
No entanto, ainda existem números duvidosos ou conflitantes em assuntos importantes como crescimento econômico e desemprego.
Um exemplo foi dado ainda nesta semana. Pequim divulgou que o número de funcionários públicos demitidos até maio atinge 6,56 milhões de pessoas, ou 9,2% do total de empregados (diretos e indiretos) do setor público. Concluiu-se o número de funcionários públicos ficava perto de 70 milhões.
Dois dias depois, ao anunciar medidas de reestruturação do setor público, o governo informou que o número de empregados de empresas estatais é de 110 milhões.
No mês passado, ao comentar à Folha o risco de o desemprego na China causar distúrbios sociais, o presidente da Jetro (uma organização do governo japonês sobre comércio internacional), Noboru Hatakeyama, disse que isso não o preocupava porque "lá os dados não são muito exatos, ninguém sabe ao certo o tamanho dos problemas".
A confusão se estende ao crescimento do PIB. No ano passado, a economia chinesa cresceu oficialmente 8,8%, mas ninguém acredita nisso. O governo está tendo dificuldades para conseguir manter sua meta de crescimento de 8,5% planejada para este ano, em meio à crise asiática. O principal problema não é chegar a esse número, mas convencer o mercado de que ele é real.
"Investigações serão feitas sobre os que falsificaram dados para fugir da supervisão. Mentiras não serão toleradas, não interessa o departamento, a unidade e as pessoas envolvidas com esses dados", disse ontem o vice-premiê, que não especificou quais dados produzidos pela burocracia são mentirosos.
Bolsas
A maioria das Bolsas asiáticas teve ontem um dia de ganhos, depois de vários dias de sucessivas quedas. Em Hong Kong, houve alta de 2,57%.
A Bolsa de Taiwan subiu 1,02%, e a de Cingapura, 1,05%. Na Malásia, a alta foi de 1,13%, e na Tailândia, de 1,54%.
As ações das Filipinas e da Indonésia tiveram quedas de 0,87% e de 1,29%, respectivamente.



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