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ÁSIA
Funcionários estariam falsificando índices econômicos do país
China não dispõe de números
confiáveis, afirma vice-premiê
MARCIO AITH
de Tóquio
A China reconheceu ontem oficialmente o que todos desconfiavam: os índices econômicos divulgados pelo país contêm mentiras e
não são confiáveis.
Numa teleconferência sobre estatísticas, o vice-premiê, Wen Jiabao, disse que funcionários públicos chineses estão falsificando números e impedindo o governo de
administrar a economia.
"O problema de falsificação de
estatísticas existe nas repartições
públicas", disse ele. "Alguns funcionários alteram suas conquistas
para exagerá-las, outros praticam
truques nos seus relatórios para
esconder problemas. Isso vai afetar seriamente a qualidade das decisões macroeconômicas e obstruir o desenvolvimento saudável
da economia nacional".
A revelação de Jiabao não é novidade para bancos e investidores
internacionais, que nunca fecharam negócios com base nos dados
divulgados pelo governo chinês.
A desconfiança do mercado tem
duas origens. Existe um empecilho
prático de coletar dados confiáveis
e novos no país mais populoso do
mundo e com dimensões continentais. E -mais importante-
alguns números são maquiados
pelo próprio governo por razões
políticas.
Por razões óbvias, Jiabao não
mencionou as razões políticas como causa para a falsificação de dados, mas o simples reconhecimento de que existem dados falseados
foi recebido pelo mercado como
um sinal de que as pesquisas podem ficar mais sérias de agora em
diante.
Pequim aprovou em 1996 uma
lei sobre estatísticas, supostamente para "moralizar" a coleta de
dados e torná-los mais confiáveis.
No entanto, ainda existem números duvidosos ou conflitantes
em assuntos importantes como
crescimento econômico e desemprego.
Um exemplo foi dado ainda nesta semana. Pequim divulgou que o
número de funcionários públicos
demitidos até maio atinge 6,56 milhões de pessoas, ou 9,2% do total
de empregados (diretos e indiretos) do setor público. Concluiu-se
o número de funcionários públicos ficava perto de 70 milhões.
Dois dias depois, ao anunciar
medidas de reestruturação do setor público, o governo informou
que o número de empregados de
empresas estatais é de 110 milhões.
No mês passado, ao comentar à
Folha o risco de o desemprego na
China causar distúrbios sociais, o
presidente da Jetro (uma organização do governo japonês sobre
comércio internacional), Noboru
Hatakeyama, disse que isso não o
preocupava porque "lá os dados
não são muito exatos, ninguém
sabe ao certo o tamanho dos problemas".
A confusão se estende ao crescimento do PIB. No ano passado, a
economia chinesa cresceu oficialmente 8,8%, mas ninguém acredita nisso. O governo está tendo dificuldades para conseguir manter
sua meta de crescimento de 8,5%
planejada para este ano, em meio à
crise asiática. O principal problema não é chegar a esse número,
mas convencer o mercado de que
ele é real.
"Investigações serão feitas sobre os que falsificaram dados para
fugir da supervisão. Mentiras não
serão toleradas, não interessa o
departamento, a unidade e as pessoas envolvidas com esses dados", disse ontem o vice-premiê,
que não especificou quais dados
produzidos pela burocracia são
mentirosos.
Bolsas
A maioria das Bolsas asiáticas teve ontem um dia de ganhos, depois de vários dias de sucessivas
quedas. Em Hong Kong, houve alta de 2,57%.
A Bolsa de Taiwan subiu 1,02%,
e a de Cingapura, 1,05%. Na Malásia, a alta foi de 1,13%, e na Tailândia, de 1,54%.
As ações das Filipinas e da Indonésia tiveram quedas de 0,87% e
de 1,29%, respectivamente.
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