São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2000


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"Federais devem mudar atuação"

SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relatório da consultoria Booz Allen que avaliou o futuro dos bancos federais conclui que, no modelo atual, as atividades comerciais desenvolvidas por essas instituições são incompatíveis com as suas políticas públicas.
No estudo, três das cinco alternativas propostas descartam a manutenção das carteiras comerciais dos bancos federais.
O debate sobre o destino desses bancos (Banco do Brasil, BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste), iniciado ontem pelo governo, deve durar cerca de três meses.
Segundo o estudo, o custo da execução das políticas públicas -agricultura, habitação, desenvolvimento setorial, desenvolvimento regional, geração de emprego e renda- não são claramente identificados hoje.
"Os custos são subsidiados internamente pelas instituições", diz o relatório. Os consultores avaliam que esses subsídios têm de ser explicitados no Orçamento, o que não acontece hoje.
A "mistura" entre as atividades comerciais (venda de produtos financeiros, aplicações) e a execução de políticas públicas, segundo o relatório, torna pouco transparentes os custos dos serviços prestados pelos bancos federais.
O relatório afirma que as carteiras "econômico-sociais", que representam as políticas públicas, correspondem a 44% dos ativos de R$ 353 bilhões dos bancos federais.
Segundo a consultoria, as despesas administrativas dos bancos federais em 99 correspondiam a 96% de suas receitas. Em junho de 99, o Banco do Brasil tinha despesas administrativas equivalentes a 259% de suas receitas.
Para comparar os bancos federais com os privados, a consultoria escolheu a soma dos números do Bradesco, Itaú, Unibanco e Real. Para esse conjunto, as despesas administrativas eram 71% da receita total em 99.
Apesar desses problemas, o relatório explica que a iniciativa privada não atua em, pelo menos, dois segmentos que têm uma forte presença dos bancos federais: financiamentos de longo prazo para investimento (BNDES) e créditos de médio e longo prazos para o comércio exterior (BB).
Essas duas atuações dos bancos federais são fundamentais, na opinião da consultoria, porque faltam recursos de longo prazo no mercado e, praticamente, inexiste um mercado de capitais desenvolvido no país.
"Os bancos federais absorvem riscos que a iniciativa privada é incapaz de avaliar e cobre eventuais falhas de mercado na oferta à população de acesso ao mercado financeiro", diz o relatório.
Os consultores avaliam ainda que é necessário aproveitar as conquistas dessas instituições: marcas fortes e respeitadas, confiança do público e competências específicas, como o conhecimento de peculiaridades locais em todo o país.



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