São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2000


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LUÍS NASSIF

De olhos no México

Um governo é o governante, seu plano de governo e o método de implementá-lo. Nesse sentido, comparar o novo presidente do México, Vicente Fox, com seus adversários é um engano monumental.
Não tenho elementos para analisar o político Vicente Fox. Muito menos para saber se será bem-sucedido em sua empreitada de modernizar o México, depois de 71 anos do corporativismo mais continuado da história. Em geral, nesses processos, a primeira tentativa é a de demolição e o demolidor acaba engolido por sua obra e abrindo espaço para o restaurador seguinte.
De qualquer modo, em relação ao plano de governo e ao processo gerencial, Fox está anos-luz à frente dos modelos democráticos de gestão pública que apareceram na América Latina nas últimas décadas. A tentativa de enquadrá-lo em estereótipos ideológicos é típica de um período pré-gerencial em que o subdesenvolvimento intelectual da região só conseguia definir os governos como de esquerda e direita -sendo que ambos tinham em comum a facilidade em brandir slogans e o total desconhecimento de técnicas mínimas de planejamento estratégico e de implementação gerencial. Ou se partia para o saudosismo em relação ao nacional-desenvolvimentismo ou para essa visão "puquiana" (da PUC Rio) meramente macro e fiscal, incapaz de perceber que o equilíbrio fiscal é apenas uma peça de um processo muito mais amplo, que passa pela definição de metas orçamentárias, implementação de programas e coordenação das ações nacionais em direção a um objetivo estratégico previamente definido.
O plano de governo de Fox no Estado de Guanajuato -que o projetou nacionalmente- passou por um diagnóstico claro: a necessidade de criar um modelo aberto para o exterior, como forma de reduzir os malefícios trazidos pela crise cambial mexicana e preparar a máquina pública para atuar de maneira inovadora, visando reduzir os níveis de pobreza por meio da melhoria do atendimento.
A partir daí, inovou os procedimentos gerenciais, mudou a estrutura de pessoal e de remuneração dos servidores públicos, informatizou os sistemas de gestão, estabeleceu programas com metas claramente definidas. Passou a trabalhar processos, monitorados por indicadores de qualidade.
Repito: pode ser que, no final do governo, Fox sucumba à herança histórica republicana do continente, de enterrar Silva Jardim e sucumbir aos arreglos políticos.
Como visão de governo e de gestão, no entanto, é incomparavelmente superior a seus pares.

Café
Durante todo o primeiro semestre o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, insinuou a possibilidade de uma política de retenção do café. Quando questionado, informava que dava as declarações apenas para aquecer o mercado. Em vez de aquecer o mercado, as ameaças despertaram os compradores, que trataram de antecipar suas compras de outros produtores.
Agora que a retenção é anunciada oficialmente, implementada desastradamente, paralisando as exportações brasileiras e provocando uma queda nas cotações internacionais, o homem do ministério para o café, Paulo César Samico, dá entrevista anunciando que o plano só irá fazer efeito daqui a... seis meses. Ou seja, quando o mercado estiver inundado pelas exportações dos demais produtores.
O fracasso desse pacto corporativista cria, paradoxalmente, o melhor momento para o governo dar o corte modernizante que o café exige. Primeiro passo: tirá-lo do Ministério da Agricultura e passá-lo para o do Desenvolvimento. Segundo passo: reforçar a política de promoção do café no exterior e tomar medidas que acabem com qualquer possibilidade futura de se repetirem essas práticas anacrônicas. Terceiro passo: exportar os brilhantes ideólogos dessa retenção para a Colômbia, onde serão recebidos de braços abertos e terão direito a estátua em praça pública.


E-mail - lnassif@uol.com.br



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