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LUÍS NASSIF
De olhos no México
Um governo é o governante, seu plano de governo e o
método de implementá-lo. Nesse
sentido, comparar o novo presidente do México, Vicente Fox,
com seus adversários é um engano monumental.
Não tenho elementos para
analisar o político Vicente Fox.
Muito menos para saber se será
bem-sucedido em sua empreitada de modernizar o México, depois de 71 anos do corporativismo mais continuado da história.
Em geral, nesses processos, a primeira tentativa é a de demolição
e o demolidor acaba engolido
por sua obra e abrindo espaço
para o restaurador seguinte.
De qualquer modo, em relação
ao plano de governo e ao processo gerencial, Fox está anos-luz à
frente dos modelos democráticos
de gestão pública que apareceram na América Latina nas últimas décadas. A tentativa de enquadrá-lo em estereótipos ideológicos é típica de um período
pré-gerencial em que o subdesenvolvimento intelectual da região só conseguia definir os governos como de esquerda e direita -sendo que ambos tinham
em comum a facilidade em
brandir slogans e o total desconhecimento de técnicas mínimas
de planejamento estratégico e de
implementação gerencial. Ou se
partia para o saudosismo em relação ao nacional-desenvolvimentismo ou para essa visão
"puquiana" (da PUC Rio) meramente macro e fiscal, incapaz de
perceber que o equilíbrio fiscal é
apenas uma peça de um processo muito mais amplo, que passa
pela definição de metas orçamentárias, implementação de
programas e coordenação das
ações nacionais em direção a um
objetivo estratégico previamente
definido.
O plano de governo de Fox no
Estado de Guanajuato -que o
projetou nacionalmente- passou por um diagnóstico claro: a
necessidade de criar um modelo
aberto para o exterior, como forma de reduzir os malefícios trazidos pela crise cambial mexicana e preparar a máquina pública para atuar de maneira inovadora, visando reduzir os níveis
de pobreza por meio da melhoria do atendimento.
A partir daí, inovou os procedimentos gerenciais, mudou a
estrutura de pessoal e de remuneração dos servidores públicos,
informatizou os sistemas de gestão, estabeleceu programas com
metas claramente definidas.
Passou a trabalhar processos,
monitorados por indicadores de
qualidade.
Repito: pode ser que, no final
do governo, Fox sucumba à herança histórica republicana do
continente, de enterrar Silva Jardim e sucumbir aos arreglos políticos.
Como visão de governo e de
gestão, no entanto, é incomparavelmente superior a seus pares.
Café
Durante todo o primeiro semestre o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, insinuou
a possibilidade de uma política
de retenção do café. Quando
questionado, informava que dava as declarações apenas para
aquecer o mercado. Em vez de
aquecer o mercado, as ameaças
despertaram os compradores,
que trataram de antecipar suas
compras de outros produtores.
Agora que a retenção é anunciada oficialmente, implementada desastradamente, paralisando as exportações brasileiras e
provocando uma queda nas cotações internacionais, o homem
do ministério para o café, Paulo
César Samico, dá entrevista
anunciando que o plano só irá
fazer efeito daqui a... seis meses.
Ou seja, quando o mercado estiver inundado pelas exportações
dos demais produtores.
O fracasso desse pacto corporativista cria, paradoxalmente, o
melhor momento para o governo dar o corte modernizante que
o café exige. Primeiro passo: tirá-lo do Ministério da Agricultura e
passá-lo para o do Desenvolvimento. Segundo passo: reforçar
a política de promoção do café
no exterior e tomar medidas que
acabem com qualquer possibilidade futura de se repetirem essas
práticas anacrônicas. Terceiro
passo: exportar os brilhantes
ideólogos dessa retenção para a
Colômbia, onde serão recebidos
de braços abertos e terão direito
a estátua em praça pública.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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