|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Lula e a "herança maldita"
O primeiro contrato de
concessão do governo Lula é o da licitação de linhas de
transmissão de energia elétrica. A Cláusula Sexta do Contrato de Concessão delibera sobre a receita do serviço; e a Terceira Subcláusula, sobre o indexador. O reajuste consistirá
na receita anual permitida do
ano anterior corrigida pelo
IGP-M, o velho Índice Geral de
Preços do Mercado da Fundação Getúlio Vargas, já chamado de "entulho autoritário" e
"herança maldita" pelo governo Lula.
Isso ocorre em um momento
em que a aplicação desse índice nos contratos de telefonia leva o governo a falar em mudar
as agências reguladoras, o
Congresso, a anunciar uma
CPI, e o ministro das Comunicações, Miro Teixeira, a conclamar os consumidores do
país inteiro a entrar na Justiça
contra as concessionárias.
E por que o próprio governo
Lula utilizou a "herança maldita" em seu primeiro contrato
de concessão? Porque nenhum
investidor vai colocar um tostão em obras de infra-estrutura, de retorno lento, sem um indexador que preserve não apenas o valor do investimento em
reais como em dólares.
O que ocorreu, nesse episódio, foi uma confusão terrível
em que perdemos todos -o
país, os consumidores, a Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações), o Ministério das
Comunicações e o governo Lula.
Como lembra o advogado
Pedro Dutra, especialista em
regulação, o modelo tarifário
previsto na privatização das telecomunicações brasileiras é
eficiente e se baseou na Inglaterra. Ele prevê dois processos.
Um, o do reajuste, visando
manter integral o valor da tarifa. O outro, o da revisão, quando ocorre desequilíbrio em um
dos fatores que compõem o
contrato. Em cima desses dois,
criou-se um redutor de produtividade. A cada ano as tarifas,
reajustadas, são reduzidas por
índices crescentes, obrigando
as concessionárias a melhorar
continuamente sua produtividade.
A lei brasileira de telecomunicações foi bem montada,
mas tropeçou em aspectos típicos da cultura econômica brasileira. O primeiro, o indexador, o IGP-DI, que é uma cesta
de índices inacreditável. Não se
podia prever que ele iria descolar, mas descolou.
O contrato de concessão já
prevê a revisão tarifária quando algum fator descola. Por isso mesmo, a própria Anatel deveria ter iniciado o contrato de
revisão, já que havia indícios
veementes desse descolamento
de índices. Não o fez. Se tivesse
feito, teria chamado a si a discussão técnica do índice.
Aí vem o ministro Miro Teixeira partindo para a guerra.
Poderia ter oficiado a Anatel
para iniciar o processo de revisão. Tivesse procedido dessa
maneira, se converteria em
"player" do processo, a imagem do país teria sido preservada e as operadoras não teriam por que reclamar, porque
se estaria atuando dentro das
regras do jogo.
O modelo não é ruim. O que
falta é todos os atores aprenderem a trabalhar dentro dele. E
o governo entender que a "herança maldita" do governo anterior não foi o modelo tarifário das concessões. Foi a vulnerabilidade cambial que provocou todos esses desequilíbrios.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Consumo: 1/3 da classe média se acha pobre Próximo Texto: Curto-circuito: Conta de luz da Eletropaulo sobe 10,9% a partir de hoje Índice
|