UOL


São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Anúncio do reajuste pega empresa de surpresa

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de estar discutindo a revisão tarifária desde outubro do ano passado, a direção da Eletropaulo alega que foi pega de surpresa ontem, quando a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) antecipou em um dia a divulgação do percentual de aumento.
O presidente da empresa, Steven Clancy, voava entre Brasília e São Paulo no momento do anúncio, após uma audiência com a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Esse encontro já estava agendado havia algum tempo e não tinha nenhuma relação com a revisão tarifária, segundo assessores de Clancy.
Por isso, somente hoje a Eletropaulo deverá comentar o reajuste de 10,95% concedido pela agência reguladora. Em outubro, quando começaram as negociações com a Aneel, a Eletropaulo pleiteava um percentual de 34,46%.
Esse índice estaria irreal hoje, segundo a própria empresa, devido ao recuo do câmbio. Como ela compra energia de Itaipu, cotada em dólar, a variação cambial afeta seus custos.
No final de maio, a Aneel apresentou uma proposta de reajuste de 9,62%. Na ocasião, Clancy, disse que o índice baixo de reajuste poderia afetar a rentabilidade da empresa e "ter efeito negativo" na resolução do problema da dívida da AES (controladora da Eletropaulo) com o BNDES.
A AES deixou de pagar ao BNDES mais da metade de um empréstimo de US$ 1,2 bilhão, feito para comprar a Eletropaulo. A empresa ainda está negociando com o banco estatal.
Analistas ouvidos pela Folha dizem que a nova tarifa da Eletropaulo poderá reduzir sua capacidade futura de investimento na manutenção da qualidade dos serviços. "A geração de caixa da empresa continuará sendo insuficiente para pagar dívidas e investir", diz Oswaldo Telles Filho, analista do BBV Banco.
Para Sérgio Tamashiro, analista do Unibanco, o reajuste concedido pela Aneel poderia ter sido até inferior aos 9,62% iniciais acenados pela agência. "Desde maio, alguns parâmetros que balizam a revisão mudaram: o câmbio recuou e o IGP-DI de junho foi menor que o de maio", diz.
Além dessa "gordura" que a empresa ganhou, Tamashiro diz que a Aneel ainda deu um peso maior às perdas que a empresa tem com o transporte de energia na rede básica e as perdas nas transmissões de Itaipu. "Feitas as contas, a Eletropaulo obteve dois pontos percentuais a mais com o reajuste de 10,95%", diz. Esses dois pontos percentuais, segundo ele, gerarão um faturamento extra de R$ 120 milhões por ano para a empresa.
No entanto, o reajuste concedido não considera o custo anual de R$ 230 milhões que a empresa tem com a amortização de dívidas com o fundo de pensão dos funcionários. Esse é um débito que ela carrega desde antes da privatização e que sua direção reivindicava que entrasse no cálculo.
Tamashiro calcula que para cobrir esses gastos a empresa teria de ter mais 3,85 ponto percentual de reajuste tarifário.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Vizinho em crise: Petrobras quer aumento na Argentina
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.