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Anúncio do reajuste pega empresa de surpresa
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de estar discutindo a revisão tarifária desde outubro do
ano passado, a direção da Eletropaulo alega que foi pega de surpresa ontem, quando a Aneel
(Agência Nacional de Energia Elétrica) antecipou em um dia a divulgação do percentual de aumento.
O presidente da empresa, Steven Clancy, voava entre Brasília e
São Paulo no momento do anúncio, após uma audiência com a
ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Esse encontro já estava agendado havia algum tempo e não tinha nenhuma relação
com a revisão tarifária, segundo
assessores de Clancy.
Por isso, somente hoje a Eletropaulo deverá comentar o reajuste
de 10,95% concedido pela agência
reguladora. Em outubro, quando
começaram as negociações com a
Aneel, a Eletropaulo pleiteava um
percentual de 34,46%.
Esse índice estaria irreal hoje,
segundo a própria empresa, devido ao recuo do câmbio. Como ela
compra energia de Itaipu, cotada
em dólar, a variação cambial afeta
seus custos.
No final de maio, a Aneel apresentou uma proposta de reajuste
de 9,62%. Na ocasião, Clancy, disse que o índice baixo de reajuste
poderia afetar a rentabilidade da
empresa e "ter efeito negativo" na
resolução do problema da dívida
da AES (controladora da Eletropaulo) com o BNDES.
A AES deixou de pagar ao
BNDES mais da metade de um
empréstimo de US$ 1,2 bilhão, feito para comprar a Eletropaulo. A
empresa ainda está negociando
com o banco estatal.
Analistas ouvidos pela Folha dizem que a nova tarifa da Eletropaulo poderá reduzir sua capacidade futura de investimento na
manutenção da qualidade dos
serviços. "A geração de caixa da
empresa continuará sendo insuficiente para pagar dívidas e investir", diz Oswaldo Telles Filho,
analista do BBV Banco.
Para Sérgio Tamashiro, analista
do Unibanco, o reajuste concedido pela Aneel poderia ter sido até
inferior aos 9,62% iniciais acenados pela agência. "Desde maio, alguns parâmetros que balizam a
revisão mudaram: o câmbio recuou e o IGP-DI de junho foi menor que o de maio", diz.
Além dessa "gordura" que a
empresa ganhou, Tamashiro diz
que a Aneel ainda deu um peso
maior às perdas que a empresa
tem com o transporte de energia
na rede básica e as perdas nas
transmissões de Itaipu. "Feitas as
contas, a Eletropaulo obteve dois
pontos percentuais a mais com o
reajuste de 10,95%", diz. Esses
dois pontos percentuais, segundo
ele, gerarão um faturamento extra
de R$ 120 milhões por ano para a
empresa.
No entanto, o reajuste concedido não considera o custo anual de
R$ 230 milhões que a empresa
tem com a amortização de dívidas
com o fundo de pensão dos funcionários. Esse é um débito que
ela carrega desde antes da privatização e que sua direção reivindicava que entrasse no cálculo.
Tamashiro calcula que para cobrir esses gastos a empresa teria
de ter mais 3,85 ponto percentual
de reajuste tarifário.
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