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BATALHA VERDE
Produto brasileiro deve ficar mais sujeito a barreiras comerciais
Vigor exportador põe país na mira dos concorrentes
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A pujança das exportações do
agronegócio coloca o Brasil na
mira dos países concorrentes.
O potencial de crescimento da
criação de barreiras não-tarifárias
a produtos brasileiros e de contenciosos comerciais contra o país
é o obstáculo que pode surgir na
esteira dos indicadores positivos
do setor agroexportador.
"Os mercados importadores
vão começar a ficar de olho nas
práticas da política agrícola brasileira para tentar achar fragilidades e pontos em desacordo com
as regras da OMC [Organização
Mundial do Comércio]", avaliou
André Nasser, diretor-executivo
do Icone (Instituto do Estudo do
Comércio e Negociações Internacionais).
Neste ano, o Brasil passará para
a terceira posição do ranking dos
maiores exportadores agropecuárias mundiais, atrás somente dos
EUA e da União Européia. A média da taxa de crescimento do segmento nos últimos 14 anos atinge
6,4%. Em carne suína, por exemplo, o ritmo das exportações brasileiras cresce anualmente 27,2%.
No algodão, 11,7% ao ano.
Na carne de frango, cuja taxa
anual de crescimento é de 13,1%, o
Brasil já enfrenta o dissabor de
uma guerra comercial com a
União Européia, que perdeu a segunda colocação entre os maiores
exportadores mundiais do produto para o Brasil.
O bloco europeu mudou a classificação de importação de cortes
da ave. O frango brasileiro exportado entrava no capítulo de carnes temperadas, sujeito à tarifa de
15,4%. Pelo novo regime, o mesmo produto passou a ser classificado no capítulo de carne fresca,
resfriada ou congelada, sujeito a
uma tarifa de aproximadamente
75% ( 1.024/tonelada). A nova
regulamentação foi contestada
pelo Brasil e pela Tailândia na
OMC, e uma decisão deve ser tomada no próximo ano.
Estratégias distintas
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, esse tipo de manobra de
elevação tarifária tende a ser mais
difícil de ocorrer com os avanços
nas rodadas de liberalização comercial, especialmente da Rodada Doha, da OMC. Mas outras estratégias devem ganhar terreno.
"Quando se derrubam tarifas,
os países ricos começam a criar
outros tipos de mecanismo, como
barreiras sanitárias, regras de rotulagem de origem e exigência de
rastreabilidade. Esses são tipos de
barreira mais difíceis de serem
monitoradas pela OMC", afirmou
Glauco Carvalho, economista da
consultoria MB Associados.
O surgimento de barreiras de
importação associadas à proteção
ambiental também ocorre na
pauta de eventuais entraves à expansão da agroexportação brasileira. "São exigências incrementais que geram um grande nível de
incerteza para os países fornecedores como o Brasil. Não há como
estar preparado para tudo isso",
argumentou Nasser.
Lição de casa
"A lição de casa tem que ser perfeita", disse Amaryllis Romano,
da Tendências Consultoria, ao se
referir ao reforço da defesa sanitária no Brasil. O recente embargo
da carne bovina brasileira pela
Rússia e pela Argentina e a recusa
da China em receber a soja brasileira, sob a alegação de contaminação por fungicida, reforçaram
essa convicção.
"O Brasil passou a ocupar o primeiro lugar na exportação de carne. Quem ficou para trás se sente
ameaçado e pode criar qualquer
pretexto para nos tirar dessa posição", diz José Olavo Borges, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu).
Mas a consultora da Tendências
argumentou que mesmo um melhor aparelhamento da equipe sanitária não vai evitar o envio de
missões para lidar com impasses
comerciais.
"As missões "apaga-incêndio"
brasileiras vão ser cada vez mais
freqüentes", disse a consultora da
Tendências.
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