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ARTIGO
Gigante com pés de barro
PEDRO DE CAMARGO NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O sucesso agrícola brasileiro
é, antes de tudo, fruto da fotossíntese. Nenhum outro país
reúne um conjunto tão formidável de sol e água. Viabilizar a produção exige um homem educado,
tecnologia e um ambiente econômico adequado. O crescimento
da produção nos últimos anos é
fruto da somatória de diversas
ações corretas.
O setor agrícola tornou-se a âncora para a retomada do desenvolvimento. Produz saldo na balança comercial essencial para o
equilíbrio macroeconômico. Infelizmente, pela ausência de outros setores também competitivos, o sucesso da economia tornou-se dependente das questões
agrícolas.
O recente incidente da soja na
China, com a perda elevada de divisas, produziu maior dano à economia nacional do que o aumento dos preços do petróleo no mercado internacional. Um foco de
febre aftosa, colocando em crise a
pecuária de corte, pode influir
fortemente no PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas
produzidas em um país) a ponto
de inviabilizar o crescimento nacional. Estamos preparados para
depender de um setor até ontem
relegado a segundo plano?
Os gargalos para um contínuo
crescimento do setor agrícola são
diversos. Porém é na questão da
sanidade animal e vegetal que podemos enfrentar um colapso. A
crise do serviço público nacional é
uma realidade. Os recursos financeiros são sempre insuficientes.
Os funcionários, desmotivados
por questões salariais. O quadro
de pessoal está cada dia mais próximo da aposentadoria. Os métodos e modelos de atuação são ultrapassados. Pior do que isso, inexiste um debate que permita enfrentar o futuro com maior tranqüilidade.
É preciso reagir. Foi também na
área de sanidade que no passado
ações inovadoras exemplares
ocorreram. Na citricultura, foi
com o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) que os riscos
das doenças foram enfrentados.
Indústrias e produtores viabilizaram essa parceria público-privada numa época em que não se falava em PPPs.
O avanço ocorrido contra a febre aftosa em São Paulo, a partir
de 1991, com a criação do Fundepec (Fundo de Desenvolvimento
da Pecuária do Estado de São
Paulo), posteriormente levado a
outros Estados, ocorreu com pecuaristas aceitando pagar mais do
que já pagavam em impostos,
criando fundos próprios coletivos
destinados a ações em conjunto
com os governos estaduais no
sentido da erradicação da doença.
É preciso ampliar os exemplos
em escala nacional, retomando o
sucesso de poucos anos atrás. Os
princípios que devem nortear as
ações são os mesmos: a aproximação da sociedade civil com os
governos no desenvolvimento de
ações coletivas concretas.
O importante é não perder tempo, porque o gigante tem pés de
barro.
Pedro de Camargo Neto, 55, doutor
em engenharia de produção, foi fundador e presidente de 1991 a 2001 do Fundepec (Fundo de Desenvolvimento da
Pecuária do Estado de São Paulo).
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