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TELA VAZIA
Redução de público de filmes brasileiros dificulta ainda mais captação de recursos para financiamento da produção
Fundos de apoio a cinema não atraem público
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O namoro do investidor pessoa
física com o mercado cinematográfico não foi muito longe. Após
o "boom" do cinema nacional em
2003, especulou-se que o pequeno
investidor pudesse aplicar (e lucrar) nesse segmento também.
Mas isso não ocorreu.
"Até se tentou, mas o investidor
não se interessa por essa área. Eu
diria que a parcela de pessoa física
nesse mercado é de 0,00001%",
avalia Regina Werner, superintendente da Máxima DTVM.
As dificuldades em se garantir
algum tipo de retorno interessante ao pequeno investidor desestimulam sua entrada no mercado
audiovisual. Para as empresas, há,
além do benefício da renúncia fiscal, a possibilidade de mostrar e
ligar a sua marca a um projeto,
que pode ter grande visibilidade.
Há cerca de um ano, foi anunciado um projeto inovador para a
captação de recursos para o filme
"A Justiça dos Homens". Para o
investidor pessoa física interessado em entrar no projeto, seriam
oferecidas 200 cotas de R$ 2 mil,
que poderiam ser compradas até
pela internet. Mas, segundo informações do mercado, os pequenos
investidores não apareceram.
A recente diminuição do público dos filmes brasileiros -que está bem abaixo do pico de 22,05
milhões de espectadores registrado em 2003- desanimou um
pouco mesmo os mais entusiasmados com a possibilidade de lucrar com o crescimento do mercado audiovisual nacional. Neste
ano, até o fim de maio, o número
de espectadores de filmes nacionais chegou aos 3,5 milhões. Os
dados são da Filme B, especializada em estatísticas do setor.
Analistas avaliam que um filme
teria de ter um público acima de
800 mil pagantes -o que não é
comum para um material nacional- para gerar retorno interessante a um pequeno investidor
que comprasse um certificado de
investimento audiovisual.
Novos investimentos
Na esteira do sucesso do mercado nacional, foi aprovado pela
CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no fim de 2003 a criação
dos Funcines (Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional).
A BBDTVM (Banco do Brasil
Distribuidora de Títulos e Valores
Mobiliários) foi a primeira a entrar nesse nicho. Lançado em
2004, o BB Cine conta hoje com
R$ 2,5 milhões de patrimônio e
seis cotistas. O primeiro projeto
apoiado pelo BB Cine foi o filme
"Cabra-Cega", terceiro longa do
diretor Toni Venturi, que estreou
em abril deste ano. O filme recebeu algo em torno de R$ 50 mil
para a fase de distribuição.
"Há seis cotistas neste momento no fundo. E todos têm consciência do risco. Se o filme for um
fiasco, o investidor perderá dinheiro. Por isso, temos de ser
muito seletivos na escolha dos
projetos", diz Nelson Rocha Augusto, presidente da BBDTVM.
Mas investir em um Funcine
ainda é algo segmentado, ficando
restrito à pessoa jurídica ou ao
chamado investidor qualificado
(aquele que pode disponibilizar
para uma aplicação financeira algo em torno de R$ 300 mil).
Fernando Buarque, diretor da
área de gestão de investimentos
da Rio Bravo, que também lançou
um Funcine no mercado, avalia
que "o sucesso desses primeiros
projetos de Funcine é fundamental para que, num futuro próximo, o pequeno investidor também possa fazer aplicações". O
Funcine da Rio Bravo conta hoje
com patrimônio de R$ 6 milhões.
O montante autorizado pela
CVM permite que o fundo chegue
a R$ 30 milhões.
O capital dos Funcines podem
ser direcionados para várias fases
do processo cinematográfico,
desde produção e distribuição até
a construção de salas de exibição.
"O crescimento dos Funcines
será benéfico para todos. Além de
uma maior oferta de verbas para
quem faz cinema, haverá a oportunidade de o investidor pessoa
física participar. Quem sabe isso
não pode começar ainda em
2006?", diz Buarque.
A Lite (Life in the Tropics Entertainment) está trazendo ao mercado nacional uma novidade. É
um fundo destinado a captar recursos que serão direcionados à
produção de roteiros. Segundo
Roberto d'Avila, diretor de conteúdo da Moonshot Pictures e um
dos criadores do fundo, o investimento mínimo exigido será de
US$ 50 mil (R$ 115 mil). Ou seja,
um pouco distante do pequeno
investidor.
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