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País pode elevar taxa sem acordo no Mercosul
Paraguai e Uruguai haviam negado aumento da TEC para calçados e confecções provenientes da China
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil está disposto a elevar unilateralmente, de forma
temporária, a tarifa de importação de confecções e calçados
oriundos da China para 35% se
o Paraguai e o Uruguai não concordarem com o aumento da
TEC (Tarifa Externa Comum),
adotada pelos membros do
Mercosul. Os dois países, por
motivos diferentes, posicionaram-se contra o aumento na
reunião de cúpula do bloco econômico, na semana passada.
"Se não houver concordância, é uma possibilidade que
existe, sim [o aumento unilateral]", disse Ivan Ramalho, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento.
A elevação da TEC foi aprovada pela Camex (Câmara de
Comércio Exterior), mas é necessário consenso entre os países do Mercosul. Ao serem consultados informalmente por
Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai sinalizaram pela aprovação no mês passado.
Na sexta, porém, o Paraguai
pediu mais explicações sobre o
impacto nos setores de confecções. O Uruguai informou que
já adotara medidas para ajudar
sua indústria, portanto o aumento da TEC figuraria como
uma dupla proteção.
"Nem Uruguai nem Paraguai
nos disseram que não concordam com a elevação da TEC. O
que eles pediram foi um período de tempo, uma semana, dez
dias", frisou Ramalho.
Para esclarecer as dúvidas, o
assunto será discutido em Assunção na segunda-feira, em
uma reunião dos governos brasileiro e paraguaio com representantes da Uipa (União Industrial Paraguaia), da Abit
(Associação Brasileira da Indústria Têxtil) e da Abicalçados
(Associação Brasileira das Indústrias de Calçados).
Hoje, têxteis e calçados chineses pagam uma tarifa de 20%
para entrar em algum dos quatro países do Mercosul. Apesar
disso, os produtos da China são
mais competitivos do que os
brasileiros, o que levou o governo a aprovar essa elevação da
TEC a pedido da indústria.
Na prática, a China não é vista como uma economia de mercado e não segue padrões internacionais de remuneração salarial ou respeito à propriedade
intelectual, entre outros fatores que reduzem fortemente o
preço de seus produtos.
Uma tarifa maior no Mercosul aumenta a competitividade
também nos países do bloco,
pois não há taxa nas vendas
brasileiras aos vizinhos do bloco. O curioso nesse caso é que
uma tarifa externa mais alta
também protegeria a indústria
paraguaia.
Procurada ontem, a embaixada paraguaia estava indisponível para entrevistas.
Ramalho, porém, nega que o
Paraguai esteja endurecendo
nessa questão como forma de
pressionar o Brasil a ceder em
outros temas, como o reajuste
dos royalties pagos pela usina
hidrelétrica de Itaipu.
Caso o Paraguai e o Uruguai
concordem com a elevação da
TEC, não será preciso esperar
por uma nova reunião de cúpula do Mercosul, daqui a seis meses -o aumento será implementado por uma reunião virtual dos chanceleres do bloco.
Setor têxtil
Para o presidente da Abit,
Fernando Pimentel, o governo
brasileiro deve elevar a tarifa de
importação mesmo se Paraguai
e Uruguai se opuserem à medida. "Devemos preservar nossa
convivência com os demais países, mas o Brasil não pode ter
um parque têxtil sem concorrência com os parceiros internacionais. Estamos seguros de
que o governo vai fazer o que é
melhor para o Brasil."
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