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CONTAS PÚBLICAS
Impacto no déficit engaveta plano pelo qual o setor privado administraria aposentadorias de até R$ 1.255
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Governo descarta "privatizar" o INSS
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
O governo decidiu deixar a iniciativa privada de fora da administração do novo sistema de aposentadoria para os trabalhadores que
ganham até o teto de contribuições
e benefícios previdenciários do
INSS, hoje em R$ 1.255,32. Até essa
faixa, o sistema continuará integralmente público.
A decisão encerra uma acirrada
discussão interna no governo e será submetida ao aval do Congresso
Nacional logo depois do recesso
parlamentar de julho, informou à
Folha o ministro da Previdência,
Waldeck Ornélas.
O modelo escolhido representa
um freio na expectativa de um
grande negócio no Brasil: a entrada dos fundos de previdência privada no mercado para trabalhadores que ganham menos de dez salários mínimos. A expectativa de
crescimento do negócio cai drasticamente para cerca de 7%, segundo cálculo do ministério.
Dívida pública
A opção contrária à privatização
foi tomada para evitar uma explosão da dívida pública do país. Ao
passar pelo menos parte do negócio à iniciativa privada, a União
perderia a principal fonte de financiamento dos benefícios da Previdência e teria de bancar a conta
emitindo títulos públicos.
O pagamento dos atuais aposentados e da expectativa de aposentadoria dos trabalhadores que já
contribuem para o sistema em vigor custaria a astronômica cifra de
quase R$ 2 trilhões, cerca de duas
vezes o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. O reconhecimento
dessa dívida tornou insustentável
o custo de transição para um sistema privado.
""Não adianta sonhar com um
sistema que poderia ser ideal se a
realidade não permite. A reforma
profunda virá no próximo século",
disse o ministro. Ele reconhece que
a próxima etapa da reforma que o
governo apresentará ao Congresso
pode diminuir o déficit nas contas
da Previdência, mas será incapaz
de resolver de vez o problema.
Capitalização ""virtual"
O novo sistema escolhido pelo
governo funcionará como uma
conta individual de poupança: a
aposentadoria passará a ser calculada de acordo com o que cada trabalhador contribuiu durante a vida. O cálculo levará em conta também a expectativa de sobrevida do
trabalhador no momento de pedir
aposentadoria, estimulando o
adiamento do benefício.
No modelo adotado, chamado de
capitalização escritural ou ""virtual", as contribuições pagas pelos
trabalhadores continuarão financiando o pagamento dos benefícios de quem já está aposentado,
como no atual sistema de repartição.
Essa fórmula já é adotada em países como a Itália, a Suécia, a Polônia e a Hungria, onde evitou o aumento da dívida pública.
Contribuições e benefícios
Segundo Ornélas, o modelo já
detalhado em projetos de lei no
ministério não imporá o aumento
das contribuições dos trabalhadores à Previdência. Espera-se até
que as contribuições dos empresários diminuam com o tempo.
Mas o valor do benefício também
poderá cair com a regra das contas
individuais. Segundo a Folha apurou, o valor vai depender da taxa
de rendimento dos depósitos ainda a ser definida pelo governo. Para obterem benefícios melhores, os
trabalhadores serão estimulados a
adiar o pedido de aposentadoria.
Atualmente, o valor do benefício
é calculado com base nos últimos
36 salários médios de contribuição. O cálculo não leva em conta o
valor da contribuição durante toda
a vida, como o novo sistema fará.
A capitalização virtual começou
a ser analisada no ano passado pelo grupo de trabalho comandado
pelo então presidente do BNDES,
André Lara Resende, inicialmente
adepto da entrada da iniciativa privada no negócio.
Na época, o Banco Central vetou
o aumento da dívida pública (que
já não é pequena) a ser provocado
pela opção por um sistema puro de
capitalização, como o que foi adotado no Chile.
A comissão acabou desfeita em
dezembro do ano passado, sem
chegar a um consenso sobre o melhor modelo a ser adotado no país.
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