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COMÉRCIO DA OBESIDADE
Companhias como McDonald's e Kraft Foods ampliam marketing para conquistar público infantil
Empresas de alimentos "fisgam" crianças
DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES"
O McDonald's quer estar em todo lugar onde existam crianças.
Assim, além de operar 13.602 restaurantes nos EUA, pôs seus arcos
dourados em bonecas Barbie, jogos de vídeo, imagens de capas de
livros e parques temáticos.
O McDonald's classifica esse tipo de promoção como uma extensão de marca. Mas número
crescente de nutricionistas prefere entendê-las como uma campanha que perverte os hábitos alimentares das crianças e as coloca
no caminho da obesidade.
O marketing de comida, salgadinhos e refrigerantes destinados
às crianças é pelo menos tão velho
quanto Ronald McDonald. O que
é novidade, segundo os críticos, é
o escopo e a intensidade da nova
ofensiva. Grandes fabricantes de
alimentos e cadeias de restaurantes, como o McDonald's e a Kraft
Foods, estão explorando todas as
maneiras imagináveis de expor
seus nomes às crianças.
Os investimentos que fazem para isso são maiores que nunca,
US$ 15 bilhões no ano passado,
ante US$ 12,5 bilhões em 1998, segundo pesquisas conduzidas pela
Universidade A&M, do Texas.
"O que realmente mudou na década passada foi a proliferação de
mídias eletrônicas", diz Susan
Linn, psicóloga que estuda o marketing dirigido a crianças no Centro Judge Baker para a Infância,
da Universidade Harvard. "No
passado, tínhamos os programas
de manhã de sábado na televisão.
Agora, temos Nickelodeon, filmes, videogames, internet e até
mesmo campanhas de marketing
nas escolas."
Os esforços de merchandising
estão em toda parte. Temos picolés SpongeBob SquarePants e livros que ensinam a contar para
crianças em idade pré-escolar patrocinados pelos biscoitos Oreo e
pelos biscoitos Scooby Doo.
Embora as empresas encarem
essas atividades como esforços
promocionais inofensivos, advogados ameaçam uma onda de
processos judiciais coletivos relacionados à obesidade. Os legisladores estão pressionando para
manter as empresas de alimentos
fora das cantinas. Críticos mais ferozes estão solicitando uma proibição completa de toda a publicidade voltada às crianças.
"O problema da obesidade está
tão fora de controle que é preciso
fazer alguma coisa", diz Walter
Willett, professor de nutrição na
Escola de Saúde Pública de Harvard. "A vasta maioria do que eles
vendem é lixo", diz Willett, sobre
as fábricas de alimentos. "Quando você vê marketing relacionado
a frutas e legumes?"
O crescimento nos esforços de
marketing de alimentos acompanha de perto o aumento nos índices de obesidade infantil. Desde
1980, o número de crianças obesas duplicou, para 16% do total,
de acordo com o Centro de Prevenção e Controle de Doenças.
Secretarias de Educação em Nova York e Los Angeles responderam a isso proibindo a venda de
bebidas açucaradas e salgadinhos
em máquinas automáticas instaladas nas escolas.
A maior parte das empresas, a
despeito de algumas promessas
quanto à oferta de alimentos mais
saudáveis e de terem aceito, em alguns casos, a limitação do marketing nas escolas, nega que seja responsável pela epidemia de excesso de peso. Elas dizem que o comportamento sedentário, a falta de
exercício e a supervisão insuficiente dos pais são responsáveis
pelos problemas.
As companhias dizem que seus
comerciais não estimulam a comer em excesso, que os alimentos
que elas anunciam deveriam ser
"parte de uma dieta balanceada" e
que certos tipos de comida deveriam ser encarados apenas como
um item de consumo ocasional.
"Já pensamos em vender cenouras", diz Karin Linhardt, diretora de marketing para jovens da
McDonald's. "Mas os pais dizem
que comem cenouras em casa e
que, quando vão a um McDonald's, querem dar um presente
às crianças, batatas fritas."
Por que as empresas se dedicam
tanto às crianças? Porque, cada
vez mais, o dinheiro está concentrado nessa faixa etária.
"É o maior mercado que existe",
diz James McNeal, professor na
Universidade A&M do Texas e
especialista em marketing infantil. "Crianças entre 4 e 12 anos gastam US$ 30 bilhões com seus desejos e necessidades. Mas sua influência sobre os gastos dos pais já
foi avaliada em US$ 600 bilhões."
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