UOL


São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

Texto Anterior | Índice

FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Mas isso se não houver piora no cenário, avaliam analistas; Brasil perde com alta de juros nos EUA

Dólar pode não ter espaço para subir muito

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se não houver um agravamento do cenário, o câmbio poderá não encontrar muito espaço para alta, segundo analistas.
A maioria dos analistas concorda que o Brasil perdeu atratividade com a alta das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos.
Graças ao aumento da rentabilidade dos títulos do Tesouro dos EUA de dez anos, ficou mais caro trazer dinheiro para o Brasil, e os investidores tendem a se voltar para os papéis norte-americanos.
Por outro lado, afirmam que a diferença entre os juros nos Estados Unidos e os que se pagam no Brasil ainda é muito grande.
"Melhor captar a 12% no exterior do que a 24% no mercado local", diz Pedro Thomazoni, diretor de tesouraria do Lloyds TSB.
Segundo um economista de um outro banco, a Selic pode ficar 6 pontos percentuais acima do risco médio (cerca de 12%, dependendo de quem captava recursos no exterior, na sexta-feira) que o câmbio tenderia a permanecer no patamar atual. Ou seja, a deterioração do cenário não afetaria a redução de juros, que poderiam cair para 18%.
Segundo analistas, o espaço de alta da taxa de juros longos (de títulos do Tesouro dos EUA de dez anos) seria reduzido pela baixíssima taxa básica de juros do país. Sem contar que, para uma boa parcela de especialistas, a recuperação norte-americana deve se mostrar passageira.
Sem grandes mudanças de cenário, uma parcela de analistas estima que a taxa longa norte-americana pare de subir e o dólar volte a ceder um pouco em relação ao real. "A não ser que o risco-país ultrapasse os 1.000 pontos", diz um analista.

Incertezas
Se a maioria dos analistas credita o estresse no câmbio principal mente à alta dos juros de longo prazo norte-americanos, boa parte deles não menospreza o que chamam de incertezas internas.
"O governo cedeu em relação à reforma previdenciária e não sabemos até onde vai continuar cedendo", diz Thomazoni.
"Não está clara a atitude do governo em relação a muitos fatores: à pressão dos sem-terra, à reforma da Previdência e ao acordo com o FMI", diz João Luiz Máscolo, do Ibmec. Máscolo, que também é sócio da Foresee, questiona ainda o objetivo do "swap" (troca) realizado na semana passada.
Nessa operação de "swap" de títulos da dívida externa, considerada um fracasso por parte do mercado, o BC conseguiu trocar apenas dois (os Par Bonds e os Discount Bonds) dos três papéis que intencionava. Não foram aceitas propostas para os principais papéis brasileiros, os C-Bonds.
"Não se sabe se a idéia era fazer um teste para avaliar interesse por papéis brasileiros, que mostrou-se pequeno, aumentar reservas para não ir ao Fundo ou se o governo pretende alongar o acordo", afirma Máscolo.
Apesar da proposta de troca de títulos mais curtos por outros mais longos, o "swap", que ajudou a estressar o mercado na semana passada, também teve vantagens.
Os bônus Par e Discount tinham colaterais (garantias para quem fica com o título). Ao trocar esses títulos, o governo conseguiu a liberação de US$ 490 milhões em garantias colaterais e gerar, somada à nova emissão, US$ 613 milhões em recursos ao país.
"No mínimo houve um problema de "timing". A troca deveria ter sido feita antes da subida dos juros nos EUA. Eles estavam em 3,4% há um mês e meio, um nível insustentável", diz Máscolo.


Texto Anterior: Crise no ar: Milhagem acumulada por cliente deve ser honrada por Varig-TAM
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.