São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

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VÔO DA ÁGUIA

Gastos dos americanos registram o primeiro recuo em nove meses e o maior desde os atentados de 11 de Setembro

Consumo nos EUA tem queda acentuada

DA REDAÇÃO

Os gastos dos consumidores, responsáveis por cerca de dois terços do PIB (Produto Interno Bruto) americano, registraram em junho a maior queda desde o 11 de Setembro, divulgou ontem o Departamento de Comércio.
As despesas caíram 0,7% em relação ao mês anterior, acima das previsões dos analistas, que apontavam queda de 0,1%. O tombo, o primeiro desde setembro de 2003, não era tão elevado desde que os atentados terroristas semearam o medo pelo país e encolheram os gastos em 2001. Em maio, o indicador havia subido 1%.
A queda de junho, afirmou o departamento, ajuda a explicar o desempenho abaixo do esperado pelos economistas no subitem do PIB. Os gastos dos consumidores cresceram 2% no segundo trimestre, metade do previsto e abaixo ainda do registrado nos três primeiros meses do ano (4%).
Ainda de acordo com o órgão, a maior parte da redução ocorreu devido ao declínio das vendas de veículos e de peças, um setor que tem demonstrado volatilidade nas últimas semanas.
Na visão do Federal Reserve (o banco central americano), expressada pelo presidente Alan Greenspan no mês passado, a retração nos gastos com consumo é explicada em parte pela valorização dos custos de energia, especificamente do petróleo.
O relatório de ontem mostrou ainda que a renda pessoal, um "combustível" para os gastos, também foi atingida e subiu 0,2% em junho, a menor alta em mais de um ano. No mês anterior, a expansão havia sido de 0,6%.
Analistas se dividiram quanto ao impacto do relatório. "A questão é saber se a debilidade continuará. Acreditamos que não e que os gastos dos consumidores começarão a subir, mas é uma pausa", disse Paul Ferley, economista do BMO Financial Group.
Muitos, no entanto, relacionaram a redução dos gastos ao temor no mercado de trabalho e afirmaram que é melhor esperar pelos dados do emprego do mês passado, que serão divulgados na sexta-feira. Em junho, houve a criação de 112 mil novas vagas, metade do que era estimado.
"O emprego será um fator-chave para a renda subir e os gastos voltarem a crescer", disse Lynn Reaser, economista do Bank of America Capital Management.
O indicador de ontem é o mais recente a mostrar o enfraquecimento da retomada da economia em junho. Dados sobre vendas no varejo, produção industrial, preços no atacado e gastos com construção já haviam sugerido a queda da atividade nesse mês.
A retração atingiu a economia de tal modo que o país cresceu a uma taxa anualizada de 3% no segundo trimestre, segundo anunciou o governo na sexta-feira passada. A expansão foi menor do que a prevista pelo mercado (em torno de 3,7%) e do que a do trimestre anterior (4,5%).

Retomada
Porém, no mesmo depoimento em que reconheceu a perda de fôlego da atividade, em julho, o presidente do Fed afirmou considerá-la passageira. Indicadores recentes relativos ao mês passado sugerem que, de fato, a economia já voltou a adquirir ritmo.
No início da semana, o ISM (Instituto de Gestão de Oferta, na sigla em inglês) afirmou que o setor industrial intensificou o ritmo de crescimento em julho.
O índice da atividade manufatureira ficou em 62 pontos, alta de 0,9 ponto. Valores acima de 50 pontos apontam expansão da atividade, e abaixo, retração. A retomada atingiu os subitens de novos pedidos e de produção.
De todo modo, o dado sobre consumo afetou as Bolsas. Em Nova York, sob influência também das cotações em alta do petróleo, o índice Dow Jones encerrou com perdas de 0,58%, e o Nasdaq, das ações de empresas de alta tecnologia, de 1,73%.


Com agências internacionais

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