São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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Estabilidade reduz pobreza, diz Rato

JULIANNA SOFIA
LUIZ RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em resposta a críticas contundentes de representantes da sociedade civil sobre a atuação do FMI (Fundo Monetário Internacional), o diretor-gerente da instituição, Rodrigo Rato, afirmou que a estabilidade macroeconômica não é inimiga da redução da pobreza. Ele enfatizou ainda que o Fundo não apoiará países que acreditem em aumento da inflação e da dívida pública.
A convite do próprio diretor-gerente, representantes de nove instituições participaram de um encontro com Rato ontem, em Brasília, para discutir o papel do Fundo. O fato não chega a ser inédito, segundo a assessoria de imprensa do FMI. Outros encontros do gênero já foram realizados no Brasil e, recentemente, em países da África e no Chile.
Na conversa, Rato ouviu ataques sobre a preocupação excessiva do FMI com questões econômicas, a falta de transparência da instituição, além de uma postura antidemocrática. Abaixo, os principais trechos do debate, que foi acompanhado pelos jornalistas.
 

SUPERÁVIT PRIMÁRIO - As entidades foram quase unânimes ao criticar as exigências de arrocho fiscal feitas pelo FMI aos países em dificuldades. De acordo com o assessor do Inesc (Instituto de Estudos Sócio-Econômicos) Alex Jobim, a política ortodoxa do Fundo precisa ser revista para ampliar a capacidade de investimento do Estado. "Superávit primário alto e juros altos são interação perversa", disse. "Isso tem destruído o tecido social", acrescentou Sílvio Sant'Ana da Pastoral da Criança.
Na avaliação de Rato, as políticas que levam ao aumento de inflação são "muito mais responsáveis" pelo aumento da pobreza. "A estabilidade macroeconômica não é inimiga da redução da pobreza, mas é imprescindível para a redução dela."


AJUDA DO FMI - Entre as várias perguntas sobre o papel mundial do FMI, o secretário-executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Carlos Moura, questionou se algum país conseguiu sair de uma crise seguindo estritamente as orientações do Fundo.
"Os países asiáticos estavam em crise nos anos 90 e estariam em crise ainda hoje se não fosse o amparo do FMI. Não quero dizer que o Fundo em todas as suas orientações tenha acertado. Mas não há como se discutir que, se não houvesse esse financiamento, porque no mercado não havia outro, esses países teriam entrado em um ciclo de pobreza e teriam demorado anos para sair da crise."

IMPOSIÇÕES - Em carta entregue pela Rede Brasil a Rato, e subscrita por outras entidades, o FMI é acusado de ter uma postura antidemocrática. Para os representantes da sociedade civil, o Fundo impõe condições duras aos países que precisam do socorro.
"O Fundo não afeta a soberania dos países, pois são os países que demandam uma linha de financiamento, em um momento em que não há nenhuma outra", disse Rato, acrescentando que são os próprios países que desenham os programas de ajuda financeira, contando apenas com o auxílio técnico do FMI. "Mas nós não vamos apoiar uma política econômica que busque o aumento da inflação, da dívida e o aumento do déficit público", disse.


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