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Estabilidade reduz pobreza, diz Rato
JULIANNA SOFIA
LUIZ RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em resposta a críticas contundentes de representantes da sociedade civil sobre a atuação do FMI
(Fundo Monetário Internacional), o diretor-gerente da instituição, Rodrigo Rato, afirmou que a
estabilidade macroeconômica
não é inimiga da redução da pobreza. Ele enfatizou ainda que o
Fundo não apoiará países que
acreditem em aumento da inflação e da dívida pública.
A convite do próprio diretor-gerente, representantes de nove
instituições participaram de um
encontro com Rato ontem, em
Brasília, para discutir o papel do
Fundo. O fato não chega a ser inédito, segundo a assessoria de imprensa do FMI. Outros encontros
do gênero já foram realizados no
Brasil e, recentemente, em países
da África e no Chile.
Na conversa, Rato ouviu ataques sobre a preocupação excessiva do FMI com questões econômicas, a falta de transparência da
instituição, além de uma postura
antidemocrática. Abaixo, os principais trechos do debate, que foi
acompanhado pelos jornalistas.
SUPERÁVIT PRIMÁRIO - As entidades foram quase unânimes ao
criticar as exigências de arrocho
fiscal feitas pelo FMI aos países
em dificuldades. De acordo com o
assessor do Inesc (Instituto de Estudos Sócio-Econômicos) Alex
Jobim, a política ortodoxa do
Fundo precisa ser revista para
ampliar a capacidade de investimento do Estado. "Superávit primário alto e juros altos são interação perversa", disse. "Isso tem
destruído o tecido social", acrescentou Sílvio Sant'Ana da Pastoral da Criança.
Na avaliação de Rato, as políticas que levam ao aumento de inflação são "muito mais responsáveis" pelo aumento da pobreza.
"A estabilidade macroeconômica
não é inimiga da redução da pobreza, mas é imprescindível para
a redução dela."
AJUDA DO FMI - Entre as várias
perguntas sobre o papel mundial
do FMI, o secretário-executivo da
Comissão Brasileira de Justiça e
Paz, Carlos Moura, questionou se
algum país conseguiu sair de uma
crise seguindo estritamente as
orientações do Fundo.
"Os países asiáticos estavam em
crise nos anos 90 e estariam em
crise ainda hoje se não fosse o amparo do FMI. Não quero dizer que
o Fundo em todas as suas orientações tenha acertado. Mas não há
como se discutir que, se não houvesse esse financiamento, porque
no mercado não havia outro, esses países teriam entrado em um
ciclo de pobreza e teriam demorado anos para sair da crise."
IMPOSIÇÕES - Em carta entregue
pela Rede Brasil a Rato, e subscrita por outras entidades, o FMI é
acusado de ter uma postura antidemocrática. Para os representantes da sociedade civil, o Fundo
impõe condições duras aos países
que precisam do socorro.
"O Fundo não afeta a soberania
dos países, pois são os países que
demandam uma linha de financiamento, em um momento em
que não há nenhuma outra", disse Rato, acrescentando que são os
próprios países que desenham os
programas de ajuda financeira,
contando apenas com o auxílio
técnico do FMI. "Mas nós não vamos apoiar uma política econômica que busque o aumento da
inflação, da dívida e o aumento do
déficit público", disse.
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