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Lobby tenta evitar que medidas do governo "anulem" acordo entre empresas e bancos
DA REPORTAGEM LOCAL
Bancos e empresas correm
contra o tempo e se armam para evitar que seus negócios com
a folha de pagamento de funcionários faça água. Amanhã,
na reunião extraordinária do
Conselho Monetário Nacional,
o governo deve anunciar medidas que tornem obrigatória a
abertura de conta salário pela
empresa e que permitam ao
trabalhador transferir dinheiro
para o banco da sua preferência, sem custos. A decisão deverá sair via medida provisória.
Embora a conta salário exista
há dois anos, ela é hoje opcional, e os bancos criam dificuldades para transferir o dinheiro dos trabalhadores para outra
instituição de sua escolha.
Na semana passada, o assunto esteve na pauta do CMN e
enfrentou forte pressão dos
bancos. Eles tentam ganhar
tempo para ampliar sua base de
clientes cativos, conquistando
novas folhas de pagamento.
Querem que a obrigatoriedade
da conta salário só entre em vigor seis meses após a aprovação
e que os contratos já firmados
não sejam atingidos pela medida. Também preferem que as
medidas sejam implantadas via
resolução do BC, e não por MP.
A Folha teve acesso a uma
minuta de resolução discutida
no dia 14, no conselho da Febraban, entre presidentes de
bancos e diretores do Banco
Central. O texto foi aprovado
com apenas um voto contrário
e estabelece a obrigatoriedade
da transferência de salários e
aposentadorias para o banco
que o trabalhador escolher.
Só contratos futuros
A Febraban conseguiu incluir no texto um artigo definindo que a norma não se aplica a contratos e convênios já
existentes. As empresas que licitaram suas folhas de salários
também têm interesse em
manter contratos, já que a ruptura implicaria devolução de
parte do dinheiro recebido no
leilão da folha de pagamento.
A folha de salários sempre foi
forte moeda de troca usada pelas empresas para obter vantagens dos bancos, diz José Carlos Rodrigues, sócio da System
Plus, especializada em administração de pessoal.
"Nos tempos de inflação alta,
os bancos que detinham o pagamento da folha salarial antecipavam o dinheiro para as empresas e não cobravam juros."
Hoje, diz Rodrigues, eles
querem reter os funcionários
como clientes. As empresas que
ainda não aderiram aos leilões
conseguem descontos nas tarifas, juros menores nos financiamentos e até uma linha de
crédito pré-aprovada.
Os bancos chegam a oferecer
financiamentos com juros 30%
abaixo dos de mercado às empresas que lhes entregam suas
folhas de pagamento, segundo
Celso Eduardo, diretor de recursos humanos do grupo Soma. "Também podem ocorrer
negociações de tarifas menores
para os funcionários, mas isso
não é prioritário", observa.
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