São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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Lobby tenta evitar que medidas do governo "anulem" acordo entre empresas e bancos

DA REPORTAGEM LOCAL

Bancos e empresas correm contra o tempo e se armam para evitar que seus negócios com a folha de pagamento de funcionários faça água. Amanhã, na reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional, o governo deve anunciar medidas que tornem obrigatória a abertura de conta salário pela empresa e que permitam ao trabalhador transferir dinheiro para o banco da sua preferência, sem custos. A decisão deverá sair via medida provisória.
Embora a conta salário exista há dois anos, ela é hoje opcional, e os bancos criam dificuldades para transferir o dinheiro dos trabalhadores para outra instituição de sua escolha.
Na semana passada, o assunto esteve na pauta do CMN e enfrentou forte pressão dos bancos. Eles tentam ganhar tempo para ampliar sua base de clientes cativos, conquistando novas folhas de pagamento. Querem que a obrigatoriedade da conta salário só entre em vigor seis meses após a aprovação e que os contratos já firmados não sejam atingidos pela medida. Também preferem que as medidas sejam implantadas via resolução do BC, e não por MP.
A Folha teve acesso a uma minuta de resolução discutida no dia 14, no conselho da Febraban, entre presidentes de bancos e diretores do Banco Central. O texto foi aprovado com apenas um voto contrário e estabelece a obrigatoriedade da transferência de salários e aposentadorias para o banco que o trabalhador escolher.

Só contratos futuros
A Febraban conseguiu incluir no texto um artigo definindo que a norma não se aplica a contratos e convênios já existentes. As empresas que licitaram suas folhas de salários também têm interesse em manter contratos, já que a ruptura implicaria devolução de parte do dinheiro recebido no leilão da folha de pagamento.
A folha de salários sempre foi forte moeda de troca usada pelas empresas para obter vantagens dos bancos, diz José Carlos Rodrigues, sócio da System Plus, especializada em administração de pessoal.
"Nos tempos de inflação alta, os bancos que detinham o pagamento da folha salarial antecipavam o dinheiro para as empresas e não cobravam juros."
Hoje, diz Rodrigues, eles querem reter os funcionários como clientes. As empresas que ainda não aderiram aos leilões conseguem descontos nas tarifas, juros menores nos financiamentos e até uma linha de crédito pré-aprovada.
Os bancos chegam a oferecer financiamentos com juros 30% abaixo dos de mercado às empresas que lhes entregam suas folhas de pagamento, segundo Celso Eduardo, diretor de recursos humanos do grupo Soma. "Também podem ocorrer negociações de tarifas menores para os funcionários, mas isso não é prioritário", observa.


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