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MERCADO TENSO
Moody's rebaixa país tanto na dívida externa quanto interna; empresas também têm nota mais baixa
Agência diz que "risco Brasil" aumentou
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
A Moody"s,
uma das principais agências de
classificação de
risco do mundo,
rebaixou ontem
as notas do Brasil, indicando
que a percepção de risco do país
aumentou.
A dívida em moeda estrangeira
do governo -títulos emitidos e
negociados no exterior- teve seu
"rating" (classificação de risco)
reduzido de "B1" para "B2".
A Moody's classifica como risco
"B" as dívidas com pequena probabilidade de pagamento em períodos prolongados.
Ao trocar a nota brasileira de
"B1" para "B2", a agência rebaixou o país em um degrau dentro
dessa categoria.
A dívida do governo em moeda
local foi rebaixada para um grau
de risco ainda maior. Representada pelos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central, a dívida interna teve sua nota
cortada de "B1" para "Caa1".
A categoria "Caa" inclui os títulos inadimplentes ou com chances de se tornar inadimplentes.
Na prática, a Moody's disse para
os investidores que a probabilidade de o governo brasileiro deixar
de pagar sua dívida cresceu.
"A falta de capital disponível
para países emergentes vai durar
mais do que as pessoas esperam.
Isso torna mais arriscados os países que dependem de financiamento externo, e esse é o caso do
Brasil", diz Ernesto Martinez-Alas, vice-presidente da Moody's
responsável pela área de risco soberano, ou seja, do país.
O agravamento da crise financeira internacional, após a moratória russa, afugentou os investidores dos países emergentes.
Hoje, praticamente não existem
compradores para títulos brasileiros no exterior, dispostos a financiar a dívida do país.
Outro indício de dificuldade para rolar a dívida do governo começou a surgir nos últimos dias, desta vez, internamente.
O Banco Central e o Tesouro não
têm conseguido vender todos os
títulos que vão a leilão.
O risco soberano do país serve
de teto para a classificação atribuída a dívidas de empresas, Estados
e municípios.
Por conta disso, a Moody's também rebaixou a nota dos bônus
emitidos no exterior por empresas, bancos e Estados que estavam
no teto anterior.
Tiveram a nota mudada de
"B1" para "B2": Aracruz Celulose, Ceval Alimentos, Ceval Overseas, CSN Iron, Espírito Santo
Centrais Elétricas, Globo Comunicações Participações, Multicanal
Participações, Petrobrás, Rio de
Janeiro (a cidade), Rossi Residencial, Telebrás, Bahia (o Estado) e
Ceará (o Estado).
Há nove anos a Moody's não rebaixava uma nota brasileira. A última vez em que a classificação do
país foi alterada foi em novembro
de 1994.
Naquele ano, o país fez exatamente o caminho inverso ao de
ontem: a nota das dívidas em moeda estrangeira subiu de "B2" para "B1".
Com a nova classificação, o Brasil se equipara a países como Paraguai, Nicarágua, Ucrânia e Bulgária. Antes, o país estava no mesmo
grau de risco de Bolívia, Equador,
Líbano e Turquia.
Em junho deste ano a Moody's
anunciou que estava alterando a
tendência futura ("outlook") do
Brasil de "estável" para "negativa", em um prenúncio do rebaixamento que ocorreu ontem.
Credibilidade em xeque
Desde o início da crise asiática,
no ano passado, a credibilidade
das agências de classificação de
risco tem sido testada. Isso porque
alguns dos países que quebraram
recebiam notas bastante favoráveis na ocasião, como foi o caso da
Tailândia e da Malásia.
Mesmo não sendo a unanimidade que era antes, o "rating" é
acompanhado atentamente pelos
investidores, principalmente
quando a tendência é de piora.
Em 23 de dezembro passado,
por exemplo, as moedas asiáticas
enfrentaram uma pesada onda de
desvalorização depois que a
Moody's e sua concorrente, a
Standard & Poor's, rebaixaram as
notas dos países da região.
CSN
A CSN (Companhia Siderúrgica
Nacional) informa que não será
afetada pelo rebaixamento porque
não tem empréstimo vencendo no
exterior e só pretende fazer novas
operações em 99.
Outras empresas como Petrobrás e Ceval, ou mesmo os governos do Ceará e Bahia, não comentaram o assunto.
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