São Paulo, sexta, 4 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Moody's rebaixa país tanto na dívida externa quanto interna; empresas também têm nota mais baixa
Agência diz que "risco Brasil" aumentou

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local


A Moody"s, uma das principais agências de classificação de risco do mundo, rebaixou ontem as notas do Brasil, indicando que a percepção de risco do país aumentou.
A dívida em moeda estrangeira do governo -títulos emitidos e negociados no exterior- teve seu "rating" (classificação de risco) reduzido de "B1" para "B2".
A Moody's classifica como risco "B" as dívidas com pequena probabilidade de pagamento em períodos prolongados.
Ao trocar a nota brasileira de "B1" para "B2", a agência rebaixou o país em um degrau dentro dessa categoria.
A dívida do governo em moeda local foi rebaixada para um grau de risco ainda maior. Representada pelos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central, a dívida interna teve sua nota cortada de "B1" para "Caa1".
A categoria "Caa" inclui os títulos inadimplentes ou com chances de se tornar inadimplentes.
Na prática, a Moody's disse para os investidores que a probabilidade de o governo brasileiro deixar de pagar sua dívida cresceu.
"A falta de capital disponível para países emergentes vai durar mais do que as pessoas esperam. Isso torna mais arriscados os países que dependem de financiamento externo, e esse é o caso do Brasil", diz Ernesto Martinez-Alas, vice-presidente da Moody's responsável pela área de risco soberano, ou seja, do país.
O agravamento da crise financeira internacional, após a moratória russa, afugentou os investidores dos países emergentes.
Hoje, praticamente não existem compradores para títulos brasileiros no exterior, dispostos a financiar a dívida do país.
Outro indício de dificuldade para rolar a dívida do governo começou a surgir nos últimos dias, desta vez, internamente.
O Banco Central e o Tesouro não têm conseguido vender todos os títulos que vão a leilão.
O risco soberano do país serve de teto para a classificação atribuída a dívidas de empresas, Estados e municípios.
Por conta disso, a Moody's também rebaixou a nota dos bônus emitidos no exterior por empresas, bancos e Estados que estavam no teto anterior.
Tiveram a nota mudada de "B1" para "B2": Aracruz Celulose, Ceval Alimentos, Ceval Overseas, CSN Iron, Espírito Santo Centrais Elétricas, Globo Comunicações Participações, Multicanal Participações, Petrobrás, Rio de Janeiro (a cidade), Rossi Residencial, Telebrás, Bahia (o Estado) e Ceará (o Estado).
Há nove anos a Moody's não rebaixava uma nota brasileira. A última vez em que a classificação do país foi alterada foi em novembro de 1994.
Naquele ano, o país fez exatamente o caminho inverso ao de ontem: a nota das dívidas em moeda estrangeira subiu de "B2" para "B1".
Com a nova classificação, o Brasil se equipara a países como Paraguai, Nicarágua, Ucrânia e Bulgária. Antes, o país estava no mesmo grau de risco de Bolívia, Equador, Líbano e Turquia.
Em junho deste ano a Moody's anunciou que estava alterando a tendência futura ("outlook") do Brasil de "estável" para "negativa", em um prenúncio do rebaixamento que ocorreu ontem.
Credibilidade em xeque
Desde o início da crise asiática, no ano passado, a credibilidade das agências de classificação de risco tem sido testada. Isso porque alguns dos países que quebraram recebiam notas bastante favoráveis na ocasião, como foi o caso da Tailândia e da Malásia.
Mesmo não sendo a unanimidade que era antes, o "rating" é acompanhado atentamente pelos investidores, principalmente quando a tendência é de piora.
Em 23 de dezembro passado, por exemplo, as moedas asiáticas enfrentaram uma pesada onda de desvalorização depois que a Moody's e sua concorrente, a Standard & Poor's, rebaixaram as notas dos países da região.
CSN
A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) informa que não será afetada pelo rebaixamento porque não tem empréstimo vencendo no exterior e só pretende fazer novas operações em 99.
Outras empresas como Petrobrás e Ceval, ou mesmo os governos do Ceará e Bahia, não comentaram o assunto.



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