São Paulo, sexta, 4 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Lojistas se preparam para trocar sistema de cobrança de juros; uso de taxas pré-fixadas deve diminuir
Incerteza leva comércio a juro pós-fixado

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local


Uma conquista importante da economia brasileira está ameaçada. O comércio está se preparando para trocar o sistema de cobrança de juros. Deve diminuir o uso de taxas pré-fixadas, em que o cliente sabe o quanto vai pagar da primeira à ultima prestação. Em seu lugar, os lojistas preparam a volta do sistema pós-fixado, em que as taxas variam ao longo do tempo.
"O comércio está preparando uma troca generalizada do sistema de juros", diz Fábio Pina, economista da Federação do Comércio de São Paulo. "É um sinal de incerteza grave, um retrocesso nas conquistas que o país fez com a estabilidade econômica."
A troca é consequência dos receios em torno do futuro da economia. Ficou mais difícil para as empresas captar dinheiro a longo prazo porque há o temor de que o governo tenha de subir as taxas de uma hora para outra. "Está difícil fazer uma projeção da taxa futura" , diz Salomão Alelaf, diretor da financeira Losango.
A incerteza levou a um aumento dos juros cobrados das empresas no mercado financeiro. Em agosto, as taxas de um ano subiram de 23% ao mês para 35%.
A alta dos custos de captação associada ao medo de um solavanco dos juros está levando o comércio a buscar duas alternativas: subir os juros desde já ou adotar taxas pós-fixadas.
Os bancos de montadoras de carros estão subindo suas taxas e as concessionárias devem incentivar mais contratos pós-fixados. Na venda de carros, os contratos pós-fixados variam conforme a oscilação do dólar. Os "contratos cambiais" cobram juros mais baixos, mas têm o risco de multiplicar o valor da prestação no caso de uma desvalorização do real.
"Muitas concessionárias vão forçar mais a venda com contratos de variação cambial para se proteger. Os clientes não devem comprometer mais do que 30% da renda em um contrato como esse, mais sujeito a variações", diz Naul Ozi, diretor da concessionária Sopave.
Os bancos também estão revendo suas taxas e já se fala no cancelamento de linhas de crédito."Como o custo de captação aumentou, também tivemos de elevar em 0,5% as taxas que cobramos nos empréstimos que são negociados nas agências, com os gerentes", diz Paulo Renato Steiner, diretor do HSBC.



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