São Paulo, Segunda-feira, 04 de Outubro de 1999
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PETRÓLEO
Recursos a serem captados devem ser usados em 4 anos no maior programa de investimento do país
Petrobras quer investir US$ 20 bi

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
enviada especial ao Rio

A Petrobras está montando uma série de sofisticadas operações financeiras para levantar recursos no exterior e investir cerca de US$ 4 bilhões neste ano e mais de US$ 20 bilhões em quatro anos. Só no próximo ano, a previsão é de aplicar US$ 6 bilhões.
É o maior programa de investimentos de uma empresa no Brasil, seja privada ou estatal. É como se a Petrobras fosse investir nos quatro próximos anos duas vezes o orçamento anual do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Um dos objetivos centrais desse programa é aumentar a produção de petróleo de forma que o país seja auto-suficiente em 2003 ou 2004.
"Neste ano, nossa produção média diária é de cerca de 1,13 milhão de barris ao dia. Nossa meta é aumentar a produção para que em 2003 seja de 1,75 milhão ao dia, que é aproximadamente o consumo atual", diz Henri Philipe Reichstul, presidente da Petrobras. Atingir a auto-suficiência em quatro ou cinco anos vai depender da evolução do consumo.
"O consumo de combustíveis tem crescido sistematicamente nos últimos anos, mesmo em tempos de recessão. Em parte, por causa da expansão da fronteira agrícola, mas também foram feitos vários programas de compra de automóvel e houve fases de controle de preços da gasolina", afirma Reichstul.
Hoje, o país precisa importar cerca de 600 mil barris diários de petróleo e o debate sobre buscar a auto-suficiência voltou a esquentar diante da recente tendência de elevação dos preços do petróleo. Reichstul acha que o preço do barril vai se estabilizar em torno de US$ 21.
Esse nível de preços seria um estímulo para a Petrobras continuar investindo pesadamente na descoberta e extração porque o custo do barril para a empresa é de US$ 13 em média.

No país
A Petrobras ainda está fazendo os cálculos de quantos empregos diretos e indiretos serão criados com os investimentos dos próximos anos. Mas já adotou critérios para favorecer a produção e o emprego no mercado interno.
Uma das decisões foi, por exemplo, decidir que terão que ser contratados no Brasil entre 60% e 70% dos bens e serviços a serem comprados com um financiamento que recebeu o sinal verde do Eximbank japonês na semana passada. O valor do empréstimo é de US$ 800 milhões e tem a participação de bancos privados, principalmente do Japão, e do BNDES. Os recursos serão usados para desenvolver o campo de petróleo de Cabiúnas.
Essa operação faz parte de um programa para levantar US$ 7,3 bilhões pelo sistema de "project finance". Nessa modalidade de financiamento, a principal garantia ao financiador é a renda a ser gerada pelo próprio projeto.
Outro tipo de negócio que está sendo feito pela estatal é vender plataformas em uso para investidores institucionais. A primeira operação foi fechada em julho, levantando US$ 132 milhões para a Petrobras, com a venda de uma plataforma do campo de Marlim, no Estado do Rio. Existe a intenção de vender mais seis.
Além de levantar mais recursos para financiar os investimentos, a Petrobras está procurando reduzir os custos financeiros, fazendo operações de mais longo prazo e juros menores.
Neste ano, essa maior ênfase na captação de recursos de terceiros já resultou em um aumento no total a ser investido, que deverá ultrapassar US$ 4 bilhões.
Com recursos do orçamento da própria empresa, vão ser investidos cerca de R$ 2 bilhões. Contabilizando-se as operações financeiras, serão mais US$ 2 bilhões ou US$ 2,5 bilhões neste ano.




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