São Paulo, Segunda-feira, 04 de Outubro de 1999
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MEMÓRIA
Akio Morita, considerado ousado demais, revolucionou o capitalismo e anteviu o processo de globalização
Associated Press
Akio Morita, que morreu ontem em Tóquio, com pneumonia


Fundador da Sony morre aos 78 anos

das agências internacionais

Terminou ontem num leito de hospital a saga de um dos maiores nomes da história do capitalismo mundial. Akio Morita, um dos fundadores da multinacional japonesa Sony, um gigante do setor eletrônico, morreu domingo, em Tóquio, aos 78 anos, vítima de pneumonia.
Líder empresarial admirado no mundo todo, Morita foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da economia japonesa no pós-guerra.
Fortemente influenciado por suas idéias e pelos avanços da Sony, o empresariado japonês promoveu uma reviravolta na indústria nos anos 70 e 80. Nessa época as fábricas japonesas deram um salto de qualidade, reduziram preços e passaram a inundar o mercado mundial com aparelhos eletrônicos e automóveis.
A Sony faturou cerca de US$ 60 bilhões no ano passado. É mais conhecida pela produção de aparelhos eletrônicos, mas é uma potência também no ramo de entretenimento. Possui estúdios de cinema, gravadora de discos e tem canais de televisão.
O empresário passou os últimos anos de sua vida no Havaí, recuperando-se de uma hemorragia cerebral que sofreu em 93, enquanto disputava uma partida de tênis, um de seus esportes favoritos. Desde então, vinha acompanhando a Sony à distância.
Tinha retornado a Tóquio em agosto, depois de uma recaída em seu estado de saúde, e foi internado num hospital no mês passado.
Mais de 400 pessoas visitaram ontem a casa da família Morita, para prestar homenagem ao co-fundador da Sony. O primeiro-ministro japonês, Keizo Obuchi, disse que "Morita foi uma figura fundamental no desenvolvimento da economia japonesa".
O governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, que junto com Morita escreveu o livro "O Japão que Sabe Dizer Não", disse que o empresário "tinha uma mente internacional que fez falta ao Japão no passado".
Agressivo nos negócios, Morita chegou a ser considerado ousado demais pelo empresariado japonês, extremamente conservador. Ele tinha uma vocação especial para antecipar tendências e perceber problemas antes dos outros.
No final dos anos 80, Morita já sugeria muitas das reformas que agora estão sendo aplicadas pelo governo para tirar o Japão de seu pior desempenho econômico das últimas décadas. Foi ele que transformou a Sony numa das primeiras corporações de alcance mundial. Percebeu, antes dos outros, que as empresas que pudessem atuar além de suas fronteiras teriam mais chances de crescer.
Filho de um importante destilador de saquê de Nagoya (Japão), Morita foi preparado para assumir a empresa da família. Trocou a segurança de um negócio estabelecido pela aventura de abrir sua própria empresa.
Com US$ 500 no bolso e ajuda do pai, abriu junto com um grupo de amigos uma fábrica de panelas para cozinhar arroz. Deu tudo errado, Morita e seus amigos mudaram de ramo e começaram a construir o império da Sony.
Morita fez sua estréia no ramo de produtos eletrônicos fabricando gravadores e fitas magnéticas. A Sony fez os primeiros rádios e televisores do Japão equipados com transistores. Também foi pioneiro na produção de videocassetes para uso doméstico.
Sua maior invenção foi o walkman. A idéia nasceu da observação de que as pessoas levavam rádios enormes para a praia e aos parques. A Sony foi também a primeira companhia japonesa a negociar suas ações na Bolsa de Nova York, em 1970, e, dois anos mais tarde, a primeira a construir uma fábrica nos EUA.


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