São Paulo, Segunda-feira, 04 de Outubro de 1999
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Empresário provocava polêmicas

GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas

Akio Morita foi um dos mais polêmicos empresários japoneses, sempre pronto a emitir opiniões que iam contra a corrente do senso comum.
Um dos fundadores e presidente honorário da Sony, Morita nasceu em 1921 e construiu seu império econômico a partir de um barraco. Tornou-se ainda mais polêmico ao adquirir a CBS e a Columbia Pictures, nos Estado Unidos.
Sua família dedicou-se a fabricar saquê (aguardente de arroz) por 14 gerações. Quando jovem, seu passatempo era desmontar relógios e ouvir música clássica ocidental. Diplomado em física, ganhou experiência trabalhando num centro de pesquisas da marinha japonesa, no desenvolvimento de mísseis guiados por energia térmica, entre outros projetos. Imediatamente após a Segunda Guerra Mundial Morita fundou a Tokyo Tsushin Kogyo, uma microempresa dedicada ao conserto de rádios, com dez trabalhadores, embrião da futura Sony.
O primeiro produto foi um fracasso: uma panela elétrica para arroz que não funcionava bem. Outro produto da empresa foi um gravador de 50 quilos, cópia de um modelo alemão e que abriu as portas para o setor de áudio. O primeiro cliente foi a Academia de Artes de Tóquio.
Em 1950, a Sony pagou US$ 25 mil pelos direitos de patente de uma poderosa invenção norte-americana: o transistor. A partir daí a empresa criou o primeiro rádio sem válvula do mundo e desenvolveu produtos miniaturizados com grande penetração no mercado mundial. Em 1971 a Sony vendia US$ 629 milhões, 55% no exterior. Em 1985 Akio Morita assumiu a Associação de Indústrias Eletrônicas do Japão e em 1986, a presidência da Keidanren, a federação das organizações empresariais japonesas. Em 1987 o faturamento da empresa alcançava US$ 8,7 bilhões.
Mas o destaque alcançado por Morita deveu-se principalmente à sua atuação internacional, às vezes escandalosa. Foi o caso do livro que escreveu com Shintaro Ishihara, político ultradireitista japonês, "O Japão que Sabe Dizer Não". O livro acusa os norte-americanos de racistas e sugere atitudes diplomáticas mais agressivas por parte do Japão, contrariando a tradição japonesa de nunca dizer não.
Ainda em 93, Morita dizia que o déficit comercial dos EUA tinha como causa a ineficiência da estrutura econômica norte-americana, e não práticas comerciais desleais por parte das empresas japonesas, como geralmente colocava a mídia.
Outro livro de sucesso é "Made in Japan", a autobiografia de Morita, publicado no Brasil em 1986. Morita relembra como esteve sempre envolvido diretamente na linha de produção, do teste de materiais à luta contra contadores e gerentes que viam no "walkman" um produto sem futuro. O toca-fitas portátil tornou-se o grande sucesso mercadológico da Sony nos anos 80.


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