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Empresário provocava polêmicas
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Akio Morita foi um dos mais
polêmicos empresários japoneses, sempre pronto a emitir
opiniões que iam contra a corrente do senso comum.
Um dos fundadores e presidente honorário da Sony, Morita nasceu em 1921 e construiu
seu império econômico a partir
de um barraco. Tornou-se ainda mais polêmico ao adquirir a
CBS e a Columbia Pictures, nos
Estado Unidos.
Sua família dedicou-se a fabricar saquê (aguardente de arroz) por 14 gerações. Quando
jovem, seu passatempo era
desmontar relógios e ouvir
música clássica ocidental. Diplomado em física, ganhou experiência trabalhando num
centro de pesquisas da marinha japonesa, no desenvolvimento de mísseis guiados por
energia térmica, entre outros
projetos. Imediatamente após
a Segunda Guerra Mundial
Morita fundou a Tokyo Tsushin Kogyo, uma microempresa
dedicada ao conserto de rádios,
com dez trabalhadores, embrião da futura Sony.
O primeiro produto foi um
fracasso: uma panela elétrica
para arroz que não funcionava
bem. Outro produto da empresa foi um gravador de 50 quilos,
cópia de um modelo alemão e
que abriu as portas para o setor
de áudio. O primeiro cliente foi
a Academia de Artes de Tóquio.
Em 1950, a Sony pagou US$
25 mil pelos direitos de patente
de uma poderosa invenção
norte-americana: o transistor.
A partir daí a empresa criou o
primeiro rádio sem válvula do
mundo e desenvolveu produtos miniaturizados com grande
penetração no mercado mundial. Em 1971 a Sony vendia
US$ 629 milhões, 55% no exterior. Em 1985 Akio Morita assumiu a Associação de Indústrias Eletrônicas do Japão e em
1986, a presidência da Keidanren, a federação das organizações empresariais japonesas.
Em 1987 o faturamento da empresa alcançava US$ 8,7 bilhões.
Mas o destaque alcançado
por Morita deveu-se principalmente à sua atuação internacional, às vezes escandalosa.
Foi o caso do livro que escreveu
com Shintaro Ishihara, político
ultradireitista japonês, "O Japão que Sabe Dizer Não". O livro acusa os norte-americanos
de racistas e sugere atitudes diplomáticas mais agressivas por
parte do Japão, contrariando a
tradição japonesa de nunca dizer não.
Ainda em 93, Morita dizia
que o déficit comercial dos
EUA tinha como causa a ineficiência da estrutura econômica
norte-americana, e não práticas comerciais desleais por
parte das empresas japonesas,
como geralmente colocava a
mídia.
Outro livro de sucesso é "Made in Japan", a autobiografia de
Morita, publicado no Brasil em
1986. Morita relembra como
esteve sempre envolvido diretamente na linha de produção,
do teste de materiais à luta contra contadores e gerentes que
viam no "walkman" um produto sem futuro. O toca-fitas
portátil tornou-se o grande sucesso mercadológico da Sony
nos anos 80.
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