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QUEDA-DE-BRAÇO
Centrais sindicais propõem aumentos de 20% e querem reduzir jornada de 44 para 40 horas semanais
Patrões querem limitar reajustes a 5%
ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria quer dar apenas 5%
de aumento salarial para os empregados com dissídios neste trimestre. Os trabalhadores não
aceitam menos do que a inflação
de 9,21%, de setembro de 99 a
agosto deste ano, segundo o Dieese. Querem também produtividade e redução de jornada. Resultado: os sindicatos já falam em greve para pressionar por reajustes e
benefícios.
Esse é o cenário atual das negociações entre patrões e empregados das principais categorias profissionais do país, como petroleiros, metalúrgicos, químicos, bancários e comerciários.
Com a recuperação da economia, a expectativa era que houvesse aumento real de salários para
os empregados neste trimestre.
Essa idéia ganhou mais força
quando se constatou a recuperação, mesmo tímida, da massa salarial, que cresceu 1,6% de janeiro
a julho deste ano, segundo a CNI
(Confederação Nacional da Indústria). A tendência, porém, não
parece ser essa.
As negociações entre sindicalistas e empresas estão apenas começando, mas há indícios de que,
neste ano, nem todas as categorias
irão recompor as perdas com a inflação. Os trabalhadores consideram a inflação do Dieese para as
negociações salariais.
Maior empresa estatal do país, a
Petrobras enviou ao sindicato dos
trabalhadores do setor uma contraproposta que considera ideal:
um reajuste de 5%. Os trabalhadores querem negociar 9,21%.
Ontem, a Federação Única dos
Petroleiros (FUP) esteve reunida
para debater a questão. Hoje, 20
sindicatos da área petroleira se
encontram no Rio de Janeiro e devem rejeitar a proposta patronal.
A expectativa é que seja declarado
estado de greve na companhia.
Também hoje, diretores de sindicatos de trabalhadores das indústrias químicas ligados à Força
Sindical e à CUT se reúnem na sede da Federação dos Trabalhadores das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo para traçar estratégias de negociações com as indústrias.
As negociações entre trabalhadores e patrões devem esquentar
ainda mais a partir da semana que
vem, quando estão marcadas várias reuniões. Os sindicatos de
empregados filiados à Força Sindical e à CUT propõem aumento
de 20% nos salários, referentes às
perdas salariais, inflação e produtividade. As empresas dizem que
5% é suficiente.
Greve
"Acho que vai ter muita greve
pipocando até o final do ano", diz
Paulo Pereira da Silva, presidente
da Força Sindical. "Os empresários estão ganhando mais dinheiro com a recuperação da economia e não querem repassar isso
para os trabalhadores."
Ainda em passos lentos, as negociações entre bancos e empregados patinam. A Fenaban, associação que reúne as instituições financeiras, fala em conceder reajustes de 5% (a mesma taxa de
99). Não quer discutir produtividade, diz o sindicato. Os bancários falam em aumento de 9,21%.
Quem já negociou aumentos
quer mais. Em Manaus, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria
Eletroeletrônica, Metalúrgica e
Mecânica já acertou aumento de
5% em agosto. "Vamos tentar aumentar um pouco esse percentual
por meio de negociações individuais com as empresas a partir de
agora", diz Agostinho Pereira
Correa, presidente do sindicato.
Na próxima semana, a Força,
que representa 2,1 milhões de trabalhadores no Estado de São Paulo, começa a conversar com os representantes das indústrias de
máquinas e de autopeças.
Pela proposta unificada com
seus sindicatos, a Força propõe
aumento de 20% de salário, piso
salarial de R$ 500 (hoje é de R$
350), redução da jornada de 44
para 40 horas semanais, e seguro-desemprego privado. Nesse último item, se o trabalhador é demitido, ele teria direito a receber dois
salários mínimos por três meses.
"Os sindicalistas têm a percepção de que a economia está indo
maravilhosamente bem. Essa não
é a situação real. A retomada não
acontece em todos os setores",
afirma Fernando Tadeu Perez, vice-presidente de recursos humanos da Volkswagen.
Segundo ele, dificilmente os salários serão corrigidos acima da
inflação. Reajustes superiores à
inflação, diz, resultam em aumentos de custos. "Mais preços, menos vendas. Isso pode colocar em
risco novamente o emprego."
A Fiat, em Minas Gerais, já colocou na mesa de negociação a proposta de reajuste salarial de 5%,
assim como outras indústrias da
região filiadas à Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).
"Só que muitas indústrias oferecem participação no lucro e nos
resultados e isso já é aumento de
produtividade", afirma Osmani
Teixeira de Abreu, vice-presidente da Fiemg e diretor de relações
industriais da Fiat.
José Luiz Dias, vice-presidente
de recursos humanos da Philips,
diz que os aumentos salariais superiores à inflação podem resultar em alta de preços. "Os salários
devem subir em torno da inflação,
pois o consumidor não aceita pagar mais pelos produtos"
Segundo ele, mesmo mantendo
os reajustes de salários em torno
da inflação, o impacto nos custos
de produção pode variar de 2% a
10%, dependendo da linha de
produtos. "Não vamos repassar
isso para os preços."
A Perdigão informa que em
maio e junho negociou aumento
de salário de 5% para seus funcionários. "Só que a empresa agrega
outros benefícios aos trabalhadores anualmente", afirma Dorival
Carlos Borga, gerente corporativo
de relações humanas.
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