São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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QUEDA-DE-BRAÇO
Centrais sindicais propõem aumentos de 20% e querem reduzir jornada de 44 para 40 horas semanais
Patrões querem limitar reajustes a 5%

ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria quer dar apenas 5% de aumento salarial para os empregados com dissídios neste trimestre. Os trabalhadores não aceitam menos do que a inflação de 9,21%, de setembro de 99 a agosto deste ano, segundo o Dieese. Querem também produtividade e redução de jornada. Resultado: os sindicatos já falam em greve para pressionar por reajustes e benefícios.
Esse é o cenário atual das negociações entre patrões e empregados das principais categorias profissionais do país, como petroleiros, metalúrgicos, químicos, bancários e comerciários.
Com a recuperação da economia, a expectativa era que houvesse aumento real de salários para os empregados neste trimestre.
Essa idéia ganhou mais força quando se constatou a recuperação, mesmo tímida, da massa salarial, que cresceu 1,6% de janeiro a julho deste ano, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria). A tendência, porém, não parece ser essa.
As negociações entre sindicalistas e empresas estão apenas começando, mas há indícios de que, neste ano, nem todas as categorias irão recompor as perdas com a inflação. Os trabalhadores consideram a inflação do Dieese para as negociações salariais.
Maior empresa estatal do país, a Petrobras enviou ao sindicato dos trabalhadores do setor uma contraproposta que considera ideal: um reajuste de 5%. Os trabalhadores querem negociar 9,21%.
Ontem, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) esteve reunida para debater a questão. Hoje, 20 sindicatos da área petroleira se encontram no Rio de Janeiro e devem rejeitar a proposta patronal. A expectativa é que seja declarado estado de greve na companhia.
Também hoje, diretores de sindicatos de trabalhadores das indústrias químicas ligados à Força Sindical e à CUT se reúnem na sede da Federação dos Trabalhadores das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo para traçar estratégias de negociações com as indústrias.
As negociações entre trabalhadores e patrões devem esquentar ainda mais a partir da semana que vem, quando estão marcadas várias reuniões. Os sindicatos de empregados filiados à Força Sindical e à CUT propõem aumento de 20% nos salários, referentes às perdas salariais, inflação e produtividade. As empresas dizem que 5% é suficiente.

Greve
"Acho que vai ter muita greve pipocando até o final do ano", diz Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical. "Os empresários estão ganhando mais dinheiro com a recuperação da economia e não querem repassar isso para os trabalhadores."
Ainda em passos lentos, as negociações entre bancos e empregados patinam. A Fenaban, associação que reúne as instituições financeiras, fala em conceder reajustes de 5% (a mesma taxa de 99). Não quer discutir produtividade, diz o sindicato. Os bancários falam em aumento de 9,21%.
Quem já negociou aumentos quer mais. Em Manaus, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Eletroeletrônica, Metalúrgica e Mecânica já acertou aumento de 5% em agosto. "Vamos tentar aumentar um pouco esse percentual por meio de negociações individuais com as empresas a partir de agora", diz Agostinho Pereira Correa, presidente do sindicato.
Na próxima semana, a Força, que representa 2,1 milhões de trabalhadores no Estado de São Paulo, começa a conversar com os representantes das indústrias de máquinas e de autopeças.
Pela proposta unificada com seus sindicatos, a Força propõe aumento de 20% de salário, piso salarial de R$ 500 (hoje é de R$ 350), redução da jornada de 44 para 40 horas semanais, e seguro-desemprego privado. Nesse último item, se o trabalhador é demitido, ele teria direito a receber dois salários mínimos por três meses.
"Os sindicalistas têm a percepção de que a economia está indo maravilhosamente bem. Essa não é a situação real. A retomada não acontece em todos os setores", afirma Fernando Tadeu Perez, vice-presidente de recursos humanos da Volkswagen.
Segundo ele, dificilmente os salários serão corrigidos acima da inflação. Reajustes superiores à inflação, diz, resultam em aumentos de custos. "Mais preços, menos vendas. Isso pode colocar em risco novamente o emprego."
A Fiat, em Minas Gerais, já colocou na mesa de negociação a proposta de reajuste salarial de 5%, assim como outras indústrias da região filiadas à Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).
"Só que muitas indústrias oferecem participação no lucro e nos resultados e isso já é aumento de produtividade", afirma Osmani Teixeira de Abreu, vice-presidente da Fiemg e diretor de relações industriais da Fiat.
José Luiz Dias, vice-presidente de recursos humanos da Philips, diz que os aumentos salariais superiores à inflação podem resultar em alta de preços. "Os salários devem subir em torno da inflação, pois o consumidor não aceita pagar mais pelos produtos"
Segundo ele, mesmo mantendo os reajustes de salários em torno da inflação, o impacto nos custos de produção pode variar de 2% a 10%, dependendo da linha de produtos. "Não vamos repassar isso para os preços."
A Perdigão informa que em maio e junho negociou aumento de salário de 5% para seus funcionários. "Só que a empresa agrega outros benefícios aos trabalhadores anualmente", afirma Dorival Carlos Borga, gerente corporativo de relações humanas.



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