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COMÉRCIO MUNDIAL
Negociador diz estar desapontado com postura brasileira
Americanos vêem o Brasil
isolado na discussão da Alca
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os Estados Unidos afirmam que
o Brasil chegou a ""uma posição de
isolamento" em relação à Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) e que há um ""forte desapontamento" com o comportamento apresentado pelo país na
mesa de negociação.
A conclusão é de Ross Wilson,
negociador da missão do Departamento de Comércio norte-americano que esteve reunida com o
Brasil e outros 32 países esta semana em Trinidad e Tobago para
discutir a Alca.
""O Brasil está interessado em
um conceito diferente [para a Alca]. E estou impressionado como
o país não encontrou o tipo de
apoio que gostaria para as suas
suas idéias", disse Wilson, ontem,
em teleconferência para os Estados Unidos ao final da reunião.
""O Brasil está em uma posição
isolada. Até o Mercosul está dividido", disse.
Segundo o representante dos
EUA, dos países do Mercosul,
apenas a Argentina mostrou-se
alinhada com as posições brasileiras. Uruguai e Paraguai, disse,
""têm dúvidas" sobre a proposta
do Brasil de reduzir a abrangência
da Alca.
Em sua avaliação sobre o encontro em Trinidad e Tobago,
Wilson destacou o fato de que 13
países liderados pela Costa Rica
assinaram um documento se
comprometendo a tentar chegar a
uma Alca ""ambiciosa e abrangente", como querem os Estados
Unidos.
""O Brasil sai dessa reunião obrigado a refletir sobre o que ocorreu
e como pode ir em frente para que
a Alca venha a dar certo", disse
Wilson.
Desapontamento
O representante norte-americano afirmou estar ""muito desapontado" com o fato de o Brasil
ter se recusado a discutir abertamente no encontro as questões
que considera sensíveis para entrar na negociação da Alca.
""Cada país teve a oportunidade
de identificar suas prioridades e
limitações e de deixar claro até
onde pode ir. O Brasil se manteve
quieto. A delegação brasileira se
recusou a participar desse exercício", afirmou.
O ""silêncio" brasileiro pode ser
explicado pelo fato de os EUA terem deixado claro em Trinidad e
Tobago -pela primeira vez e formalmente- que não aceitam discutir na Alca os dois temas prioritários para o Brasil: o fim das políticas antidumping e de subsídios
agrícolas americanos.
Ao mesmo tempo, os EUA tentaram, com o apoio dos 13 países
liderados pela Costa Rica, isolar a
proposta brasileira de não discutir na Alca questões de propriedade intelectual relacionadas ao comércio, a abertura das áreas de
serviço e de compras governamentais e regras para investimento que bloqueiem a adoção de políticas industriais.
Wilson afirmou, no entanto,
que os EUA ""não estão jogando
duro" com o Brasil nas negociações. Mas deixou claro que a prioridade dos EUA para a Alca é ""trazer ganhos para os trabalhadores
e agricultores norte-americanos".
Brasil e EUA, os dois co-presidentes do processo da Alca, voltarão a se reunir no dia 13 e 14 próximos, em Washington, para discutir os detalhes de uma nova reunião ministerial do grupo, em novembro, na Flórida.
O representante do governo
americano disse que ""nada de bilateral" (entre EUA e Brasil) será
tratado nos encontros previstos
em Washington.
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