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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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COMÉRCIO MUNDIAL

Negociador diz estar desapontado com postura brasileira

Americanos vêem o Brasil isolado na discussão da Alca

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os Estados Unidos afirmam que o Brasil chegou a ""uma posição de isolamento" em relação à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e que há um ""forte desapontamento" com o comportamento apresentado pelo país na mesa de negociação.
A conclusão é de Ross Wilson, negociador da missão do Departamento de Comércio norte-americano que esteve reunida com o Brasil e outros 32 países esta semana em Trinidad e Tobago para discutir a Alca.
""O Brasil está interessado em um conceito diferente [para a Alca]. E estou impressionado como o país não encontrou o tipo de apoio que gostaria para as suas suas idéias", disse Wilson, ontem, em teleconferência para os Estados Unidos ao final da reunião.
""O Brasil está em uma posição isolada. Até o Mercosul está dividido", disse.
Segundo o representante dos EUA, dos países do Mercosul, apenas a Argentina mostrou-se alinhada com as posições brasileiras. Uruguai e Paraguai, disse, ""têm dúvidas" sobre a proposta do Brasil de reduzir a abrangência da Alca.
Em sua avaliação sobre o encontro em Trinidad e Tobago, Wilson destacou o fato de que 13 países liderados pela Costa Rica assinaram um documento se comprometendo a tentar chegar a uma Alca ""ambiciosa e abrangente", como querem os Estados Unidos.
""O Brasil sai dessa reunião obrigado a refletir sobre o que ocorreu e como pode ir em frente para que a Alca venha a dar certo", disse Wilson.

Desapontamento
O representante norte-americano afirmou estar ""muito desapontado" com o fato de o Brasil ter se recusado a discutir abertamente no encontro as questões que considera sensíveis para entrar na negociação da Alca.
""Cada país teve a oportunidade de identificar suas prioridades e limitações e de deixar claro até onde pode ir. O Brasil se manteve quieto. A delegação brasileira se recusou a participar desse exercício", afirmou.
O ""silêncio" brasileiro pode ser explicado pelo fato de os EUA terem deixado claro em Trinidad e Tobago -pela primeira vez e formalmente- que não aceitam discutir na Alca os dois temas prioritários para o Brasil: o fim das políticas antidumping e de subsídios agrícolas americanos.
Ao mesmo tempo, os EUA tentaram, com o apoio dos 13 países liderados pela Costa Rica, isolar a proposta brasileira de não discutir na Alca questões de propriedade intelectual relacionadas ao comércio, a abertura das áreas de serviço e de compras governamentais e regras para investimento que bloqueiem a adoção de políticas industriais.
Wilson afirmou, no entanto, que os EUA ""não estão jogando duro" com o Brasil nas negociações. Mas deixou claro que a prioridade dos EUA para a Alca é ""trazer ganhos para os trabalhadores e agricultores norte-americanos".
Brasil e EUA, os dois co-presidentes do processo da Alca, voltarão a se reunir no dia 13 e 14 próximos, em Washington, para discutir os detalhes de uma nova reunião ministerial do grupo, em novembro, na Flórida.
O representante do governo americano disse que ""nada de bilateral" (entre EUA e Brasil) será tratado nos encontros previstos em Washington.


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