São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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Encontro termina sem consenso; propostas brasileiras têm pouco eco

DE WASHINGTON
DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

A reunião do FMI terminou ontem em Washington sem consenso sobre as principais propostas apresentadas por países ricos e pobres. Como de costume, o Fundo prometeu "novos estudos" sobre as demandas feitas.
No caso das propostas gerais do Brasil como representante do Fundo, houve apoios esparsos ao pedido de aumento da representatividade de países emergentes no FMI, à busca de novos financiamentos contra a miséria mundial e ao fim dos subsídios agrícolas nos países ricos.
Mas até mesmo uma das principais propostas do maior acionista do FMI, os Estados Unidos, de perdoar 100% das dívidas dos países mais pobres, entrou para a fase de "estudos".
Lembrando os 60 anos de existência do FMI, os EUA também pediram reiteradas vezes "reformas" para que ele se torne mais ágil, preventivo e representativo da evolução do peso relativo dos seus 184 integrantes.
Em resposta, o diretor-gerente do Fundo, o espanhol Rodrigo Rato, prometeu que o órgão dirá "não" com mais freqüência.
Dessa forma, Rato respondeu também à crítica de vários membros ricos em relação a pacotes de ajuda bilionários dados a países que não "correspondem às expectativas" dos programas que assinam com o Fundo.
Nesse sentido, a Argentina voltou a ser citada como um "mau exemplo". O país mantém há quase três anos a moratória de uma dívida de US$ 100 bilhões com credores privados e recentemente suspendeu um programa de US$ 13 bilhões com o Fundo.
O programa foi fechado em setembro do ano passado sob fortes críticas de países que o consideraram "demasiadamente frouxo".
Sadakatu Tanigaki, representante do Japão, chegou a cobrar "mais boa fé" da Argentina na negociação com os credores.
Durante a reunião, o próprio FMI, o Banco Mundial e países emergentes como a China voltaram a pedir, assim como o Brasil, a redução dos subsídios agrícolas nos países ricos como forma de aumentar as exportações e a riqueza nas nações pobres.
EUA e França, dois dos países com o maior volume de subsídios no mundo, ignoraram o pedido. Outros europeus, como a Alemanha, limitaram-se a pedir que haja "avanços" nas negociações comerciais na OMC (Organização Mundial do Comércio).
Outra proposta brasileira, de que seja criada uma taxa internacional sobre operações financeiras para proporcionar financiamentos continuados a programas contra a miséria, também foi ignorada durante a reunião.
Os países representados no Comitê de Desenvolvimento do FMI se comprometeram só a continuar, mais uma vez, "estudando" novas formas de financiamento.
Na questão do aumento da participação no FMI de países emergentes como o Brasil, houve avanços retóricos. No sábado, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) fez uma cobrança para que a questão "não caia no vazio".
Ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, disse que o peso relativo dos países-membros "ultrapassou o que o FMI hoje representa". Depois de Snow, Rato disse que o Fundo "deve continuar procurando caminhos que garantam (...) a representatividade dos países".
Apesar da falta generalizada de "consenso" e da abundância de "estudos", os países-membros concordaram que a economia mundial está se recuperando, mas que riscos como as altas dos preços do petróleo e dos juros internacionais podem minar o otimismo atual. O maior consenso, no entanto, é o de que países emergentes como o Brasil deveriam aproveitar a atual fase para se preparar para tempos mais difíceis.
(FCz e NHC)

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