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Encontro termina sem consenso; propostas brasileiras têm pouco eco
DE WASHINGTON
DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
A reunião do FMI terminou ontem em Washington sem consenso sobre as principais propostas
apresentadas por países ricos e
pobres. Como de costume, o Fundo prometeu "novos estudos" sobre as demandas feitas.
No caso das propostas gerais do
Brasil como representante do
Fundo, houve apoios esparsos ao
pedido de aumento da representatividade de países emergentes
no FMI, à busca de novos financiamentos contra a miséria mundial e ao fim dos subsídios agrícolas nos países ricos.
Mas até mesmo uma das principais propostas do maior acionista
do FMI, os Estados Unidos, de
perdoar 100% das dívidas dos países mais pobres, entrou para a fase de "estudos".
Lembrando os 60 anos de existência do FMI, os EUA também
pediram reiteradas vezes "reformas" para que ele se torne mais
ágil, preventivo e representativo
da evolução do peso relativo dos
seus 184 integrantes.
Em resposta, o diretor-gerente
do Fundo, o espanhol Rodrigo
Rato, prometeu que o órgão dirá
"não" com mais freqüência.
Dessa forma, Rato respondeu
também à crítica de vários membros ricos em relação a pacotes de
ajuda bilionários dados a países
que não "correspondem às expectativas" dos programas que assinam com o Fundo.
Nesse sentido, a Argentina voltou a ser citada como um "mau
exemplo". O país mantém há
quase três anos a moratória de
uma dívida de US$ 100 bilhões
com credores privados e recentemente suspendeu um programa
de US$ 13 bilhões com o Fundo.
O programa foi fechado em setembro do ano passado sob fortes
críticas de países que o consideraram "demasiadamente frouxo".
Sadakatu Tanigaki, representante do Japão, chegou a cobrar
"mais boa fé" da Argentina na negociação com os credores.
Durante a reunião, o próprio
FMI, o Banco Mundial e países
emergentes como a China voltaram a pedir, assim como o Brasil,
a redução dos subsídios agrícolas
nos países ricos como forma de
aumentar as exportações e a riqueza nas nações pobres.
EUA e França, dois dos países
com o maior volume de subsídios
no mundo, ignoraram o pedido.
Outros europeus, como a Alemanha, limitaram-se a pedir que haja
"avanços" nas negociações comerciais na OMC (Organização
Mundial do Comércio).
Outra proposta brasileira, de
que seja criada uma taxa internacional sobre operações financeiras para proporcionar financiamentos continuados a programas
contra a miséria, também foi ignorada durante a reunião.
Os países representados no Comitê de Desenvolvimento do FMI
se comprometeram só a continuar, mais uma vez, "estudando"
novas formas de financiamento.
Na questão do aumento da participação no FMI de países emergentes como o Brasil, houve avanços retóricos. No sábado, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) fez uma cobrança para que a
questão "não caia no vazio".
Ontem, o secretário do Tesouro
dos EUA, John Snow, disse que o
peso relativo dos países-membros
"ultrapassou o que o FMI hoje representa". Depois de Snow, Rato
disse que o Fundo "deve continuar procurando caminhos que
garantam (...) a representatividade dos países".
Apesar da falta generalizada de
"consenso" e da abundância de
"estudos", os países-membros
concordaram que a economia
mundial está se recuperando, mas
que riscos como as altas dos preços do petróleo e dos juros internacionais podem minar o otimismo atual. O maior consenso, no
entanto, é o de que países emergentes como o Brasil deveriam
aproveitar a atual fase para se preparar para tempos mais difíceis.
(FCz e NHC)
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