São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2006

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Final de ano ajudará pouco, diz indústria

CNI prevê crescimento apenas moderado nos próximos meses e culpa concorrência dos importados e efeito tardio da queda do juro

Para o setor, aumento do consumo com o Natal será suprido principalmente com itens chineses; em agosto, vendas voltaram a ter queda


CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A atividade industrial vai crescer moderadamente até o fim do ano, o que não garante aumento de faturamento, segundo informe divulgado ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). Isso por causa da demora do governo em começar a reduzir a taxa básica de juros e porque a valorização do real tem prejudicado as vendas das empresas que exportam, de acordo com a avaliação da entidade.
Os economistas da CNI prevêem que o habitual aumento do consumo de fim de ano será suprido principalmente por importações; portanto, a demanda não deve produzir impacto relevante na produção nacional.
Em agosto, as vendas da indústria recuaram 1,13% em comparação com julho; no ano caíram 0,08%. A taxa média do câmbio em agosto foi de R$ 2,16 ante R$ 2,19 em julho e R$ 2,25 em junho. Na comparação entre as médias de janeiro a agosto de 2006 e 2005, o real se valorizou 14%.
De acordo com o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, como cerca de 25% do faturamento das empresas se refere a lucros obtidos com exportação e as vendas estão sendo menos remuneradas por causa do dólar fraco, o faturamento tem sido afetado, apesar da manutenção da produção.
As horas trabalhadas no mês passado tiveram aumento de 0,11%, ou seja, mantiveram-se praticamente estáveis em relação a julho. Mas no ano, as horas trabalhadas subiram 1,05%. Na avaliação da CNI, a geração de emprego tem surpreendido, pois tem crescido, ainda que modestamente, desde dezembro do ano passado. Em agosto, o indicador da CNI que mede o emprego cresceu 0,21% com relação a julho e 2,28% na comparação com agosto de 2005. Na média dos oito primeiros meses, o emprego cresceu 1,60%.
Segundo Castelo Branco, o desempenho da indústria poderia estar melhor se o governo tivesse decidido iniciar antes a trajetória de redução da taxa de juros -que começou em setembro do ano passado- e se a redução tivesse ocorrido em um ritmo mais acelerado.
"Os juros poderiam ter caído mais e a inflação não precisava ter ficado abaixo da meta. O resultado disso foi o sacrifício do crescimento econômico", disse. Na semana passada, a CNI baixou de 3,7% para 2,9% a projeção de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. O Banco Central aposta em crescimento de 3,5%.
O BC espera um crescimento de 4,2% no consumo doméstico neste ano, impulsionado sobretudo pela alta do consumo das classes mais populares, resultado do aumento do salário mínimo -que reajusta também benefícios do INSS-, de programas sociais como o Bolsa Família e do crédito consignado.
"Com certeza vai haver um aumento da parcela dos produtos importados nas prateleiras neste fim de ano. As importações neste ano devem crescer 16,5% e devem responder por boa parte do aumento do consumo das famílias", disse Paulo Mol, economista da CNI. Neste ano, as importações já subiram 24%. As compras de bens de consumo importados cresceram 42% no ano e 55% somente em setembro.

Produtos "populares"
De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Produtos Populares, Gustavo Dedivits, o câmbio tem impulsionado a importação de produtos populares. "No ano passado importamos 120 milhões de produtos e neste ano esperamos importar 200 milhões", disse. Segundo ele, 80% dos produtos são comprados da China.


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