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Companhias abertas estão valendo 20% menos do que seu valor patrimonial; 70% têm dívida em dólar
Crise faz empresa perder valor na Bolsa
ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas brasileiras de capital aberto estão valendo na Bolsa,
em média, o equivalente a 80% do
seu valor patrimonial.
Isso significa que uma empresa
com valor patrimonial de, por
exemplo, R$ 1 bilhão está valendo
em Bolsa, em média, R$ 800 milhões. Se a intenção de seus acionistas fosse, hipoteticamente,
vendê-la, seria mais lucrativo fechá-la e vender todos os seus ativos, como imóveis, máquinas e
equipamentos, do que comercializá-la na Bolsa de Valores.
O cálculo foi feito pela Economática, que dividiu o valor das
ações, registrado na Bolsa de Valores de São Paulo em 29 de outubro, pelo valor patrimonial das
empresas, conforme o balanço
anual de 31 de dezembro de 2001,
e multiplicou o resultado por cem
para chegar num valor percentual
-índice conhecido entre os analistas como P/VPA.
Esse índice, explica Fernando
Exel, presidente da Economática,
mede o otimismo dos investidores em relação ao futuro da empresa. Acima dos 100%, ou seja,
quanto mais alto, mais otimistas
estão os investidores; abaixo de
100%, quanto mais baixo, maior é
o pessimismo.
Os cálculos também mostram
que a cotação das empresas brasileiras em relação ao valor patrimonial caiu 27% nos últimos quatro anos.
Em 1999, as companhias abertas
valiam em Bolsa, em média, 110%
do seu valor patrimonial. Em
2000, esse percentual caiu para
100% -ou seja, os valores patrimonial e em Bolsa coincidiam.
Em 2001, caiu novamente, dessa
vez para 90%, até chegar aos
atuais 80%.
Numa comparação com empresas de capital aberto americanas e
de outros países latino-americanos, o atual índice P/VPA brasileiro está abaixo do da Argentina. As
companhias americanas valem,
em média, o equivalente a 260%
do seu valor patrimonial; as mexicanas, 160%; as chilenas, 100%; e
as argentinas, 90%.
Segundo Exel, as empresas brasileiras perderam valor por causa
da alta do risco Brasil, que fez com
que a cotação do dólar explodisse
e onerasse as suas dívidas. Dados
da Economática mostram que
cerca de 70% das companhias
abertas nacionais, excluindo-se
dessa média as instituições financeiras, têm dívida em dólar.
"Como está escasso o financiamento externo e ninguém sabe
como será a rolagem das dívidas
nem se as empresas têm "hedge"
[proteção contra a variação cambial", o futuro delas ficou incerto,
refletindo no seu preço", diz Exel.
Exportadoras
Entre as endividadas em dólar,
só se safaram da depreciação as
empresas exportadoras, que, devido à receita em moeda norte-americana, estão automaticamente protegidas das oscilações
cambiais.
Na tabela é possível observar a
vantagem das exportadoras. No
quadro maior, estão listadas algumas das empresas do Ibovespa
(Índice da Bolsa de Valores de São
Paulo) que têm dívida em dólar.
Além do P/VPA, também consta
um índice que mede o tamanho
dessa dívida em relação ao lucro
operacional, conforme balanço
de 31 de dezembro de 2001. Quanto maior o índice, maior o endividamento da empresa.
As empresas que têm disparadamente maior P/VPA nessa lista,
ou seja, que são vistas com mais
otimismo pelos investidores, são
Souza Cruz, Embraer, Companhia Vale do Rio Doce, AmBev e
Aracruz -todas exportadoras.
"Se não fossem as exportadoras, a
média do P/VPA das empresas
abertas brasileiras estaria abaixo
de 80%", afirma Exel.
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