São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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Companhias abertas estão valendo 20% menos do que seu valor patrimonial; 70% têm dívida em dólar

Crise faz empresa perder valor na Bolsa

ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas brasileiras de capital aberto estão valendo na Bolsa, em média, o equivalente a 80% do seu valor patrimonial.
Isso significa que uma empresa com valor patrimonial de, por exemplo, R$ 1 bilhão está valendo em Bolsa, em média, R$ 800 milhões. Se a intenção de seus acionistas fosse, hipoteticamente, vendê-la, seria mais lucrativo fechá-la e vender todos os seus ativos, como imóveis, máquinas e equipamentos, do que comercializá-la na Bolsa de Valores.
O cálculo foi feito pela Economática, que dividiu o valor das ações, registrado na Bolsa de Valores de São Paulo em 29 de outubro, pelo valor patrimonial das empresas, conforme o balanço anual de 31 de dezembro de 2001, e multiplicou o resultado por cem para chegar num valor percentual -índice conhecido entre os analistas como P/VPA.
Esse índice, explica Fernando Exel, presidente da Economática, mede o otimismo dos investidores em relação ao futuro da empresa. Acima dos 100%, ou seja, quanto mais alto, mais otimistas estão os investidores; abaixo de 100%, quanto mais baixo, maior é o pessimismo.
Os cálculos também mostram que a cotação das empresas brasileiras em relação ao valor patrimonial caiu 27% nos últimos quatro anos.
Em 1999, as companhias abertas valiam em Bolsa, em média, 110% do seu valor patrimonial. Em 2000, esse percentual caiu para 100% -ou seja, os valores patrimonial e em Bolsa coincidiam. Em 2001, caiu novamente, dessa vez para 90%, até chegar aos atuais 80%.
Numa comparação com empresas de capital aberto americanas e de outros países latino-americanos, o atual índice P/VPA brasileiro está abaixo do da Argentina. As companhias americanas valem, em média, o equivalente a 260% do seu valor patrimonial; as mexicanas, 160%; as chilenas, 100%; e as argentinas, 90%.
Segundo Exel, as empresas brasileiras perderam valor por causa da alta do risco Brasil, que fez com que a cotação do dólar explodisse e onerasse as suas dívidas. Dados da Economática mostram que cerca de 70% das companhias abertas nacionais, excluindo-se dessa média as instituições financeiras, têm dívida em dólar.
"Como está escasso o financiamento externo e ninguém sabe como será a rolagem das dívidas nem se as empresas têm "hedge" [proteção contra a variação cambial", o futuro delas ficou incerto, refletindo no seu preço", diz Exel.

Exportadoras
Entre as endividadas em dólar, só se safaram da depreciação as empresas exportadoras, que, devido à receita em moeda norte-americana, estão automaticamente protegidas das oscilações cambiais.
Na tabela é possível observar a vantagem das exportadoras. No quadro maior, estão listadas algumas das empresas do Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo) que têm dívida em dólar. Além do P/VPA, também consta um índice que mede o tamanho dessa dívida em relação ao lucro operacional, conforme balanço de 31 de dezembro de 2001. Quanto maior o índice, maior o endividamento da empresa.
As empresas que têm disparadamente maior P/VPA nessa lista, ou seja, que são vistas com mais otimismo pelos investidores, são Souza Cruz, Embraer, Companhia Vale do Rio Doce, AmBev e Aracruz -todas exportadoras. "Se não fossem as exportadoras, a média do P/VPA das empresas abertas brasileiras estaria abaixo de 80%", afirma Exel.



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