São Paulo, Sábado, 04 de Dezembro de 1999


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Brasileiros rebatem as críticas ao trabalho infantil

do enviado especial a Seattle

e da Sucursal de Brasília

O chanceler brasileiro Luiz Felipe Lampreia disse ontem que a menção ao Brasil como um dos países em que há trabalho infantil "é uma confirmação de que os Estados Unidos podem vir a criar sanções comerciais" contra países em que o problema existe.
Na véspera, o presidente norte-americano Bill Clinton citara a existência de trabalho infantil na indústria calçadista brasileira, em discurso durante a ratificação, pelos EUA, do convênio internacional que bane as piores formas de trabalho infantil.
Lampreia reconhece que o problema existe no Brasil, mas que o país está procurando resolvê-lo.
"Nos últimos quatro anos, houve uma redução substancial do trabalho infantil, graças a diferentes programas", diz.
Mas o ministro acha que as declarações de Clinton devem ser postas no contexto das tentativas norte-americanas de incluir em acordos comerciais globais o respeito a padrões trabalhistas fundamentais. O veto ao trabalho infantil é um desses padrões.
Ao contrário de Lampreia, o embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, chegou a ver como elogio, e não crítica, a menção de Clinton.
Para o embaixador, o elogio está contido no fato de o presidente ter mencionado a busca de "soluções criativas" para tirar as crianças do trabalho.
Já o ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, preferiu tentar explicar o contexto do trabalho infantil.
Para o ministro, Clinton deveria estar se referindo aos "ateliês" que funcionam em geral em casas de famílias. Essas recebem couro curtido e o cortam para transformar em calçados.
Nesse trabalho, crianças são utilizadas pela própria família para determinadas partes da confecção, como tirar os ilhós.
"Isso existe no Brasil, na Itália e onde mais existam ateliês de costura. Não sei se não existe aqui (nos Estados Unidos) também", completou o ministro.
Para o ministro, essa situação não caracteriza trabalho infantil, ao contrário portanto do que disse o presidente Clinton.
O ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, preferiu fugir de uma resposta sobre o assunto, ao brincar: "Já passei da idade" (de trabalho infantil), disse.
O porta-voz de FHC, Georges Lamazière, respondeu à crítica de Clinton. "Quanto mais países como os EUA abrirem seus mercados a países como o Brasil, mais vamos exportar, crescer e combater com mais facilidade os problemas", afirmou Lamazière.
Lamazière afirmou que, de 1993 até o ano passado, o número de crianças que trabalham caiu de 4 milhões para 2,9 milhões.


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