São Paulo, Sábado, 04 de Dezembro de 1999


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VISÃO DE FORA
Secretário do Tesouro dos EUA elogia recuperação do Brasil, mas aponta vários desafios a vencer
Summers cobra avanço nas reformas

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Lawrence Summers, cobrou ontem maior avanço, por parte do governo brasileiro, no ajuste das contas públicas, nas reformas da economia e na privatização de estatais.
"Existem desafios muito grandes na questão da reforma tributária, nas relações fiscais e de pensões, que atingem o coração da necessidade de os Estados conciliarem suas necessidades e os recursos disponíveis", disse.
Summers esteve ontem em São Paulo para dar uma palestra aos integrantes da Câmara Americana de Comércio. Durante sua apresentação, elogiou a recuperação da economia depois da máxi, mas fez um alerta ao Brasil.
Se um país não consegue conciliar os gastos e a arrecadação do governo terá dificuldades em crescer e manter a estabilidade econômica, disse Summers, sempre ressalvando que a discussão vale para todos os países.
Os problemas vão aparecer, disse, "na forma de inflação, de excessivas taxas de juros ou na dependência de capital externo, que periodicamente levanta dúvidas sobre a capacidade de pagamento a longo prazo".
Summers cobrou que o Brasil avance no seu programa de privatizações: "O programa tem que avançar no ano que vem, apesar dos atrasos que prejudicaram o governo nesta área em 1999".
Summers elogiou o desempenho do governo brasileiro depois da crise da desvalorização do real. O governo norte-americano, disse Summers, depositou confiança no governo brasileiro ao apoiar o pacote do FMI de ajuda ao país e também ao assinar acordo bilateral de US$ 5 bilhões com o Brasil.
De acordo com Summers, a confiança se mostrou acertada, uma vez que o país já começou a pagar parte do empréstimo. O governo brasileiro, disse Summers, anunciou que vai pagar a parcela de US$ 3,2 bilhões do acordo bilateral que vence este mês.
Em relação à inflação, Summers disse que o melhor é agir preventivamente. Perguntado sobre as recentes intervenções no câmbio feitas pelo BC, Summers disse que reformas estruturais são mais importantes do que estratégias de intervenção não acompanhadas de mudanças nos fundamentos.

Trabalho infantil
Summers também criticou o uso de mão-de-obra infantil no Brasil, ponto polêmico no comércio internacional. Países ricos falam em taxar as importações de regiões pobres onde existam crianças trabalhando ou ocorram problemas ecológicos.
"Há pouco espaço para complacência quando 730 mil crianças, entre 7 e 14 anos, trabalham na área rural e nas oficinas, em vez de frequentarem as escolas."
Summers disse que a questão do trabalho infantil não pode servir de "manto" para esconder interesses protecionistas. Mesmo assim, insistiu na necessidade de se debater o assunto.
"Sanções comerciais poderiam ser medidas pesadas", disse Summers. Por outro lado, argumentou o secretário, podem ocorrer questionamentos se é justa a competição comercial com países que usam mão-de-obra infantil. "O assunto precisa ser debatido."



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