São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2000

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VIZINHO EM CRISE
Oposição não acelera votação do Orçamento para 2001, e Fundo já disse que sem acordo pacote não sai
Argentina teme atraso no socorro do FMI

France Press - 30.nov.00/ Folha imagem
Fernando de la Rúa com sua mulher, Ines, em igreja mexicana


JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES

O governo da Argentina já teme que o empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional) não seja anunciado antes de meados do mês de janeiro.
O novo motivo de inquietação é a relutância do Partido Justicialista (de oposição) em apressar os trâmites para a votação no Senado do Orçamento de 2001.
A aprovação do Orçamento e a ratificação no Congresso do pacto para o congelamento de gastos pelos próximos cinco anos seriam as contrapartidas que o governo pretende apresentar ao Fundo para a liberação do empréstimo, que, especula-se, pode chegar a US$ 20 bilhões.
Em reunião anteontem com Jorge Agúndez, líder da bancada da UCR (União Cívica Radical) no Senado, o presidente Fernando de la Rúa o alertou sobre a necessidade de o texto ser tratado e votado até quarta -ou no mais tardar ao final da semana.
De acordo com versões não-confirmadas pelo governo, o FMI teria freado o acordo definitivo à espera de que seja aprovado o Orçamento e a Câmara ratifique o congelamento de gastos. As mesmas versões são de que, se as promessas de aprová-los esta semana não forem cumpridas, o comando do FMI poderia postergar o anúncio do empréstimo até 10 de janeiro -não haveria tempo de a cúpula da entidade analisar a proposta antes do Natal.
No entanto, o próprio governo havia tornado público que o socorro estaria firmado entre os dias 11 e 12 próximos.
O eventual recuo do FMI teria explicações: houve tímidos progressos nas medidas anunciadas no último pacote econômico. O Fundo havia condicionado a ajuda à implementação das medidas.
Mas das ações previstas, o governo só conseguiu o pacto para o congelamento -que agora precisa do crivo da Câmara- e anteontem o presidente assinou o decreto que desregulamenta o serviços de saúde -permitirá aos trabalhadores elegerem o plano de assistência privada independentemente do sindicatos a que estejam vinculados.
A mais controversa, a privatização do sistema de Previdência -obrigaria todos os que ingressarem no mercado de trabalho a adotarem planos de previdência privada-, segue pendente.

Mais nervosismo
Um eventual adiamento no anúncio do empréstimo do FMI aumentaria o nervosismo do mercado, fazendo com que a Argentina continuasse a pagar altas taxas de juros para obter financiamento com colocação de títulos públicos. De outra parte, restaria ao país requerer, como já declarou que pretende, os US$ 2 bilhões a que tem direito de uma linha de crédito assinada com o Fundo no início deste ano.
Politicamente, o primeiro desafio de De la Rúa será convencer a bancada justicialista a rever sua posição. Alguns senadores afirmam que o Orçamento será apreciado somente entre os dias 13 e 14 próximos. ""Não aceitaremos pressões. O documento não será votado se não for cumprido todo o ritual para sua análise nas comissões adequadas", disse o senador Jorge Yoma.
""O governo pode pedir qualquer coisa, mas quem vota somos nós. Nem sequer temos o texto que foi aprovado pelos deputados", disse o também justicialista Eduardo Menem, irmão do ex-presidente Carlos Menem.
Mesmo que consiga colocar o projeto em votação, De la Rúa estará nas mãos dos justicialistas -dependerá que os senadores sigam as orientações dos governadores, apaziguados depois do obterem de verbas extras para gastos sociais no próximo ano. Isso porque, ao contrário da Câmara, o PJ detém ampla maioria no Senado: são 38 representantes contra 22 da Aliança - o Orçamento tem que se aprovado por metade mais um dos votos.
O secretário de Finanças, Daniel Marx, deverá viajar para o exterior esta semana. São dois os rumos que poderá tomar: os EUA, onde tentaria acalmar investidores, e Europa, onde negociaria com os governos de Espanha e Itália a parte que cada um aportará no empréstimo.



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