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SISTEMA FINANCEIRO
"Conselhinho" abranda as punições aplicadas às instituições acusadas de fraude cambial pelo BC
Bancos e corretoras têm multas reduzidas
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Bancos e corretoras multados
em US$ 555 milhões por suposta
participação na maior fraude
cambial já identificada pelo Banco Central tiveram as punições reduzidas em US$ 124 milhões pelo
Conselho de Recursos do Sistema
Financeiro Nacional, o chamado
"Conselhinho".
Órgão paritário, com representantes do governo e do mercado,
o conselho julgou até agora os recursos apresentados por 18 bancos e corretoras, de um total de 36
instituições acusadas de remessa
ilegal para o exterior de US$ 544,8
milhões entre 1987 e 1989.
As investigações alcançaram 22
bancos e 14 corretoras de câmbio,
atingindo instituições privadas,
como o Bradesco, o Unibanco e
os finados Econômico e Noroeste,
bancos estaduais, como os do
Amazonas, Paraíba e Rio Grande
do Sul, e corretoras, como a Novação, do presidente da Bovespa,
Alfredo Rizkallah, e a Interunion,
do empresário Artur Falk.
A fraude consistiu no registro
de importações falsas, uso de empresas "fantasmas" e envio irregular de divisas para o exterior. O
dinheiro era repatriado e vendido
no mercado paralelo, garantindo-se ganhos de até 160% com a diferença de cotações entre o dólar
paralelo ("black") e o comercial.
Sob a alegação de que foram
"conduzidas dolosamente por
terceiros a erro escusável", cinco
das 18 instituições com recursos
julgados pelo "Conselhinho" em
1999 e 2000 tiveram os processos
arquivados. Duas foram apenas
advertidas. Oito viram as multas
diminuídas. Só em três casos foram mantidas as multas originais
A imagem do "Conselhinho" como órgão que costuma abrandar
as punições do BC deve ter ofuscado o fato de que, no último dia
7, o colegiado manteve quase integralmente uma multa milionária aplicada à Interunion.
A corretora de Artur Falk foi
multada pelo BC em US$ 271 milhões no mesmo pacote das fraudes cambiais. O "Conselhinho"
reduziu para US$ 260 milhões, a
maior penalidade financeira já
imposta a um grupo privado, segundo Marcos Martins de Souza,
secretário-executivo do órgão,
que estranhou a tímida divulgação do julgamento.
As fraudes por falsa identidade
nas operações cambiais eram punidas, anteriormente, com multa
de 300% do valor da operação.
Em 1994, quando estavam sendo concluídos esses processos pelo BC, uma medida provisória
permitiu que as multas variassem
de 50% a 300% do valor da operação. Ou seja, o valor único virou
teto.
O relatório das atividades do
"Conselhinho" em 1999 afirma
que aumentou a sintonia entre as
decisões de primeiro grau e os julgamentos do conselho.
O documento cita, por exemplo, que 62% das decisões do BC
não sofreram alteração no "Conselhinho": o órgão confirmou 243
das 403 decisões do BC.
Esse percentual, contudo, reflete o elevado nível de manutenção
dos arquivamentos de processos
já decididos na primeira instância
(o conselho confirmou 164 dos
170 arquivamentos determinados
pelo BC).
Com relação às multas, a tese da
maior sintonia não se sustenta: o
colegiado alterou 124 das 193 punições impostas pelo BC no ano
passado, tendo arquivado 108
processos nos quais o BC infligia
multa pecuniária (outros 9 tiveram a multa reduzida e 7 foram
transformados em advertência).
Em 1999, a redução das multas,
incluindo punições aplicadas pela
CVM (Comissão de Valores Mobiliários), chegou a R$ 62 milhões.
O "Conselhinho" é formado por
oito conselheiros, com representação igual de órgãos do governo
(Ministério da Fazenda, Secretaria de Comércio Exterior e CVM)
e de entidades privadas (bancos,
Bolsas de Valores e empresas
abertas). O presidente do colegiado tem o voto de qualidade nos
casos de desempate.
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