São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005 |
Próximo Texto | Índice
MERCADO ABERTO Carbone defende política econômica
Desde a divulgação da queda
do PIB no terceiro trimestre, o Banco Central tem sido ainda mais alvo de críticas. O presidente do BankBoston, Geraldo Carbone, acha que
há muita emoção no debate. Em
primeiro lugar, diz, a queda
apontada pelo IBGE pode estar
superestimada. Para ele, só após
o número do quarto trimestre será possível avaliar se o BC errou
ou não na dose. Otimista, ele prevê um crescimento entre 2,5% e
3% em 2005 e de 4% em 2006.
"Não me parece um resultado
ruim." Defensor da atual política
econômica, ele acha que o modelo está em linha com o que há de
mais moderno do mundo. A seguir, trechos da entrevista: POLÍTICA MONETÁRIA - Não dá
para dizer nem que o Banco Central errou na dose nem que não
errou. As pessoas estão agindo
de forma extemporânea a um dado pontual (a queda de 1,2% do
PIB). O dado tem suas imperfeições na forma do cálculo. É impossível um tranco como esse de
um trimestre a outro. Só descobriremos se houve ou não erro
do BC depois do resultado do
quarto trimestre. A minha impressão é que a queda foi mesmo
superestimada. A discussão está
muito carregada de emoção. CÁLCULO DO PIB - Eu até duvido
que tenha havido erro do IBGE.
O problema é que a base de cálculo é complexa e é comum haver correções. O consumo das famílias, o crédito, o emprego e a
renda cresceram. Não dá para dizer que a recessão aprofundou. O
que houve foi uma derrapada no
terceiro trimestre. O que, aliás, já
era esperado. O BC adotou uma
política monetária apertada com
esse objetivo, ao perseguir a meta
de inflação. A inflação tinha dado
uma acelerada no início do ano.
Só que eu acho que está se pintando uma retração da atividade
que não me parece condizente
com a realidade. Os números de
novembro e dezembro não serão
ruins. No frigir dos ovos, acho
que vamos crescer entre 2,5% e
3% neste ano e 4% em 2006, o
que acho que pode ser considerado uma bela vitória. Não me parece um resultado pobre. CRISE POLÍTICA - Tenho absoluta certeza de que a crise política
afetou o desempenho da economia, principalmente no que diz
respeito à decisão de investir. POLÍTICA ECONÔMICA - Não
acho que deva mudar a política
econômica. O desenho das políticas fiscal e monetária me parece
alinhado com o que há de melhor
no mundo. Muito se fala na China, mas não se pode comparar. A
China tem uma taxa de poupança de 45% do PIB, quase US$ 1
trilhão em reservas internacionais e uma dívida pública baixa.
São condições completamente
diferentes das nossas. OPORTUNIDADE - O país está
perdendo uma boa oportunidade de crescer como os demais
emergentes, mas não se pode dizer que é por causa da política
monetária ou da disciplina fiscal.
Há outros problemas. A carga
tributária ainda é muito alta, há
muita insegurança jurídica e a legislação trabalhista não é alinhada com o que há de mais moderno. São fatores muito importantes que não fazem parte da discussão cotidiana. A preocupação
do dia-a-dia é com o Copom e a
disciplina fiscal. O crescimento
se dá em razão do investimento,
que depende das condições de
competitividade, e isso não está
na pauta de discussão. LUCRO DOS BANCOS - Juro alto
não é sinônimo de lucro alto dos
bancos. Boa parte do crescimento do lucro se deve ao aumento
da carteira de crédito. Não há nenhum manual de economia ou
prática bancária que diga que,
quanto maior o juro, melhor o
ambiente de crédito. O juro alto
está longe de ser o motor da rentabilidade. Nos últimos anos, os
bancos investiram dramaticamente em modernização e tecnologia, o que permitiu o salto na
rentabilidade. No mundo inteiro,
um setor financeiro saudável e
bem capitalizado é visto de forma positiva. O Brasil talvez seja o
único país que ache isso ruim. CENÁRIOS - A economia deve
crescer entre 3,5% e 4% em 2006,
a inflação tende a ficar sob controle, muito próxima dos 5%, e o
saldo comercial deve baixar dos
atuais US$ 40 bilhões ou US$ 43
bilhões para a casa dos 30 US$ bilhões. Acredito ainda numa taxa
de câmbio entre US$ 2,20 e US$
2,50 ao longo do ano. Não vejo
grandes avanços estruturais num
ano de eleições, como 2006. |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |