São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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RETRATO DO BRASIL

Mesmo nos períodos em que renda dos lares brasileiros diminuiu, índice que mede concentração de riqueza baixou

Desigualdade cai no Brasil desde 1993

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A desigualdade no Brasil cai sistematicamente, ano a ano, desde 1993, mesmo em períodos em que o rendimento dos lares do país ficou achatado e o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu pouco.
É o que revelam dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e de outras pesquisas compilados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a pedido da Folha.
Mesmo que o rendimento dos lares do país tenha caído desde 1997 e o PIB médio do período crescido só 2,6%, o índice de Gini (medida de concentração de renda) só melhorou. Passou de 0,571, em 1993, para 0,535, em 2004. Quanto mais perto de 1, mais desigual é a repartição do bolo.
Desde 1997, a renda dos lares brasileiros, por sua vez, manteve trajetória de queda. Em 1996, quando bateu no pico, chegou a R$ 1.609. Em 2004, era de R$ 1.375, com retração de 17% ante 1996. O resultado é só um pouco melhor do que a retração acumulada de 18% da renda do trabalho. Na renda dos domicílios, estão embutidos, além dos salários e remunerações, todos os ganhos com investimentos, aluguéis, aposentadorias e outras fontes.
Especialistas dizem que vários fatores explicam a melhor distribuição de renda: queda dos preços dos alimentos, retração do rendimento mais intenso nas camadas mais ricas, avanço da escolarização e expansão de programas de assistência social e de benefícios previdenciários.
"Qualquer que seja a medida, o índice de Gini tem caído sempre. Mas é fato que no Brasil a desigualdade é ainda muito alta. É um processo histórico", diz Angela Jorge, chefe da Coordenação de Emprego e Rendimento do IBGE.
Para ela, as informações da Pnad mostram "uma melhora nas condições da população".
Entre os avanços divulgados pela Pnad, Angela cita o crescimento do emprego, da massa de rendimentos e a redução do número de domicílios sem rendimento. Lembrou ainda que o emprego com carteira assinada, que traz garantias e benefícios sociais, cresceu mais que o sem-carteira.
Outro dado positivo, diz, foi a redução do número de domicílios e famílias sem nenhuma fonte de rendimento. Foi efeito, segundo ela, da expansão de programas como o Bolsa-Família e do número de pessoas ocupadas, o que sugere que algum membro dessas famílias conseguiu se empregar.
Pelos dados da Pnad, o emprego cresceu 3,3% de 2003 para 2004. A massa salarial também teve alta de 3,3%, já que o rendimento do trabalho ficou estagnado em R$ 733. Foram gerados, no ano passado, 2,7 milhões de novos postos de trabalho no país, cifra considerada expressiva por especialistas, diante de uma média da ordem de 1,5 milhão a 1,6 milhão da década de 90 e início dos anos 2000.
Para Lena Lavinas, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um fator importante para a queda da desigualdade é o fato de o salário mínimo ter subido nos últimos anos acima da inflação.
Além de balizar o salário dos sem-carteira e das domésticas, o mínimo corrige os benefícios da Previdência. Pelos dados da Pnad, a proporção de aposentados sobre a população subiu de 10,6%, em 1993, para 13,5%, em 2004.


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