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RETRATO DO BRASIL
Mesmo nos períodos em que renda dos lares brasileiros diminuiu, índice que mede concentração de riqueza baixou
Desigualdade cai no Brasil desde 1993
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A desigualdade no Brasil cai sistematicamente, ano a ano, desde
1993, mesmo em períodos em que
o rendimento dos lares do país ficou achatado e o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu pouco.
É o que revelam dados da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios) e de outras pesquisas compilados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a pedido da Folha.
Mesmo que o rendimento dos
lares do país tenha caído desde
1997 e o PIB médio do período
crescido só 2,6%, o índice de Gini
(medida de concentração de renda) só melhorou. Passou de 0,571,
em 1993, para 0,535, em 2004.
Quanto mais perto de 1, mais desigual é a repartição do bolo.
Desde 1997, a renda dos lares
brasileiros, por sua vez, manteve
trajetória de queda. Em 1996,
quando bateu no pico, chegou a
R$ 1.609. Em 2004, era de R$
1.375, com retração de 17% ante
1996. O resultado é só um pouco
melhor do que a retração acumulada de 18% da renda do trabalho.
Na renda dos domicílios, estão
embutidos, além dos salários e remunerações, todos os ganhos
com investimentos, aluguéis,
aposentadorias e outras fontes.
Especialistas dizem que vários
fatores explicam a melhor distribuição de renda: queda dos preços dos alimentos, retração do
rendimento mais intenso nas camadas mais ricas, avanço da escolarização e expansão de programas de assistência social e de benefícios previdenciários.
"Qualquer que seja a medida, o
índice de Gini tem caído sempre.
Mas é fato que no Brasil a desigualdade é ainda muito alta. É um
processo histórico", diz Angela
Jorge, chefe da Coordenação de
Emprego e Rendimento do IBGE.
Para ela, as informações da
Pnad mostram "uma melhora nas
condições da população".
Entre os avanços divulgados pela Pnad, Angela cita o crescimento
do emprego, da massa de rendimentos e a redução do número de
domicílios sem rendimento.
Lembrou ainda que o emprego
com carteira assinada, que traz
garantias e benefícios sociais,
cresceu mais que o sem-carteira.
Outro dado positivo, diz, foi a
redução do número de domicílios
e famílias sem nenhuma fonte de
rendimento. Foi efeito, segundo
ela, da expansão de programas
como o Bolsa-Família e do número de pessoas ocupadas, o que sugere que algum membro dessas
famílias conseguiu se empregar.
Pelos dados da Pnad, o emprego
cresceu 3,3% de 2003 para 2004. A
massa salarial também teve alta
de 3,3%, já que o rendimento do
trabalho ficou estagnado em R$
733. Foram gerados, no ano passado, 2,7 milhões de novos postos
de trabalho no país, cifra considerada expressiva por especialistas,
diante de uma média da ordem de
1,5 milhão a 1,6 milhão da década
de 90 e início dos anos 2000.
Para Lena Lavinas, professora
do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um fator importante para a
queda da desigualdade é o fato de
o salário mínimo ter subido nos
últimos anos acima da inflação.
Além de balizar o salário dos
sem-carteira e das domésticas, o
mínimo corrige os benefícios da
Previdência. Pelos dados da Pnad,
a proporção de aposentados sobre a população subiu de 10,6%,
em 1993, para 13,5%, em 2004.
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