São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Reconstruindo

ALOIZIO MERCADANTE

A pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE é fonte estatística abrangente, que permite traçar um quadro bastante aproximado da situação do país. Suas informações possibilitam a elaboração de cenários consistentes que vão além de meras conjecturas, como a revelada recentemente por um prefeito tucano, o qual, acometido de "febre palanquosa", não habitual ao seu estilo comedido, afirmou que qualquer candidato do PSDB derrotará Lula nas próximas eleições.
Pois bem, essa previsão arrogante não encontra amparo nos humildes mas sólidos dados da Pnad/2004. Com efeito, tal pesquisa mostra que o governo Lula vem reconstruindo o país econômica e socialmente e fez mais para os eleitores nos seus dois primeiros anos do que o governo anterior em seus oito anos.
Comecemos pelo emprego, assunto tão olvidado pela administração anterior, à exceção da geração de postos de trabalho em outros países, generosamente propiciada pela política de abertura econômica desordenada. De acordo com o IBGE, em 2004 registrou-se o maior nível de ocupação (pessoas com trabalho na população em idade ativa) desde 1996. Essa alta na ocupação foi ocasionada pelo extraordinário aumento dos empregados com carteira de trabalho, que chegou a quase 2 milhões no ano referido. Assim, o governo Lula está não apenas gerando emprego, mas também revertendo a perversa tendência anterior da "precarização" do mercado de trabalho.
Outro ponto positivo foi o da renda. Em 2004, interrompeu-se outra tendência perversa: a de queda na renda da população. De fato, o rendimento médio estabilizou-se, após cair continuamente desde 1997. Entretanto, análise pormenorizada revela que a renda da metade mais pobre da PEA cresceu 3,2%, possibilitando a redução da concentração dos rendimentos, chaga secular da nossa sociedade. Destaque-se, ainda, que um estudo da FGV, realizado com base na Pnad/2004, mostrou queda de 8% no nível de miséria do país. Essa grande redução no número de miseráveis pode ser atribuída, em parte, ao sucesso de programas sociais do governo Lula, como o Bolsa-Família, que já atinge mais de 8 milhões de lares.
Pode-se também salientar outros indicadores muito alvissareiros, como a redução da taxa de analfabetismo de 11,8% (2002) para 11,2% (2004), o aumento expressivo do número de estudantes, o incremento de 3,5% de domicílios com esgotamento sanitário adequado e a melhoria nas condições de vida, expressa no notável crescimento do número de lares com telefone fixo, celular, microcomputador e outros produtos essenciais à vida moderna.
Pena que essas informações tão positivas tenham sido obscurecidas pela névoa pessimista da crise política, a qual já ameaça comprometer o bem-sucedido esforço de desenvolvimento empreendido nos últimos anos. A queda do PIB no terceiro trimestre é, em grande parte, fruto das incertezas geradas pela crise, já que o emprego e o consumo continuaram a crescer. Mas a paralisia que as "aves de mau agouro", muitas de bico longo, tentam impor ao país não prevalecerá.


Aloizio Mercadante, 51, é economista e professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do governo no Senado Federal.
Internet: www.mercadante.com.br
E-mail - mercadante@mercadante.com.br


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