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RETRATO DO BRASIL
Pesquisa indica que, há 13 anos, 16,6% das pessoas eram muito pobres; em 2004, percentual recuou para 8%
População indigente cai pela metade desde 92
DA SUCURSAL DO RIO
Menos pessoas viviam no ano
passado na pobreza ou na indigência no Brasil. A proporção de
indigentes era de 8% da população -1,7 ponto percentual menor do que em 2003, quando
9,96% se encontravam nessa situação. Já o total de pobres baixou
de 35,6% para 33,2%.
Os dados são de trabalho inédito da economista Sonia Rocha, especializada em pobreza e desigualdade, feito com exclusividade
para a Folha. Pela mesma metodologia, o percentual de pobres e
indigentes era bem mais elevado
na década de 1990. Em 1992, 44%
da população brasileira estava
abaixo da linha da pobreza e
16,6% das pessoas podiam ser
classificadas como indigentes.
A grande retração ocorreu logo
após o Plano Real. Em 1993, os
pobres representavam 44,1% da
população. Dois anos depois, em
1995, a proporção caiu quase 11
pontos percentuais, para 33,2%.
O número de pobres manteve-se
sempre ao redor de um terço da
população desde então e chegou
ao pico em 2001 (35%).
Para a economista, que concebeu uma metodologia inédita de
linhas de pobreza, houve uma
queda "substancial" da pobreza
de 2003 para 2004, propiciada pelo maior aquecimento da economia (o Produto Interno Bruto
cresceu 4,9%) e pelo conseqüente
aumento do emprego.
O crescimento dos rendimentos
na base da pirâmide social, diz ela,
também explicam a redução da
pobreza no país.
""É uma queda bastante intensa,
especialmente em apenas um
ano", afirmou a economista.
O rendimento do trabalho cresceu 3,2% para a metade mais pobre dos ocupados. Já entre os 50%
mais ricos, a renda teve retração
de 0,6%. No topo, os 5% que ganhavam mais perderam 1,6%.
Para Rocha, a expansão da renda dos mais pobres e o fato de ter
crescido o emprego e caído o número de lares sem rendimento indicam que houve melhora na distribuição da renda no Brasil.
Suspiro
Rocha diz, porém, que é cedo
para dizer que o Brasil tenha ingressado numa fase de redução da
desigualdade longa e definitiva:
"Basta o país e o rendimento voltarem a crescer que os mais ricos
vão ganhar mais e a desigualdade
irá piorar. Não dá para afirmar
que é tendência de longo prazo".
Para a economista, o que houve
foi um "suspiro". "Não vejo tendência de queda de desigualdade.
Se o país sair da crise e voltar a
crescer, pode ter novamente um
crescimento de padrão desigual. É
um suspiro."
Na semana passada, o Centro de
Políticas Sociais da FGV (Fundação Getulio Vargas) divulgou que
nos dois primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva a proporção de pobres caiu, em média,
2,2% no país.
Pelos dados da FGV, o número
de pobres chegou, no ano passado, a 25,1% da população, o menor nível desde 1992. Em 2004, a
pobreza teve uma redução mais
acentuada -de 8%-, graças,
principalmente, à melhora da distribuição de renda no país, segundo o economista Marcelo Neri,
coordenador da FGV. Em 1992, os
pobres eram 35,9% da população.
Metodologias distintas
Os dados de Rocha e de Neri são
diferentes porque eles utilizam
metodologias distintas.
Sonia Rocha usa linhas de pobreza diferentes para cada lugar
do país. Ao usar referências distintas para definir quem é pobre,
diz, é possível medir com mais
precisão o fenômeno. Isso porque
há uma diferença muito grande
entre uma família viver em São
Paulo com R$ 100 ao mês, por
exemplo, e na área rural do país,
onde os preços são mais baixos e
parte do consumo vem da autoprodução.
Já Neri sustenta que, independentemente da medida utilizada,
a pobreza e a desigualdade estão
em constante declínio no país.
"Qualquer que seja a linha, há
queda da pobreza. O mesmo
ocorre quando olhamos para o
Índice de Gini, que mostra melhora da desigualdade", afirmou o
economista da FGV.
Para a economista Lena Lavinas, da UFRJ, um dos motivos para o recuo da proporção de pobres é a queda mais intensa dos
preços dos alimentos.
Os dados do IBGE mostram que
o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) geral
teve alta de 148,7% de 1995 a outubro de 2005, enquanto os preços
dos alimentos subiram bem menos -93,4%.
No INPC, que mede o custo de
vida de quem ganha até oito salários mínimos, o peso dos alimentos caiu de 33,9%, em 1995, para
28,9%, em 2005 (até outubro). Ou
seja: com os alimentos abaixo da
média, sobrou, em tese, mais dinheiro para consumir outros
itens. Isso, no entanto, pode não
ter acontecido na prática por causa da queda do rendimento do
trabalho -18% no acumulado de
1996 a 2004, segundo a Pnad.
(PEDRO SOARES)
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