São Paulo, quarta-feira, 05 de janeiro de 2005

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INVESTIMENTOS

Governo prepara resposta a estudo que aponta vulnerabilidade maior em relação à Argentina

Tesouro vai contestar relatório do Citibank

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Tesouro Nacional prepara uma resposta ao Citigroup por conta de um relatório que aponta vulnerabilidade da economia brasileira e que recomenda investimentos na Argentina.
Segundo fontes do Ministério da Fazenda, o estudo foi considerado "inoportuno", "tendencioso" e "malfeito" pela equipe econômica. A pretensão do governo é rebater as críticas ponto a ponto ainda nesta semana, antes das férias do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy.
O estudo dos economistas do Citigroup, divulgado pela Folha no último dia 30, é baseado em dois cenários hipotéticos, refere-se ao médio prazo e leva em conta a renegociação da dívida argentina. Foi enviado a clientes do banco, incluindo analistas de crédito, segundo a Folha apurou.
No texto, os autores ponderavam que, caso obtenha sucesso na renegociação de sua dívida com os credores privados, a Argentina seria menos vulnerável a choques externos do que o Brasil.
O relatório chegou às mãos de Levy na segunda-feira. Irritado, o secretário determinou a elaboração de uma resposta. De acordo com fontes da equipe econômica, Levy pretende, ainda, reclamar pessoalmente com representantes do Citigroup em Nova York. Deverá aproveitar uma viagem aos Estados Unidos marcada para o início de fevereiro.
A diretora de Comunicação Corporativa do Citigroup mundial, Christina Pretto, não endossou a avaliação dos analistas. "Lamentamos que os leitores possam ter ficado com uma impressão errada da visão de um dos departamentos independentes de pesquisa do Citigroup", disse. Em comunicado emitido após a publicação da reportagem, Pretto sustentou ainda que em nenhum momento houve orientação do Citigroup para os investimentos na Argentina em detrimento do Brasil.
Na visão dos analistas, sob as condições usadas no estudo, o Brasil estaria em piores condições em relação à gestão da dívida pública. A maior parte dos débitos do país é atrelada aos juros internos, muito altos na comparação com o restante do mundo. Além disso, 62% da dívida em reais venceria no curto prazo.
"Temos uma trajetória muito ruim da dívida interna, devido aos altíssimos juros locais", afirmou o professor da Unicamp Geraldo Biasoto Junior.
Especialista em contas públicas, ele considera que o Banco Central, responsável pela fixação dos juros, comete seguidas "barbeiragens", que atrapalham a administração da dívida brasileira.
"O perfil da dívida pública piorou muito nos últimos seis meses, e isso aconteceu porque o Banco Central sinalizou várias vezes aumento futuro nos juros", disse Biasoto Junior. "Todos os agentes começaram a atuar no curto prazo e ficou mais difícil para o Tesouro vender papéis com vencimento muito adiante."
Para o economista da Fundación Capital Eduardo Rodríguez Diez, em Buenos Aires, o fluxo de capitais estrangeiros para a Argentina vai demorar a ser normalizado. "Antes da moratória, a entrada era dez vezes maior que os US$ 500 milhões registrados em 2004", afirmou.
O BC se recusou a comentar o relatório do Citigroup. A partir deste ano, o Tesouro Nacional cuidará da gestão total da dívida.


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