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OPINIÃO ECONÔMICA
As chances de Lula em 2006
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Lula tem chances de se reeleger? No início do ano passado, ele parecia rigorosamente imbatível. Hoje, muitos o consideram carta fora do baralho.
Fora do baralho? Talvez. Uma
coisa ficou clara ao longo do ano
passado: uma parte da elite brasileira, possivelmente a maior parte, está mobilizada contra a sua
reeleição -e essa é uma das principais barreiras que Lula terá de
enfrentar em 2006. No Brasil, as
elites formam um clube bastante
fechado, que controla os principais meios de comunicação, boa
parte do Congresso e do próprio
governo federal. Exerce influência
avassaladora sobre a área econômica, especialmente sobre o Banco Central.
Em 2005, o ex-metalúrgico descobriu, chocado, que jamais será
aceito como membro permanente
desse clube. Fez um tremendo
lobby, passou anos bajulando os
poderosos, tentando se mostrar
confiável e inofensivo, mas não
adiantou: acabou levando bola
preta. Patético.
Os integrantes do clube, por sua
vez, descobriram, encantados,
que é perfeitamente possível "sangrar" o governo e o presidente da
República sem desestabilizar a
economia e sem perturbar o andamento da política econômica
que tanto lhes favorece. A abordagem funcionou em 2005 e continuará sendo explorada até a
exaustão em 2006. Petistas e aliados imaginaram que poderiam
lançar mão, impunemente, dos
métodos corruptos da política
brasileira. Abriram um flanco gigantesco e vão continuar sendo
massacrados, a cada dia.
Nesse ambiente, Lula só tem um
caminho: acelerar o crescimento
da economia. A ampliação do ritmo de crescimento da produção,
com aumento mais rápido dos níveis de emprego e renda, é a única
forma que ele tem de conquistar o
povo e neutralizar o enorme desgaste resultante dos escândalos de
corrupção e sua intensa divulgação na mídia nacional. Em outras
palavras, restaria ao lulismo tentar reeditar, de alguma maneira,
o velho mote adhemarista: "Rouba, mas faz".
É possível? Talvez sim. Para a
maioria esmagadora do eleitorado, a questão econômica tem peso
preponderante. Além disso, com o
passar do tempo, a menos que
apareçam novas e graves revelações de corrupção no governo, as
denúncias e os escândalos tenderão a perder parte da sua eficácia
como arma eleitoral.
Mas Lula tem bala na agulha
em termos econômicos? Em tese,
sim. As condições da economia
permitem acelerar o seu crescimento. Os ventos internacionais
continuam soprando a favor. A
inflação brasileira está controlada. As taxas de desemprego são
altas e existe capacidade produtiva ociosa. As contas externas do
país têm registrado excepcional
desempenho. O superávit fiscal
primário está bem acima da meta
oficial.
Suponho que o presidente e seus
assessores saibam disso tudo. Nos
meses finais de 2005, houve uma
queda-de-braço dentro do governo e -ao que parece- o ministro Palocci foi obrigado a aceitar
certa inflexão da política fiscal e
de outros aspectos da política econômica. O discurso super-ortodoxo da equipe econômica passou
para segundo plano e entraram
em cena medidas destinadas a estimular a demanda e a distribuição da renda nacional.
Há uma dificuldade, porém.
Para o bem ou para o mal, o presidente Lula não controla inteiramente a Fazenda e o Banco Central. Quase todos os postos-chave
estão na mão de pessoas identificadas com o pensamento e a
agenda dos seus adversários políticos. Muitas dessas pessoas comportaram-se desde o início do governo Lula como se a sua missão
fosse completar e aprofundar o
programa econômico iniciado
por Collor e continuado por FHC.
O Banco Central, em particular,
nunca foi tão independente e está
dominado por doutrinários ferozes, que parecem dispostos a sacrificar tudo -produção, exportações, renda, emprego (inclusive
o do presidente da República) no
altar do combate à inflação.
Uma política monetária mais
restritiva do que a esperada pode
ser a resposta da diretoria do
Banco Central a um eventual
afrouxamento da política fiscal e
a outras medidas de estímulo ao
crescimento que venham a ser
adotadas pelo governo.
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV- EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
@ - pnbjr@attglobal.net
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