São Paulo, quinta-feira, 05 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Na economia, Argentina é a imagem invertida do Brasil

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A inflação de 12,3% em 2005 anunciada ontem pela Argentina é um dos indicadores que faz o país vizinho parecer a imagem invertida do Brasil, que deve ter fechado o período com um dos menores índices de preços dos últimos anos, próximo de 6%.
O outro indicador é positivo para o vizinho: o forte crescimento pelo terceiro ano seguido, após a contração de 20% do PIB registrada na crise de 2001/2002. O governo avalia que a economia tenha se expandido 8,7% em 2005, bem acima dos mirrados 2,6% estimados pelo BC (Banco Central) para o crescimento brasileiro.
Em 2006, os dois países devem continuar a ter trajetórias opostas em relação à inflação. O programa monetário do BC argentino prevê que o índice de preços ficará entre 8% e 11%, sem considerar reajustes nas tarifas públicas. No Brasil, a meta de inflação é 4,5%.
O controle da inflação foi obtido com o sacrifício do crescimento, sufocado pela alta taxa de juros, que chegou a 19,75%, antes de cair a partir de setembro. Mesmo com o corte para 18%, o Brasil continua a ter a maior taxa real de juros do planeta. Na Argentina, o indicador é negativo, já que os juros são inferiores à inflação.
Apesar de adotar o sistema de metas de inflação, como o Brasil, a Argentina considera que sua economia ainda está em um período de transição, o que restringiria o uso da taxa de juros como mecanismo de contração ou estímulo da economia e dos preços. Além disso, o mercado de crédito, segundo o BC, equivale a apenas 10% do PIB, o que reduz o impacto de uma eventual alta da taxa.
O principal instrumento do BC argentino para segurar os preços é o controle da base monetária, que é a quantidade de dinheiro em circulação na economia, aliada a uma política fiscal de realização de superávits primários.
Apesar de terem escolhido políticas macroeconômicas distintas, Brasil e Argentina se beneficiaram do bom momento da economia mundial em 2005: bateram recordes de exportações e fortaleceram suas reservas internacionais.
Mas a Argentina impediu a valorização de sua moeda a patamar superior a 3 pesos por dólar, enquanto o Brasil permitiu que o real tivesse valorização recorde e chegasse a ser cotado a um nível próximo de R$ 2,15.


Texto Anterior: Receita ortodoxa: Inflação argentina dobra e fecha em 12,3%
Próximo Texto: Termômetro: País sobe em ranking de liberdade econômica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.