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LUIZ PINGUELLI ROSA
Balanço sobre energia elétrica e gás
As chuvas no fim de 2006 foram favoráveis para os reservatórios, São Pedro
parece ser petista ou aliado
NA VIRADA de 2006 para 2007,
cresceu a preocupação expressa pela mídia com um
novo apagão. Mas a situação atual é
diferente daquela de 2001. As chuvas no fim de 2006 foram favoráveis.
São Pedro parece ser petista ou está
entre os aliados. Apesar do progressivo esvaziamento dos reservatórios
de hidrelétricas em comparação
com os anos anteriores, o nível médio de água neles está acima do que
determina a curva de aversão ao risco, definida como limite a ser evitado. Se as chuvas diminuírem e/ou a
economia crescer e o consumo subir, para evitar no curto prazo um alto risco de racionamento, ligam-se
termelétricas. Mas várias não dispõem de gás. Eis a questão. Alertei
para isso em artigos, em reunião do
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, a convite do ministro Tarso Genro (Relações Institucionais), e na minha intervenção em
encontro da comunidade científica
com o presidente Lula.
A existência do problema foi reconhecida quando a Aneel retirou várias termelétricas do plano de operação, por não disporem de gás para
operar, segundo a Petrobras. Antes
disso, quando o Operador Nacional
do Sistema mandou ligar um conjunto de termelétricas, menos da
metade operou. A resolução da
Aneel revelou que o risco de déficit
de energia é bem maior que o que se
calculava. Houve uma polêmica com
o Ministério de Minas e Energia e
determinou-se que as termelétricas
operassem por tempo limitado em
teste. O resultado foi pior que o esperado. Pediu-se à Petrobras que remanejasse o gás de outros usuários.
Por meio de seu diretor de Gás e
Energia, Ildo Sauer, a Petrobras informou que: 1) não dispõe do gás para operar por prazo maior essas termelétricas; 2) cerca de 3 GW termelétricos não estão contratados; 3) há
problemas no novo modelo devido
aos consumidores livres. Eles compraram energia hidrelétrica demasiadamente barata que as geradoras
da Eletrobrás tinham descontratado por força da regulamentação com
grandes perdas financeiras. Os consumidores livres, grandes indústrias
intensivas em energia, absorvem
30% da energia elétrica do país e estão fora do sistema atendido pelas
concessionárias com tarifas altas. Se
o risco aumenta, eles terão de pagar
mais nos novos contratos.
Seria injusto concentrar a culpa
no gás natural como bode expiatório. Uma usina termelétrica no sistema brasileiro opera em complementação às hidrelétricas. Não faz
sentido verter água enquanto se
queima gás, fóssil e importado. Por
outro lado, quando abaixa muito o
nível médio dos reservatórios, devem-se ligar as termelétricas, na falta de novas hidrelétricas. Há o problema dos contratos usuais, em que
se paga pelo uso de gás sem interrupção. Antes mesmo da crise da
Bolívia, a Petrobras estudava a importação de gás natural liquefeito
por navios, que pode ser interrompida conforme a necessidade. O problema é que leva tempo para implantar uma usina de regaseificação.
Pensa-se em adaptar termelétricas
para serem bicombustíveis, podendo usar diesel, por exemplo, no lugar
de gás. Mas é muito mais caro.
Na implantação do novo modelo,
mantiveram-se contratos privilegiados. Algumas termelétricas chegaram a vender energia sem gerá-la,
repassando energia hidrelétrica
comprada barato das estatais federais, obrigadas a descontratar grande parte da energia. As termelétricas
foram introduzidas sem considerar
o sistema hidrelétrico brasileiro, e
os leilões de energia levaram a termelétricas a carvão e a diesel, caras e
poluentes, emitindo mais gases do
efeito estufa.
O governo deve dar mais atenção
às fontes renováveis, entre as quais a
geração hidrelétrica, embora deva
reconhecer seus problemas ambientais, incluindo emissões de metano medidas pela Coppe e pela
USP/São Carlos, objeto de recente
reunião em Paris. Quando presidi a
Eletrobrás, ela assumiu o compromisso de comprar energia de usinas
eólicas e de biomassa e de pequenas
hidrelétricas do Proinfa, totalizando
3,3 GW, e foram feitos investimentos na duplicação de Tucuruí, nas
duas novas turbinas de Itaipu e na
hidrelétrica de Peixe Angical, em
parceria de Furnas com a EDP. Mas
concordo com a ministra Marina
Silva (Meio Ambiente): as regras
ambientais têm de ser obedecidas.
Cabe ao governo convencer a sociedade da qualidade dos projetos. E
discordo de substituir futuras hidrelétricas por reatores nucleares. A
emenda é pior que o soneto.
LUIZ PINGUELLI ROSA, 64, físico, é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Energético da
Coppe/UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Foi presidente da Eletrobrás (2003-04).
Excepcionalmente, hoje, a coluna de
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não é publicada.
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