São Paulo, sexta-feira, 05 de janeiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Um político de esquerda. Nos EUA

Democrata assume comitê de finanças da Câmara, ataca Fed, salário mínimo baixo e perseguição a sindicalistas

UM ESQUERDISTA vai supervisionar o banco central dos Estados Unidos. Isto é, o ao menos da boca para fora esquerdista Barney Frank é o novo presidente do comitê de finanças da Câmara dos Deputados dos EUA.
Pelos seus discursos e entrevistas, o democrata Frank seria chamado de populista por economistas padrão, no Brasil ou nos EUA. Diz coisas como: "Podemos debater as questões mais fundamentais da existência humana, mas Deus proibiria qualquer um em cargos eletivos de discutir se precisamos de um aumento de 0,25 ponto percentual no Fed [o banco central americano].
Mas isso não é sagrado. Não é. É uma política pública".
Claro que Frank nem a maioria dos democratas pensaria em tolher de fato a ação ordinária do Fed, assunto infinitamente menos politizado nos EUA que no Brasil. Mas Frank e colegas podem politizar o assunto e estorvar o debate de reforma da política monetária. Há muita gente nos EUA para quem a política do Fed deveria ser mais parecida com a do Banco Central do Brasil!
Sim, com metas de inflação explícitas e mandato formalmente limitado apenas a controlar preços.
Frank preside o comitê parlamentar que supervisiona o Fed, a agência de supervisão bancária e do fundo garantidor de créditos (FDIC), o FMI, o Banco Mundial, o ministério da habitação e das cidades e as superempresas de apoio ao financiamento da habitação reguladas e orientadas por leis federais. Qual sua influência? Depende da política do agora majoritário Partido Democrata e da disposição para a briga da nova presidenta da Câmara, Nancy Pelosi, que também assumiu ontem.
Mas o alvo principal do companheiro Frank não é o Fed, e sim o aumento da participação dos lucros das empresas no PIB americano, salários baixos, salário mínimo defasado, aumento da desigualdade e a quantidade de americanos que não têm plano de saúde e financiamento para comprar casa popular.
O companheiro Frank ataca empresas que sabotam sindicatos e pagam pouco. Ataca a agência reguladora das relações de trabalho, segundo ele tolerante com a perseguição a sindicalistas e sindicalizados.
Critica países como China, Índia, outros asiáticos, "tigres bálticos" e provavelmente o Brasil, que ganham mercados nos EUA por meio de superexploração do trabalho e destruição do ambiente, segundo o democrata americano.
Frank quer passar leis punitivas contra as exportações de países em que trabalhadores ganhem pouco e em que as empresas detonam a natureza. Mas acha que a desigualdade, nos EUA ou na América Latina, é um problema. No caso dos "latinos", acha que a incapacidade do mercado de reduzir pobreza e injustiça pode fazer a "esquerda democrática" ceder lugar à "esquerda não tão democrática", para dizer o menos.
Esnoba quem o chama de protecionista ou ludita; quem diz que barreiras comerciais prejudicariam trabalhadores pobres no resto do mundo e aqueles que repetem o mantra "educação é a resposta ao problema da desigualdade". Frank é um companheiro à moda antiga. No que vai dar o seu discurso? Textos e entrevistas do deputado estão no site www.house.gov/frank/.


vinit@uol.com.br

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