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VINICIUS TORRES FREIRE
Um político de esquerda. Nos EUA
Democrata assume comitê de finanças da Câmara, ataca Fed, salário mínimo baixo e perseguição a sindicalistas
UM ESQUERDISTA vai supervisionar o banco central dos
Estados Unidos. Isto é, o ao
menos da boca para fora esquerdista
Barney Frank é o novo presidente
do comitê de finanças da Câmara
dos Deputados dos EUA.
Pelos seus discursos e entrevistas,
o democrata Frank seria chamado
de populista por economistas padrão, no Brasil ou nos EUA. Diz coisas como: "Podemos debater as
questões mais fundamentais da
existência humana, mas Deus proibiria qualquer um em cargos eletivos de discutir se precisamos de um
aumento de 0,25 ponto percentual
no Fed [o banco central americano].
Mas isso não é sagrado. Não é. É uma
política pública".
Claro que Frank nem a maioria
dos democratas pensaria em tolher
de fato a ação ordinária do Fed, assunto infinitamente menos politizado nos EUA que no Brasil. Mas
Frank e colegas podem politizar o
assunto e estorvar o debate de reforma da política monetária. Há muita
gente nos EUA para quem a política
do Fed deveria ser mais parecida
com a do Banco Central do Brasil!
Sim, com metas de inflação explícitas e mandato formalmente limitado apenas a controlar preços.
Frank preside o comitê parlamentar que supervisiona o Fed, a agência
de supervisão bancária e do fundo
garantidor de créditos (FDIC), o
FMI, o Banco Mundial, o ministério
da habitação e das cidades e as superempresas de apoio ao financiamento da habitação reguladas e orientadas por leis federais. Qual sua influência? Depende da política do
agora majoritário Partido Democrata e da disposição para a briga da nova presidenta da Câmara, Nancy Pelosi, que também assumiu ontem.
Mas o alvo principal do companheiro Frank não é o Fed, e sim o aumento da participação dos lucros
das empresas no PIB americano, salários baixos, salário mínimo defasado, aumento da desigualdade e a
quantidade de americanos que não
têm plano de saúde e financiamento
para comprar casa popular.
O companheiro Frank ataca empresas que sabotam sindicatos e pagam pouco. Ataca a agência reguladora das relações de trabalho, segundo ele tolerante com a perseguição a sindicalistas e sindicalizados.
Critica países como China, Índia,
outros asiáticos, "tigres bálticos" e
provavelmente o Brasil, que ganham mercados nos EUA por meio
de superexploração do trabalho e
destruição do ambiente, segundo o
democrata americano.
Frank quer passar leis punitivas
contra as exportações de países em
que trabalhadores ganhem pouco e
em que as empresas detonam a natureza. Mas acha que a desigualdade, nos EUA ou na América Latina, é
um problema. No caso dos "latinos",
acha que a incapacidade do mercado
de reduzir pobreza e injustiça pode
fazer a "esquerda democrática" ceder lugar à "esquerda não tão democrática", para dizer o menos.
Esnoba quem o chama de protecionista ou ludita; quem diz que barreiras comerciais prejudicariam trabalhadores pobres no resto do mundo e aqueles que repetem o mantra
"educação é a resposta ao problema
da desigualdade". Frank é um companheiro à moda antiga. No que vai
dar o seu discurso? Textos e entrevistas do deputado estão no site
www.house.gov/frank/.
vinit@uol.com.br
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