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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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LUÍS NASSIF

Peixe, sim; TI, não

Nos EUA, tecnologia da informação é assunto tão estratégico que a implementação da política está subordinada ao Pitac (President's Information Technology Advisory Committee), diretamente ligado à Presidência da República. No Brasil, o governo Lula criou a Secretaria Nacional da Pesca, diretamente ligada à Presidência, e relegou a política de informática ao quarto escalão, permitindo o desmantelamento da Secretaria de Política de Informática (SePin) do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Tecnologia e inovação só se transformaram em prioridade no país nos últimos anos, quando o ex-ministro Ronaldo Sardenberg criou mecanismos institucionais para alavancar o setor, com a criação dos fundos setoriais e a aprovação da nova lei de informática. Ou seja, preparou a cama para o novo governo colher.
Na transição, o PT enviou ao MCT equipe de bom nível, com visão crítica consistente, entendendo os avanços e tendo clareza sobre as vulnerabilidades. Depois, um seminário no Instituto Florestan Fernandes reforçou a idéia de que o PT iria aproveitar a oportunidade e completar o trabalho.
A primeira sinalização negativa foi na composição do Ministério Lula, quando o MCT foi entregue a um aliado menor, o PSB de Anthony Garotinho, denotando a pouca importância dada ao setor. Depois, ao se permitir que o comando do ministério fosse entregue a um advogado sem nenhuma experiência na área, o ministro Roberto Amaral.
O quadro se completou com o anúncio do desmantelamento da SePin, incorporada à Secretaria de Tecnologias Empresariais. No governo anterior, o trabalho de cada secretaria exigia dedicação de varar a noite, tal o tamanho da agenda a ser atacada. O novo secretário acabará delegando as tarefas de TI para algum adjunto, tirando toda a capacidade de criar políticas, influenciar Congresso e articular-se com o setor privado.
TI decididamente não é foco do governo Lula, independentemente da experiência indiana, em que o setor conseguiu gerar centenas de milhares de empregos e exportações de US$ 10 bilhões. Trata-se de um setor descentralizador por excelência. É por isso que a Microsoft está criando laboratórios de desenvolvimento de tecnologia XML em Petrópolis, Fortaleza e Recife. Para o ministro Amaral, interessa apenas a "tecnologia social", seja lá o que isso signifique.
A melhor alternativa seria colocar no MCT um ministro à altura. A segunda alternativa seria transferir a SCT para o Ministério do Desenvolvimento. A terceira alternativa seria propor aos tecnólogos brasileiros que se dediquem ao nobre esporte da pesca ao passado porque o futuro terá que esperar.

CVM
É insustentável a posição do presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Luiz Cantidiano, depois da divulgação de documentos comprovando que foi advogado do Opportunity Fund -alvo de um inquérito por parte do órgão. O fato de não ter revelado essa ligação nem se ter declarado impedido sobre a matéria é indesculpável. Especialmente após as diversas acusações de que não estaria se empenhando na elucidação do episódio, no qual o fundo, ao aplicar recursos de brasileiros no Brasil, por meio do anexo 4, feriu a legislação.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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