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CONCORRÊNCIA
Presidente da empresa diz que "processo ainda não terminou"
Nestlé analisa possibilidade de recorrer da decisão do Cade
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita, disse ontem que a
empresa analisará a possibilidade
de recorrer da decisão do Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Segundo ele, "o
processo ainda não terminou".
Surpreendido pela decisão do
conselho, o executivo afirmou
que o resultado do julgamento
não o deixará "em posição confortável" frente ao grupo Nestlé,
embora não deva comprometer
as decisões de investimento da
multinacional suíça no país.
O presidente do Cade, João
Grandino Rodas, explicou que
não há possibilidade de recurso
no próprio conselho. Uma alternativa seria recorrer à Justiça comum. "Nem sempre as empresas
estão dispostas a esperar um caso
transitar em julgado. Isso pode levar muito tempo e pode não valer
a pena", declarou Rodas.
Ao declarar sua contrariedade
com a decisão do Cade, Zurita
lembrou que a Nestlé está no Brasil há 82 anos e que a compra da
Garoto era a porta de entrada para a multinacional no Estado do
Espírito Santo. "Estou chateado e
magoado com essa decisão."
Empregados
Para o prefeito de Vila Velha
-cidade que sedia a fábrica da
Garoto-, Max Filho (PDT), o
impedimento da fusão Nestlé/
Garoto foi uma péssima notícia.
"O primeiro desastre do ano
aconteceu com as enchentes. Mas
se trata de algo natural. Agora, o
segundo desastre foi a decisão do
Cade", declarou Max.
Ele acrescentou que colocar a
Garoto à venda novamente levará, mais uma vez, intranqüilidade
para os 3.000 trabalhadores da fábrica. Recentemente, a Nestlé havia contratado mais 700 pessoas
para trabalhar na produção de
ovos de Páscoa.
A Garoto foi fundada em 1929
por Henrich Meyerfreund, mas as
gerações seguintes da família travaram uma luta acirrada pelo poder que quase a destruiu. Em
1998, Helmut Meyerfreund, primogênito do fundador, foi afastado do poder -após 25 anos de
gestão- pelos sobrinhos Paulo e
Ricardo, que se aliaram aos demais herdeiros.
A disputa pelo controle prosseguiu e Helmut, que detinha 40%
do capital votante, chegou a unir-se aos operários, durante uma
greve, contra os sobrinhos.
Nos três anos em que a família
disputou o controle da Garoto, a
empresa acumulou prejuízos.
"Há dois anos, a Garoto quase fechou. A Nestlé pôs a empresa de
pé", diz Max Filho. Segundo ele,
hoje a Garoto é responsável pela
maior arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em Vila Velha.
O relator do caso no Cade, conselheiro Thompson Andrade, disse ter conhecimento de outras
empresas interessadas na Garoto.
Ele afirmou que isso foi levado
em conta no julgamento do processo. O conselheiro destacou
que, caso fosse aprovada a operação com a Nestlé, o mercado de
chocolates no Brasil passaria a ter
um "duopólio" composto pela
empresa resultante da fusão e pela
Kraft Foods (Lacta). "Isso poderia
dominar inteiramente o mercado
até com possibilidade de decisões
conjuntas de definição de preço",
avaliou o relator.
Para Guilherme Dias, secretário
de Planejamento, Orçamento e
Gestão do Espírito Santo, " a decisão do Cade é um equívoco e um
desastre". Equívoco porque, segundo ele, "não traz nenhuma
vantagem para o consumidor". E
um desastre porque "a questão
nacional hoje é o investimento
para sustentar o crescimento".
Na sua opinião, ao vetar o negócio, o Cade pôs em risco os empregos dos 3.000 trabalhadores da
Garoto. "Essa foi uma operação
de mercado, feita sem subsídios,
com a Garoto sendo vendida pelo
melhor preço. [A decisão do Cade] é uma decisão desastrada",
afirma.
(JS)
Colaborou Sandra Balbi,
da Reportagem Local
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