São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONCORRÊNCIA

Presidente da empresa diz que "processo ainda não terminou"

Nestlé analisa possibilidade de recorrer da decisão do Cade

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita, disse ontem que a empresa analisará a possibilidade de recorrer da decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Segundo ele, "o processo ainda não terminou".
Surpreendido pela decisão do conselho, o executivo afirmou que o resultado do julgamento não o deixará "em posição confortável" frente ao grupo Nestlé, embora não deva comprometer as decisões de investimento da multinacional suíça no país.
O presidente do Cade, João Grandino Rodas, explicou que não há possibilidade de recurso no próprio conselho. Uma alternativa seria recorrer à Justiça comum. "Nem sempre as empresas estão dispostas a esperar um caso transitar em julgado. Isso pode levar muito tempo e pode não valer a pena", declarou Rodas.
Ao declarar sua contrariedade com a decisão do Cade, Zurita lembrou que a Nestlé está no Brasil há 82 anos e que a compra da Garoto era a porta de entrada para a multinacional no Estado do Espírito Santo. "Estou chateado e magoado com essa decisão."

Empregados
Para o prefeito de Vila Velha -cidade que sedia a fábrica da Garoto-, Max Filho (PDT), o impedimento da fusão Nestlé/ Garoto foi uma péssima notícia. "O primeiro desastre do ano aconteceu com as enchentes. Mas se trata de algo natural. Agora, o segundo desastre foi a decisão do Cade", declarou Max.
Ele acrescentou que colocar a Garoto à venda novamente levará, mais uma vez, intranqüilidade para os 3.000 trabalhadores da fábrica. Recentemente, a Nestlé havia contratado mais 700 pessoas para trabalhar na produção de ovos de Páscoa.
A Garoto foi fundada em 1929 por Henrich Meyerfreund, mas as gerações seguintes da família travaram uma luta acirrada pelo poder que quase a destruiu. Em 1998, Helmut Meyerfreund, primogênito do fundador, foi afastado do poder -após 25 anos de gestão- pelos sobrinhos Paulo e Ricardo, que se aliaram aos demais herdeiros.
A disputa pelo controle prosseguiu e Helmut, que detinha 40% do capital votante, chegou a unir-se aos operários, durante uma greve, contra os sobrinhos.
Nos três anos em que a família disputou o controle da Garoto, a empresa acumulou prejuízos. "Há dois anos, a Garoto quase fechou. A Nestlé pôs a empresa de pé", diz Max Filho. Segundo ele, hoje a Garoto é responsável pela maior arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em Vila Velha.
O relator do caso no Cade, conselheiro Thompson Andrade, disse ter conhecimento de outras empresas interessadas na Garoto.
Ele afirmou que isso foi levado em conta no julgamento do processo. O conselheiro destacou que, caso fosse aprovada a operação com a Nestlé, o mercado de chocolates no Brasil passaria a ter um "duopólio" composto pela empresa resultante da fusão e pela Kraft Foods (Lacta). "Isso poderia dominar inteiramente o mercado até com possibilidade de decisões conjuntas de definição de preço", avaliou o relator.
Para Guilherme Dias, secretário de Planejamento, Orçamento e Gestão do Espírito Santo, " a decisão do Cade é um equívoco e um desastre". Equívoco porque, segundo ele, "não traz nenhuma vantagem para o consumidor". E um desastre porque "a questão nacional hoje é o investimento para sustentar o crescimento".
Na sua opinião, ao vetar o negócio, o Cade pôs em risco os empregos dos 3.000 trabalhadores da Garoto. "Essa foi uma operação de mercado, feita sem subsídios, com a Garoto sendo vendida pelo melhor preço. [A decisão do Cade] é uma decisão desastrada", afirma. (JS)


Colaborou Sandra Balbi, da Reportagem Local

Texto Anterior: Lei deveria exigir análise prévia, diz Cade
Próximo Texto: País é o 5º produtor de chocolate
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.