São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Resultado é o pior desde maio

Saldo de investimento estrangeiro na Bovespa diminui em janeiro

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bolsa de Valores de São Paulo encerrou janeiro com saldo positivo de R$ 323,5 milhões no fluxo de investimento estrangeiro. A despeito do indicador ainda favorável, o resultado é o pior desde maio do ano passado, quando o saldo ficara negativo em R$ 148,8 milhões.
Segundo dados da Bovespa, as ordens de compra de ações por parte dos estrangeiros no mês passado somaram R$ 7,883 bilhões, enquanto as de vendas totalizaram R$ 7,560 bilhões -os dois volumes são os maiores registrados pelo menos desde janeiro de 2003.
A comparação com dezembro explicita o tamanho no tombo: naquele mês, embora o volume movimentado tenha sido menor, os estrangeiros deixaram a mais na Bolsa R$ 1,282 bilhão.
Outro aspecto: até o dia 9 de janeiro, a conta de movimentação estrangeira estava positiva em R$ 767 milhões. No dia 20, o saldo recuara para R$ 527 milhões. Ou seja, em 22 dias (entre 9 e 31 de janeiro), os estrangeiros retiram da Bovespa R$ 443,5 milhões.
João Luiz Mascolo, da Foresee Asset Management e professor do Ibmec, aponta fatores determinantes para esse recuo dos investidores: os ruídos provocados por declarações do presidente Lula e do ministro José Dirceu sobre a independência do Banco Central (nos dois casos, interpretados pelo mercado como sinal de que o governo não pretende avançar neste ano no processo de independência do banco) e as dúvidas sobre como o BC vai equacionar a política de recomposição de reservas com a emissão (e aumento) de dívida pública.
A isso somaram-se a manutenção dos juros em 16,5% no Brasil (o que estimula investidores a comprar títulos, e não ativos de renda variável), mais a indicação por parte do Fed (o BC dos EUA) de que pode aumentar os juros antes do que previa o mercado.
Não por acaso, a Bolsa, que chegou a subir 7,5% nos nove primeiros dias de janeiro, caiu 10,5% em apenas três dias (entre 29 e 31), pós-ata do Copom e Fed, para encerrar o mês positiva em 0,78%.
""Em janeiro, o que tivemos foi de um lado os "hedge funds" [fundos especulativos] vendendo. Eles analisam sob a perspectiva do futuro e, nesse ponto, os problemas da agenda de microrreformas, como a independência do BC, pesa. E, de outro, comprando, os fundos de pensão estrangeiros, que se atêm a planilhas que mostram a rentabilidade de quase 100% da Bovespa, em 2003. Isso explica os volumes", diz Mascolo.
Na avaliação de Octávio Vaz, sócio da corretora Questus, o movimento de janeiro demonstra que a maior parte dos investidores "montou suas posições". Em síntese, depois dos volumes recordes de ingressos observados nos últimos meses de 2003, as compras nos próximos meses devem ser mais seletivas. "O que observaremos será uma rotação entre um setor [elétrico, siderúrgico etc.] e outro", diz o analista.
Em janeiro, a participação das pessoas físicas entre os investidores da Bolsa chegou ao maior nível desde 1994. Se naquele ano responderam em média por 9,7% do volume movimentado na Bovespa, no mês passado essa fatia já chegava a 29,4% -em dezembro, estava em 25,6%.
Parte considerável desses investidores foi influenciada pelo fato de que a Bovespa fechou 2003 com alta de 97,3%, enquanto investimentos como os fundos DI tiveram rentabilidade média de 23% no ano.


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