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PROTECIONISMO
Europa infringe normas, diz ministério
Brasil quer recorrer à OMC contra subsídio ao açúcar exportado da UE
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O Brasil quer recorrer à OMC
(Organização Mundial do Comércio) contra as exportações
subsidiadas de açúcar da União
Européia. Pedro de Camargo Neto, secretário da Produção e Comercialização, disse que o Mapa
(Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) encaminhou ao Itamaraty estudos que
apontam irregularidades nas exportações européias do produto.
Camargo Neto diz que os europeus estão em desacordo com as
normas da OMC em dois pontos:
nas exportações do açúcar produzido na própria Europa e na não-inclusão dos subsídios nas exportações do produto das ex-colônias.
Os europeus dividem a produção em três tipos. O açúcar classificado como A é destinado ao
mercado interno. Os preços são
elevados e os produtores têm cotas. O tipo B pode ficar no mercado interno ou ser exportado. Se
exportado, o valor do produto é
subsidiado até atingir os valores
praticados internamente. O produto tipo C é para exportação e é
comercializado a preços de mercado internacional, sem subsídio.
Camargo Neto diz que os europeus colocam o produto tipo C, o
chamado extra-cota, com preços
até abaixo dos de produção no
mercado internacional. Essa perda de receita é compensada pelos
elevados preços dos produtos A e
B.
Camargo Neto diz que esse não
é um subsídio orçamentário, mas
um "subsídio cruzado", ou seja,
que tem origem em um tipo de
política adotada pelo setor.
A segunda infração dos europeus às normas da OMC apontada pelo Mapa é não incluir os subsídios dados às exportações do
açúcar das ex-colônias no total
acertado na Rodada Uruguai.
Com essa prática, os europeus estouram os limites de subsídio.
O grande volume de produto
colocado por eles no mercado internacional distorce os preços e
prejudica os grandes produtores,
como Brasil, Austrália e países da
América Central.
Em um mercado mundial livre,
os europeus não teriam muitas
chances. Os custos de produção
de açúcar nas usinas mais competitivas do Centro-Sul do Brasil são
de apenas US$ 150 por tonelada.
O açúcar produzido no Brasil
vem da cana-de-açúcar. Na Europa, o custo do açúcar de beterraba
chega a US$ 737 por tonelada.
Elisabete Serodio, gerente do
Programa Especial de Exportação
da Camex para Açúcar e Álcool,
diz que a União Européia não está
dentro dos limites de subsídios
estabelecidos na Rodada Uruguai. Os limites máximos são de
1,27 milhão de toneladas e 479,1
milhões.
Ocorre que no acerto feito na
Rodada Uruguai pela UE constava, no pé da página, que os europeus não tinham compromisso
de redução dos subsídios que
concedem às reexportações do
açúcar importado das ex-colônias, como Índia, países africanos, do Caribe e do Pacífico.
A gerente da Camex diz que a
UE está obrigada a importar
anualmente, em condições de
preferência tarifária, pelo menos
5% do volume de açúcar que consome, o que corresponde a 700
mil toneladas. As importações
preferenciais feitas, no entanto,
superam em muito esse valor.
Com isso, aumenta o volume disponível para exportar.
As exportações de açúcar subsidiado pela União Européia podem chegar a 1,6 milhão de toneladas além do volume comprometido na OMC.
A gerente da Camex diz que os
mecanismos da OMC devem esclarecer por que a União Européia
não tem, perante a organização,
compromisso de redução dos
subsídios que concede às reexportações do açúcar das ex-colônias.
A União Européia deve esclarecer, ainda, se o benefício se estende a volumes correspondentes
aos importados do Brasil e de Cuba e aos exportados com fins de
ajuda alimentar.
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