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SOCORRO
Fundo anuncia desembolso de US$ 4,6 bi neste mês e diz desconhecer plano de "enxugar" acordo; reajustes preocupam
FMI libera ajuda ao Brasil e teme inflação
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Com a inflação no posto de
maior preocupação no momento,
o FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou ontem em
Washington a liberação, já neste
mês, de uma parcela de empréstimo de US$ 4,6 bilhões ao Brasil.
O valor compõe o pacote de ajuda ao país de US$ 30 bilhões assinado com o Fundo no segundo
semestre de 2002. O programa
previa um desembolso inicial no
ano passado e quatro parcelas
sendo liberadas neste ano.
Com o dinheiro novo, parte da
segunda revisão do acordo, o Brasil já terá sacado US$ 10,6 bilhões
do total previsto.
Uma nova liberação, de US$ 8,9
bilhões, deve ocorrer em junho.
Thomas Dawson, porta-voz do
FMI, disse ontem que a missão do
Fundo que esteve no Brasil nas últimas semanas "concluiu seus trabalhos com sucesso".
Apesar do discurso, fez uma
ressalva. "Obviamente, temos de
ficar de olho na inflação", disse
Dawson à Folha. Os números
mostram que a inflação acumulada (IPCA) nos últimos 12 meses
encerrados em janeiro é de
14,47%. A taxa prevista para este
ano, dentro da meta ajustada fixada pelo Banco Central, é de 8,5%.
Apesar de a inflação estar em declínio, o ritmo está sendo mais
lento do que se imaginava, na visão de especialistas brasileiros.
"Mas nossa visão é a de que as
autoridades brasileiras estão
comprometidas com medidas
macroeconômicas para solucionar o problema", disse o porta-voz. Para controlar a inflação, o
governo brasileiro vem subindo
os juros -que passaram de 18%
para 26,5% ao ano em cinco meses- e restringindo o crédito.
O Fundo deve avaliar, em reunião do comitê-executivo, novos
limites de tolerância para a inflação, já acertados nas reuniões
com a missão que esteve no Brasil.
Espera-se que, para os 12 meses a
serem encerrados em setembro, o
teto seja superior a 10%. A meta
anterior era 9,5% (e já havia sido
revisada uma vez).
Dawson afirmou, no entanto,
não estar informado sobre a intenção brasileira de "enxugar" o
acordo, fixando apenas critérios
de desempenho (como superávit
primário e inflação) para a economia do país. "Uma vez que já chegamos a uma conclusão em relação ao acordo, acredito que as autoridades brasileiras estejam satisfeitas com ela", disse.
A proposta de "enxugar" os termos do entendimento entre o
Brasil e o Fundo partiu do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e foi reforçada, na semana
passada, pelo secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy.
Levy chegou a dizer que "referências e parâmetros" transformaram o acordo em uma "árvore
de Natal". "Não estou familiarizado com esses comentários", reagiu Dawson.
O assunto, provavelmente, será
discutido pelo comitê-executivo
do FMI antes da liberação dos
US$ 4,6 bilhões neste mês.
A intenção do Brasil é retirar
completamente do acordo e das
negociações com o Fundo alguns
dos chamados "entendimentos
técnicos", como a obrigatoriedade de o governo enviar ao Congresso neste ano proposta de
emenda constitucional para suprir a perda de receita com a
CPMF (o imposto do cheque) a
partir de 2004.
O porta-voz do Fundo elogiou o
fato de o Brasil ter se antecipado e
aumentado de 3,75% do PIB
(Produto Interno Bruto) para
4,25% a meta de superávit primário -economia para pagamento
de juros- para este ano.
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