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São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2003

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"DOUTRINA BUSH"

Representante de Comércio afirma que governo usará "todos os meios" para obter o máximo de benefício

"Vantagem total" na Alca é meta dos EUA

DE WASHINGTON

Os Estados Unidos anunciaram ontem novos aspectos da chamada "doutrina Bush" para o mundo. O novo capítulo coloca o Brasil em uma situação de coadjuvante nas negociações para a formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), na qual os americanos prometem usar "todos os meios" para obter vantagens.
Em mensagem enviada ao Congresso, o representante de Comércio dos EUA, Robert Zoellick, afirmou que o presidente George W. Bush está "restaurando a liderança americana na área de comércio e fará pressões agressivas para assegurar os benefícios da abertura comercial para famílias, fazendeiros, empresas, operários e consumidores" de seu país.
Zoellick afirma que Bush "restabeleceu a liderança comercial dos Estados Unidos em todo o planeta e atuará de forma ativa para expandir a liberalização da economia no mundo".
A mensagem do secretário destaca ainda a "liderança" norte-americana na criação da Alca (área que abrangerá os 34 países americanos, menos Cuba). E promete "usar de todos os meios legais e necessários", nas várias organizações de comércio, para "conquistar o máximo de vantagens para os norte-americanos". "Vamos forçar e monitorar o que for possível."
No documento encaminhado ao Congresso, onde é apresentada a agenda comercial para 2003 e as "conquistas" realizadas em 2002, Zoellick afirma, em relação à Alca, que os EUA estão "exercendo pressões" para realizar o "cumprimento de uma visão norte-americana que data do século 19".
Apesar da retórica positiva, o volume de comércio realizado pelos EUA em 2002 caiu 4% em relação ao ano anterior, para US$ 2,9 trilhões. Foi a segunda queda consecutiva, depois de um tombo de quase 9% em 2001.
Em relação à Alca, a primeira proposta norte-americana foi vista com grandes reservas pelas autoridades brasileiras. Limitou-se a propor a redução de vários tipos de tarifas, mas retirou da mesa de negociações o que mais interessava ao Brasil.
As barreiras não-tarifárias (subsídios a produtores norte-americanos, cotas, acusações de dumping, entre outros) continuam sendo os maiores obstáculos à entrada de produtos brasileiros nos Estados Unidos.
No cronograma de redução de tarifas agrícolas para a Alca, produtos que interessam ao Brasil, como suco de laranja e açúcar, só teriam suas tarifas eliminadas em uma década. Daí a rejeição brasileira a grande parte da oferta americana. A proposta americana foi vista como uma tentativa de enfraquecer a posição dos países fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), que decidiram negociar em bloco sua participação na Alca.
O Brasil compra hoje 24% (ou US$ 12,4 bilhões ao ano) de todos os produtos exportados pelos Estados Unidos para a América Latina e Caribe -com exceção do México. (FERNANDO CANZIAN)


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