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"DOUTRINA BUSH"
Representante de Comércio afirma que governo usará "todos os meios" para obter o máximo de benefício
"Vantagem total" na Alca é meta dos EUA
DE WASHINGTON
Os Estados Unidos anunciaram
ontem novos aspectos da chamada "doutrina Bush" para o mundo. O novo capítulo coloca o Brasil em uma situação de coadjuvante nas negociações para a formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), na qual os
americanos prometem usar "todos os meios" para obter vantagens.
Em mensagem enviada ao Congresso, o representante de Comércio dos EUA, Robert Zoellick,
afirmou que o presidente George
W. Bush está "restaurando a liderança americana na área de comércio e fará pressões agressivas
para assegurar os benefícios da
abertura comercial para famílias,
fazendeiros, empresas, operários
e consumidores" de seu país.
Zoellick afirma que Bush "restabeleceu a liderança comercial dos
Estados Unidos em todo o planeta
e atuará de forma ativa para expandir a liberalização da economia no mundo".
A mensagem do secretário destaca ainda a "liderança" norte-americana na criação da Alca
(área que abrangerá os 34 países
americanos, menos Cuba). E promete "usar de todos os meios legais e necessários", nas várias organizações de comércio, para
"conquistar o máximo de vantagens para os norte-americanos".
"Vamos forçar e monitorar o que
for possível."
No documento encaminhado
ao Congresso, onde é apresentada
a agenda comercial para 2003 e as
"conquistas" realizadas em 2002,
Zoellick afirma, em relação à Alca,
que os EUA estão "exercendo
pressões" para realizar o "cumprimento de uma visão norte-americana que data do século 19".
Apesar da retórica positiva, o
volume de comércio realizado pelos EUA em 2002 caiu 4% em relação ao ano anterior, para US$ 2,9
trilhões. Foi a segunda queda consecutiva, depois de um tombo de
quase 9% em 2001.
Em relação à Alca, a primeira
proposta norte-americana foi vista com grandes reservas pelas autoridades brasileiras. Limitou-se a
propor a redução de vários tipos
de tarifas, mas retirou da mesa de
negociações o que mais interessava ao Brasil.
As barreiras não-tarifárias (subsídios a produtores norte-americanos, cotas, acusações de dumping, entre outros) continuam
sendo os maiores obstáculos à entrada de produtos brasileiros nos
Estados Unidos.
No cronograma de redução de
tarifas agrícolas para a Alca, produtos que interessam ao Brasil,
como suco de laranja e açúcar, só
teriam suas tarifas eliminadas em
uma década. Daí a rejeição brasileira a grande parte da oferta americana. A proposta americana foi
vista como uma tentativa de enfraquecer a posição dos países
fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai),
que decidiram negociar em bloco
sua participação na Alca.
O Brasil compra hoje 24% (ou
US$ 12,4 bilhões ao ano) de todos
os produtos exportados pelos Estados Unidos para a América Latina e Caribe -com exceção do
México.
(FERNANDO CANZIAN)
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