São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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NOVO COMANDO

Ao sair, nš 1 do Fundo recomenda mudança no superávit do Brasil

Köhler deixa FMI para ser presidente da Alemanha

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O alemão Horst Köhler, 61, renunciou ontem ao cargo de diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional) para assumir a Presidência da Alemanha. Köhler foi convidado para a função pelos partidos de oposição alemães que controlam a assembléia especial que vai eleger o novo presidente, em 23 de maio.
Como chefe de Estado alemão, Köhler terá poderes reduzidos, já que o país é comandado na prática pelo primeiro-ministro (chanceler), Gerhard Schröder.
Ao aceitar o convite, Köhler cumpriu a diretriz do Fundo de renunciar imediatamente. A número dois do FMI, Anne Krueger, já assumiu a função, interinamente, até a escolha do novo diretor.
Historicamente, o Fundo vem sendo dirigido por um europeu desde 1945, quando foi criado, e sua instituição irmã, o Banco Mundial, por um norte-americano (James Wolfensohn, hoje).
"Deixo o cargo com um sorriso nos lábios e um olho em lágrimas. Saio com um certo orgulho pelo fato de o Fundo ter, durante minha gestão, consolidado um processo de abertura para ouvir mais e aprender com seus erros", afirmou, em entrevista coletiva.
Köhler disse ter recomendado, antes de partir, que o FMI leve adiante a mudança das regras para o cálculo do superávit primário do Brasil, considerando a necessidade do país de investir na área de infra-estrutura.
"Devemos reconhecer que existem novas lideranças em países emergentes, como Lula no Brasil, que não precisam ouvir o que é preciso fazer", disse Köhler, que acabara de voltar do Brasil para encontro de dois dias com Luiz Inácio Lula da Silva.
"Temos de oferecer os mecanismos que essas lideranças e a América Latina precisam para ampliar investimentos em infra-estrutura e alcançar um crescimento sustentado. Fiz de tudo para que essa discussão continue e tenha um resultado até o meio do ano."
Em 2002, durante a gestão de Köhler, foi concedido ao Brasil o maior pacote de ajuda da história do Fundo, de US$ 30 bilhões.
Köhler assumiu o cargo de diretor-gerente do Fundo em 2000 após uma prolongada disputa em que os EUA rejeitaram o primeiro nome indicado, o do alemão nascido no Brasil Caio Koch-Weser, vice-ministro das Finanças da Alemanha. O pior momento de seu mandato ocorreu no final de 2002, quando a Argentina decretou a maior moratória da história.
Criticado por não prever ou evitar crises, o FMI de Köhler priorizou a busca de mecanismos para conter crises internacionais.
Entre os nomes citados para seu cargo apareceram ontem o do francês Jean Lemierre, presidente do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, e o do britânico Andrew Crockett, ex-presidente do BIS (Banco de Compensações Internacionais).


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