São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Operação envolvendo 180 policiais em seis Estados detém acusados de corrupção, sonegação e lavagem de dinheiro

PF prende 15 ligados ao setor de combustíveis

Roberto Joia/"O Diário"
PF conduz o empresário Antonio Carlos Chebabe em Campos (RJ)


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após seis meses de investigações, a Polícia Federal (PF) prendeu 15 acusados de integrar suposta organização criminosa do setor de distribuição de combustíveis. Foram detidos policiais e fiscais de órgãos públicos.
Com um lucro mensal estimado em R$ 3,6 milhões por mês, o grupo, que tinha ramificações em ao menos três Estados (Rio, Bahia e Espírito Santo), movimentaria cerca de 30 milhões de metros cúbicos de combustível por mês, suficiente para abastecer 230 postos.
A operação, comandada pela superintendência do Rio de Janeiro, foi batizada de 1203, número utilizado pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) para carregamentos de gasolina, e mobilizou 180 policiais federais, em seis Estados (RJ, SP, MG, ES, BA e MS).
"Foi desbaratada e desmontada uma das maiores organizações criminosas que atuavam nesse setor", diz o delegado da Polícia Federal Reinaldo de Almeida Cesar.
De acordo com ele, os presos podem ser enquadrados nos crimes de sonegação fiscal, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Prisões
Um dos detidos é o fiscal da ANP no Rio Carlos Alberto Halsemann. Diferentemente do habitual, a ANP não participou das diligências, que, em geral, reúnem também PF e Receita Federal.
Com Halsemann, foi preso Antonio Carlos Chebabe, dono da distribuidora Chebabe e ligado à distribuidora Ubinan. Ele é considerado pela PF um dos maiores líderes da suposta "máfia dos combustíveis" e o líder do grupo.
Segundo a Folha apurou, Chebabe foi associado da BR até o final da década passada, transportando produtos para a distribuidora estatal. Suas empresas já operaram com liminares para não recolher ICMS nas transações interestaduais. A Chebabe tem registro para operar desde 94 e chegou a ser interditada em 99.
Além do fiscal da ANP, foram detidos o fiscal da Receita do Rio Jorge Sebastião Monteiro e dois agentes da Polícia Rodoviária Federal: Antonio Cesar Leite Gondin e José Olvafo de Oliveira Pinto. Também foram presos a filha de Chebabe, Elisa Chebabe de Azevedo, e o genro dele, Djanir Soares de Azevedo.
No apartamento de Azevedo, foram encontrados um revólver 38 e uma pistola 765. No de Chebabe, R$ 4.000, US$ 5.000 e vários documentos.
Segundo o delegado da PF, o grupo remetia dinheiro ao exterior por meio do banco Safra. Uma funcionária do banco, que atuava tanto em São Paulo como em Nova York, cujo nome não foi revelado, seria a responsável pela movimentação dos recursos. Um extrato do banco foi encontrado na casa de Chebabe.
O banco Safra informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a PF recebeu toda a documentação solicitada e que não tem autorização para divulgar detalhes da investigação.
De acordo com a assessoria, os policiais procuravam uma suposta funcionária de São Paulo. Mas, após revistarem os crachás de todos os funcionários que entraram no prédio, verificaram que não existia funcionária com o nome fornecido à Polícia Federal.
O delegado Cesar afirmou ainda que Chebabe era o "cabeça" da organização, que "tinha ramificações no setor público". Questionado se há indício da participação de políticos, ele disse que ainda não havia detectado isso, mas que é uma das linhas de investigação.
Um dos modos de agir do grupo, diz a PF, era burlar o fisco para pagar menos imposto. Era simulada uma venda de combustível para o Espírito Santo, onde o ICMS é de 7%. O produto, porém, era levado, na verdade, para São Paulo. Lá, o ICMS é maior: 18%.
A operação que resultou nas prisões teve a participação do Ministério Público Federal e foi a primeira do programa Missão Suporte, equipe de inteligência da PF criada pelo ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça).

Outro lado
Procurados na sede da Chebabe e na casa de Chebabe, os advogados da empresa não foram localizados, assim como os advogados dos demais presos na operação da Polícia Federal.

Colaboraram a Reportagem Local, a Sucursal de Brasília e o "Agora"


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