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LUÍS NASSIF
As certezas do caso AmBev
Há certezas e dúvidas sobre o episódio AmBev-Interbrew. A certeza é que, de fato,
foi uma venda, não uma fusão.
Houve troca de ações entre os
sócios controladores da AmBev
e a Interbrew. Criou-se um notável sofisma de que foi fusão
porque o conselho da Interbrew
terá 50% de sócios brasileiros.
Parem com isso! Consumada
a operação, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e
Marcel Telles serão sócios da Interbrew. Sua lógica de homens
de negócio será a que for melhor
para a Interbrew. O que define a
lógica financeira da empresa é a
lógica dos seus controladores,
não sua nacionalidade.
A AmBev poderá ser prejudicada ou até beneficiada por planos conduzidos a partir da matriz. Mas não caberá a ela definir a estratégia. Se amanhã for
do interesse da Interbrew reduzir as exportações da AmBev,
nada poderá ser feito, mesmo o
país precisando de exportações,
por exemplo.
Marcel Telles, um dos sócios
da Braco (a holding que junta
as ações dos três), sustenta que a
gestão da AmBev continuará
compartilhada entre a Fundação Antonio e Helena Zerrenner, os três conselheiros atuais
(que trocam o chapéu da Braco
pelo da Interbrew) e um da Interbrew. É sabido que a participação da Fundação na AmBev é
meramente figurativa. E na próxima reunião do conselho o trio
assumirá suas funções com o
chapéu da Interbrew.
As suspeitas que corriam no
mercado ontem acabaram confirmadas pela edição de hoje do
"Wall Street Journal". Uma das
informações do jornal é que o
prêmio de controle pago pela Interbrew à Braco foi de 100% sobre o valor das ADRs da AmBev
na Bolsa de Nova York. Em geral, prêmios de controle ficam
na faixa dos 20% a 30% acima
das cotações das demais ações.
A segunda informação é a de
que a AmBev pode estar pagando pela Labatt (a cervejaria controlada pela Interbrew que, na
operação, passará para a AmBev) cerca de 1 bilhão a mais
do que a participação da Interbrew nas companhias que têm
participação da Labatt.
Se confirmados esses dados,
as suspeitas sobre o negócio são
da seguinte ordem:
1) a troca de ações teria visado mascarar a aquisição da
AmBev pela Interbrew, para
driblar o acordo firmado com o
Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), na
época da aquisição da Antarctica, de que os ativos não seriam vendidos pelo prazo de pelo menos dez anos. Mas é evidente que a venda atropelou esse acordo -essa é a razão para
a interferência do órgão, não
eventuais danos ao direito econômico;
2) o prêmio de controle pago à
Braco pode ter saído do bolso
dos acionistas minoritários da
AmBev, por meio do suposto sobrepreço que pagarão pela
compra da Labatt. Não haverá
como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) deixar de se
pronunciar sobre o episódio;
3) os argumentos dos controladores da Fundação Antonio e
Helena Zerrenner para o fato
de não terem vendido também
sua participação para a Interbrew ainda são vistos com desconfiança. Recebi correspondência da Fundação esclarecendo que perderia a imunidade tributária se aplicasse em
ativos estrangeiros, além de a
Interbrew não garantir dividendos mínimos. Essas teriam
sido as duas razões para não
aderir ao acordo. Embora, se
aderisse, o inviabilizaria, por
expor de maneira explícita sua
natureza: a venda do controle
da AmBev.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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