São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Analista vê perdas para minoritário

DA REPORTAGEM LOCAL

Os acionistas minoritários podem sofrer perdas com a troca de ações promovida entre a AmBev e a Interbrew, que resultou na transferência do controle acionário da companhia de bebidas brasileiras para a cervejaria belga.
Pela transação anunciada anteontem, os sócios da Braco, a holding dos empresários Jorge Paulo Lemann, Alberto Sicupira e Marcel Telles, que controlava a AmBev, transferem para a Interbrew suas ações ordinárias, que representam 52,8% do capital votante da AmBev. Em troca, os brasileiros recebem participação referente a 25% do capital votante da Interbrew. Na segunda operação, a AmBev emitirá ações ordinárias e preferenciais para a Interbrew para ter o controle de 100% da canadense Labatt, mais 70% da Labatt USA e 30% da Femsa.
"O argumento pró-emissão é que aquela pessoa que antes participava de uma empresa com penetração na América Latina agora terá ações de uma empresa muito maior, com a aquisição da Labatt pela AmBev", diz Gregório Mancebo, da corretora Socopa e vice-presidente da Animec (Associação Nacional dos Investidores do Mercado de Capitais). Mas o executivo apresenta pelo menos uma questão: "Será que o preço pago por essa aquisição é conveniente com a geração futura de caixa da Labatt, de forma que não prejudique os investidores?".
A direção da AmBev, em contato com a Folha anteontem, sustentou que a operação de troca não será prejudicial aos acionistas minoritários. "Tanto que o corpo de executivos da AmBev tem ações preferenciais. A operação vai beneficiar a todos, inclusive os minoritários", disse Carlos Brito, principal executivo da AmBev.
Na avaliação do analista Fábio Zagatti, do HSBC, o prêmio pago pela AmBev (na emissão de ações) para a aquisição da Labatt e da Femsa foi "excessivamente alto". Pelas contas de Zagatti, a emissão de papéis (9,5 bilhões de ações ON e 13,5 bilhões de ações PN) alcança o equivalente a R$ 20 bilhões. Isso significa que a AmBev estaria pagando por Labatt e Femsa o equivalente a R$ 800 por mil hectolitros (cada hectolitro equivale a cem litros), enquanto o da AmBev equivale a R$ 320 por mil hectolitros (de todos os produtos, não apenas a cerveja). ""É caro, mesmo se considerarmos as diferenças entre os mercados."
O analista Basílio Ramalho, do Unibanco, afirma que para os acionistas minoritários a perspectiva de longo prazo tende a ""ser positiva". A operação que resultou na incorporação da Labatt resultará, em princípio, em perda de 10% de Ebitda (a geração de caixa operacional). ""Essa perda poderá ser minimizada para 4% com ganhos de sinergia e mesmo eliminada", diz. (JOSÉ ALAN DIAS)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Rótulo da Schin vai trazer slogan "100% Brasil"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.